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Mensagem por Admin Seg maio 02, 2016 10:29 am

O PIB europeu ultrapassou o seu nível pré-crise de 2008, embora com meia década de atraso sobre os EUA, e pela primeira vez desde 2011 com a zona euro a crescer mais que a União.

No seu “Menos que Zero” Bret Easton Ellis pergunta “onde vamos?”, ao que lhe respondem “just driving”. A economia mundial parece estar assim, sem rei nem roque. Em Abril, no mesmo momento em que a economia americana abranda e surgem novas dúvidas sobre a robustez do seu crescimento, a Europa regista o seu mais rápido crescimento em mais de um ano e mostra uma melhoria na generalidade dos indicadores económicos. Com efeito, o crescimento no primeiro trimestre foi de 0,6%, ou 2,2% anualizados, o dobro do trimestre anterior, acima dos 0,4% do Reino Unido e dos 0,5% dos EUA. Mas também a taxa de desemprego caiu para 10,2% na zona euro, uma queda de um ponto num ano, e o número de desempregados diminuiu em 25 dos 28 estados membros. O PIB europeu ultrapassou assim o seu nível pré-crise de 2008 (só em 2009 caiu 4,5%), embora com meia década de atraso sobre os EUA, e pela primeira vez desde 2011 com a zona euro a crescer mais que a União.

Este desempenho deveu-se particularmente a França e Espanha, países onde no trimestre o produto cresceu respetivamente 0,5% e 0,8% (em Espanha, pelo terceiro trimestre). O motor do crescimento em França foi o consumo privado, que registou o seu maior crescimento trimestral desde 2004, mas o investimento teve o seu mais forte aumento em cinco anos (0,9%) e o desemprego a maior queda mensal em 15. Também a Alemanha teve um crescimento trimestral de 6% e está atualmente em virtual pleno emprego, tal como a República Checa. Em contrapartida, nos EUA perde-se dinamismo devido às dificuldades em exportar, ao abrandamento do consumo e às dificuldades do setor energético, em ajustamento à queda do preço do petróleo. Mas as dúvidas resultam sobretudo do crescimento dos salários não estar a acelerar.

Há, claro, riscos no horizonte. Os EUA estimam que as políticas monetárias europeias e japonesas colocam em risco a economia mundial, e ameaçam com medidas punitivas. O Tesouro americano, no seu relatório ao Congresso, acusa China, Japão, Coreia, Taiwan e Alemanha de não estarem a estimular o consumo e a tirarem partido da desvalorização das suas moedas – o dólar valorizou 20% sobre um cabaz de outras moedas em dois anos. Os americanos começaram a aplicar uma nova metodologia para determinar se há práticas desleais dos seus competidores para obterem uma vantagem competitiva, a partir de três indicadores: trocas comerciais bilaterais, intervenção cambial e saldo das transações correntes; ora, todos estes cinco países violam dois dos três critérios, pelo que estão à beira de ser acusados de proteccionismo e de o Congresso decidir tomar medidas de retaliação. Ou seja, eventuais tensões pela frente.

Mas há acima de tudo incertezas políticas: o Brexit a mês e meio de distância, e que apenas é o primeiro (excluindo as eleições em Espanha), pois daqui a um ano teremos eleições em França. Hollande é o presidente com pior imagem de todos os tempos (87% dos franceses desaprovam a sua actuação e 74% não querem que se recandidate) e, segundo as sondagens, a segunda volta disputar-se-ia entre Marine Le Pen e Sarkozy ou Jupé. Dizer que as incertezas são muitas é um eufemismo. É caso para responder ao “como se vai comportar a economia europeia no próximo ano e meio?” da mesma forma que J. P. Morgan ao “what the stock market will do?”: “it will fluctuate!”.

O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.

00:05 h
Fernando Pacheco, Economista
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