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O fim das voltas do Marão
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O fim das voltas do Marão
Amanhã, cai o Marão. Inaugura-se o túnel do dito e com ele Trás-os-Montes fica mais plano, as gentes de Vila Real, Bragança e do Alto Douro ficam menos atrás dos montes e mais perto do litoral. E o litoral mais perto deles. Prometido há dez anos, com sete anos de obras, quatro de paralisia, corta-se enfim a fita da obra de engenharia que ostentará impante o título de "túnel mais comprido da Península Ibérica" e reduz-se a curiosidade arqueológica a expressão "voltas do Marão".
Este estreitar do país poderia ser saudado como um passo importante para o cair das barreiras que fazem da interioridade um anátema. No entanto, só o mais esperançado poderá achar que este fechar do ciclo das infraestruturas rodoviárias fará alguma diferença significativa na sangria de gente e de energia que tem castigado a parte de "dentro" de Portugal.
Só não vê quem não quer perceber que outras tentativas de políticas públicas tiveram pouca ou nenhuma influência para inverter o inevitável. Recordemos os investimentos em parques industriais que iam captar, com incentivos autárquicos, as empresas capazes de contrariar a lógica de empobrecimento, e seremos levados a passear por talhões vazios onde cresce a erva. Lembremos as políticas de natalidade e fiquemo-nos pelo silêncio das aldeias onde já não é possível ver uma criança a correr.
Entre 2001 e 2011, o distrito de Vila Real perdeu cerca de 16 500 habitantes. Em 2011, viviam lá 207 184 pessoas. Durante o mesmo período, o distrito de Bragança perdeu mais de 12 mil habitantes. Em 2011, viviam lá 136 459 pessoas.
Aquilo que se pede, perante a dureza dos números, é que os políticos abandonem a demagogia fácil do "agora vamos desenvolver o interior", que de nada serve para encarar com realismo o desafio que continua a representar dar dignidade e viabilidade às populações do interior. A atração das pessoas pelos polos urbanos é uma tendência mundial e não serão mais uns quilómetros de alcatrão que irão mudar a vontade das pessoas de viverem em cidades.
Se políticos nacionais e regionais deixarem os discursos miríficos, talvez sejam capazes de encarar com mais solidez a necessidade de concentrar populações para lhes dar qualidade de vida, de trabalhar uma agricultura onde cada vez são necessárias menos pessoas, de erigir um turismo sustentável, de olhar mais para Espanha como parceiro, de deixar cair as "capelinhas" locais e os sonhos de um interior que nunca existiu a não ser em discursos.
*SUBDIRETOR
DAVID PONTES*
06 Maio 2016 às 00:13
Jornal de Notícias
Este estreitar do país poderia ser saudado como um passo importante para o cair das barreiras que fazem da interioridade um anátema. No entanto, só o mais esperançado poderá achar que este fechar do ciclo das infraestruturas rodoviárias fará alguma diferença significativa na sangria de gente e de energia que tem castigado a parte de "dentro" de Portugal.
Só não vê quem não quer perceber que outras tentativas de políticas públicas tiveram pouca ou nenhuma influência para inverter o inevitável. Recordemos os investimentos em parques industriais que iam captar, com incentivos autárquicos, as empresas capazes de contrariar a lógica de empobrecimento, e seremos levados a passear por talhões vazios onde cresce a erva. Lembremos as políticas de natalidade e fiquemo-nos pelo silêncio das aldeias onde já não é possível ver uma criança a correr.
Entre 2001 e 2011, o distrito de Vila Real perdeu cerca de 16 500 habitantes. Em 2011, viviam lá 207 184 pessoas. Durante o mesmo período, o distrito de Bragança perdeu mais de 12 mil habitantes. Em 2011, viviam lá 136 459 pessoas.
Aquilo que se pede, perante a dureza dos números, é que os políticos abandonem a demagogia fácil do "agora vamos desenvolver o interior", que de nada serve para encarar com realismo o desafio que continua a representar dar dignidade e viabilidade às populações do interior. A atração das pessoas pelos polos urbanos é uma tendência mundial e não serão mais uns quilómetros de alcatrão que irão mudar a vontade das pessoas de viverem em cidades.
Se políticos nacionais e regionais deixarem os discursos miríficos, talvez sejam capazes de encarar com mais solidez a necessidade de concentrar populações para lhes dar qualidade de vida, de trabalhar uma agricultura onde cada vez são necessárias menos pessoas, de erigir um turismo sustentável, de olhar mais para Espanha como parceiro, de deixar cair as "capelinhas" locais e os sonhos de um interior que nunca existiu a não ser em discursos.
*SUBDIRETOR
DAVID PONTES*
06 Maio 2016 às 00:13
Jornal de Notícias
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