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O nosso Deng Xiaoping
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O nosso Deng Xiaoping
Tenho um amigo em Macau que se costumava irritar solenemente quando alguém lhe colocava pela frente as opções como uma questão de sim ou não, de Céu ou Inferno. "Porque é que vocês têm sempre a mania de que as coisas ou são preto ou são branco? Não conhecem o cinzento?".
Lembrei-me várias vezes dessa sua irritação quando, nos alvores da atual situação governativa, as posições se dividiam muitas vezes entre o "vem aí radicalismo" de Esquerda ou o decretar taxativo que, com a atual maioria, tinha terminado a austeridade. Um pouco de ponderação oriental não nos fazia mal.
Foi lá pelas bandas do Oriente que um dia Deng Xiaoping gizou o seu equilíbrio entre a liberalização económica e um Estado comunista e por cá, à sua maneira, António Costa vai ensaiando a sua "terceira via", entre a austeridade que vigorou nos últimos quatro anos e que a Europa quer impor e uma política que, nas palavras do líder da CGTP, mas que poderiam ser entoadas pelos partidos à Esquerda do PS, não pode "assentar na obsessão de redução do défice" à custa dos trabalhadores e serviços públicos e no corte na "despesa social".
Não é um caminho fácil e os espectadores atentos vão procurando na linha em que o equilibrista avança o nó que pode redundar na queda. Já se disse que seria com a aprovação do primeiro Orçamento do Estado e ele passou, que seria no Programa Nacional de Reformas e ele está a passar, ou que será com o Programa de Estabilidade e, ao que tudo indica, ele também irá ser ultrapassado.
Para o ajudar tem um presidente da República que ou aparece a dar a deixa ao Governo ou a completar-lhe as frases e uma Oposição à Direita que ainda aparece abúlica, mal refeita de ter deixado um Mundo a preto e branco para entrar numa realidade cheia de matizes. Uma Europa mais empenhada na crise dos refugiados ou no "Brexit" também é um auxílio precioso.
É evidente que esta política de compromisso é feita de soluções de alcance limitado, o que restringe imenso algum ensejo reformista que os socialistas pudessem ter e que o país necessita de forma aguda, se quer ter perspetivas de futuro. É que a prazo, no caminho de todos nós, estão os resultados económicos que irão permitir aferir do sucesso deste percurso.
Mas até lá, continuaremos a ser surpreendidos por um primeiro-ministro capaz de se dar bem com Deus e com o Diabo e que, havendo alguém encarregado de tomar conta do Purgatório, é capaz de passar por lá para tomar café.
DAVID PONTES, SUBDIRETOR
22 Abril 2016 às 00:10
Jornal de Notícias
Lembrei-me várias vezes dessa sua irritação quando, nos alvores da atual situação governativa, as posições se dividiam muitas vezes entre o "vem aí radicalismo" de Esquerda ou o decretar taxativo que, com a atual maioria, tinha terminado a austeridade. Um pouco de ponderação oriental não nos fazia mal.
Foi lá pelas bandas do Oriente que um dia Deng Xiaoping gizou o seu equilíbrio entre a liberalização económica e um Estado comunista e por cá, à sua maneira, António Costa vai ensaiando a sua "terceira via", entre a austeridade que vigorou nos últimos quatro anos e que a Europa quer impor e uma política que, nas palavras do líder da CGTP, mas que poderiam ser entoadas pelos partidos à Esquerda do PS, não pode "assentar na obsessão de redução do défice" à custa dos trabalhadores e serviços públicos e no corte na "despesa social".
Não é um caminho fácil e os espectadores atentos vão procurando na linha em que o equilibrista avança o nó que pode redundar na queda. Já se disse que seria com a aprovação do primeiro Orçamento do Estado e ele passou, que seria no Programa Nacional de Reformas e ele está a passar, ou que será com o Programa de Estabilidade e, ao que tudo indica, ele também irá ser ultrapassado.
Para o ajudar tem um presidente da República que ou aparece a dar a deixa ao Governo ou a completar-lhe as frases e uma Oposição à Direita que ainda aparece abúlica, mal refeita de ter deixado um Mundo a preto e branco para entrar numa realidade cheia de matizes. Uma Europa mais empenhada na crise dos refugiados ou no "Brexit" também é um auxílio precioso.
É evidente que esta política de compromisso é feita de soluções de alcance limitado, o que restringe imenso algum ensejo reformista que os socialistas pudessem ter e que o país necessita de forma aguda, se quer ter perspetivas de futuro. É que a prazo, no caminho de todos nós, estão os resultados económicos que irão permitir aferir do sucesso deste percurso.
Mas até lá, continuaremos a ser surpreendidos por um primeiro-ministro capaz de se dar bem com Deus e com o Diabo e que, havendo alguém encarregado de tomar conta do Purgatório, é capaz de passar por lá para tomar café.
DAVID PONTES, SUBDIRETOR
22 Abril 2016 às 00:10
Jornal de Notícias
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