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Os prismas do caleidoscópio
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Os prismas do caleidoscópio
É preciso não cair na armadilha de despolitizarmos as escritas e as leituras todas destes novos tempos
1
O meu filho Pablo é um dos 175 mil estudantes (do 2.º, 5.º e 8.º ano) que fazem a prova de aferição de Português e, na quarta-feira, respondem à de Matemática. Explicou-me o meu filho, logo cedo à hora do pequeno-almoço, que estas provas padronizadas não contam para a nota, nem determinam, em seu caso, quem transitaria para o 9º ano. Entretanto, pelo que sei, as mesmas permitem às famílias – como às escolas e ao sistema educativo – inferir o nível de aprendizagem dos educandos.
2.
Ontem, durante o almoço em casa dos amigos Carla e Carlos, falou-se de muita coisa. A começar pelo camarão ao caril tailandês e o arroz de coco (um reconfortante entre doce, salgado, amargo, picante e aromático). As novas edições e reedições, algumas já estampadas na Feira do Livro de Lisboa. As histórias das matanças de porco, com os seus rituais, no Alentejo, no Ribatejo e em Cabo Verde. Os textos sobre o “Dialectos crioulos-portugueses. Apontamentos para a gramática do crioulo que se fala na ilha de Santiago de Cabo Verde” (7ª série, nº 10, 1887), assinado por A. De Paula Brito e publicado pelo Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa. Falou-se do rosé, melhor que há para não descaracterizar o gosto do caril e do tinto, que nem luva, para ativar o amanteigado do Queijo da Serra.
3.
Às tantas, a conversa derivou-se para o referendo na Suíça, onde foi rotundo o não à proposta do Rendimento Base Incondicional (RBI), uma pérola que atribuiria 2.247 euros para todos os adultos e 561 euros para todas as crianças e adolescentes, sob alegação de que seria demasiado dispendiosa para os cofres públicos. Outras tantas, quis falar sobre os novos conceitos sobre o valor do trabalho, o soft-power e a economia colaborativa, já vaticinada por Jeremy Rifkin, como “Sociedade com Custo Marginal Zero”. Divagações sobre as hipóteses, hoje cada vez mais plausíveis, de sermos “prosumidores” - produtores e consumidores, ao mesmo tempo. Enfim, tertúlia em torno da mesa.
4.
Raduan Nassar, uma figura meio reclusa e com raras aparições públicas, com apenas três livros publicados – “Lavoura Arcaica” (1975), “Um Copo de Cólera” (1978) e “Menina a Caminho” (1994) - , venceu o Prémio Camões 2016. O júri, primando-se pela extrema qualidade sobre a pouca quantidade, realçou “a extraordinária qualidade da sua linguagem” e a “força poética da sua prosa”. O Prémio, atribuído ao 12.º brasileiro, veio em boa hora, porquanto o Brasil, com a crise económica e o golpismo político, não vive o seu melhor momento, nem aquele do mais elevado prestígio internacional. A propósito, a pacatez de Raduan Nassar, quase a lembrar o eremita que foi o malogrado poeta Manoel de Barros (outro que mereceria Camões, Nobel, o que mais queiram), interrompida por estes dias pela onda com que quase todos os intelectuais brasileiros (e não só) insurgiram contra o “golpe de estado” à Presidente Dilma Rousseff.
5.
Olhando para as coisas, bem como para as causas, invade-me um sentimento gramsciano. Seu ângulo de visão mais complexa para o intelectual. Para coisas que nos confrontam e para as causas que nos afrontam. Contra a visão determinista em todos os tempos e em todas as geografias. A instauração das estruturas e das superestruturas. Deste modo, não será a revolução, pontualizada e datada nos dias vividos, a ser permanente, mas sim a democracia que, para além do arquétipo e da fachada, se requer sempre renovação. Por isso, continua-se a não poder ver para a política com determinismo fechado ou distância higiénica. É preciso não cair na armadilha de despolitizarmos as escritas e as leituras todas destes novos tempos. Nem nos deixarmos levar pela cantilena turvo-democrática, sobretudo quando em deriva histriónica. Impõe-se-nos uma estética de sinal contrário à cartilha dominante.
Filinto Elísio
Diário de Notícias da Madeira
Terça, 7 de Junho de 2016
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