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Mensagem por Admin Qua Jun 08, 2016 10:50 am

A receita austeritária, alicerçada em larga medida num controlo obsessivo do défice público, teve diferentes resultados na Europa. Mas provou, no essencial, que o ajustamento que muitos países tinham de fazer, traduzido em reformas estruturais que ou estruturaram muito pouco ou não estruturaram nada, só os salvou da morte certa porque houve instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) que despejaram uma montanha de dinheiro sobre a equação. Que a urgência de ter capital para funcionar - de que Portugal foi um exemplo paradigmático, e convém ter sempre presente o quão fundo batemos - foi o princípio e o fim dessa estratégia e que, volvidos estes anos, só conseguimos desatar o nó que nos apertava o pescoço. Porque continuamos condenados à forca. Só que mais pobres, mais desunidos e, embora solventes, circunstancialmente entregues aos caprichos de uma economia anémica. A culpa é nossa? É da conjuntura? A culpa pode ser do remédio.

Desde 2008 que o FMI tem vindo a expiar alguns dos demónios internos, na lógica do "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço". Ora interpretando o polícia bom, ora alimentando a dúvida, em declarações que se multiplicam mais depressa do que as más notícias nos mercados financeiros. Há dias, num surpreendente artigo publicado no jornal "Financial Times", três distintos economistas do Fundo deitaram o sistema no divã, naquela que muitos estão a qualificar como a certidão de óbito oficiosa do neoliberalismo, motor ideológico que alimentou as opções económicas que nos mudaram a vida.

O contexto: a agenda neoliberal estava confinada a dois objetivos - remover as restrições ao movimento de capitais entre países; e garantir uma consolidação fiscal a todo o custo (a mal-amada austeridade), no intuito de fazer baixar o défice e a dívida. Ora, para países do Sul como Portugal, não havia escapatória: como os mercados fecharam a torneira, só restavam os impostos. Este, concluem os técnicos do FMI, terá sido um dos erros crassos da dita agenda. O princípio cego não podia ter sido aplicado de igual forma em países com realidades tão díspares.

Basta pensarmos no que é hoje a Europa para se perceber a importância desta catarse: um bloco desagregado, onde se discute a aplicação de sanções a países como Portugal, mas depois se assume, com o maior descaramento, que países como a França jamais serão sancionados (porque "a França é a França"). Uma Europa que ergue muros, que estende passadeiras para os extremismos - de Esquerda e de Direita -, uma Europa de onde os britânicos querem fugir como o Diabo da cruz. Uma Europa onde uns mandam e outros obedecem.

Termina assim o ensaio do trio de economistas: "Os legisladores e as instituições como o FMI que os aconselham têm de ser guiados não pela fé, mas pela evidência do que funcionou". O que, em psiquiatria, é o equivalente ao fim do estado de negação.

*EDITOR-EXECUTIVO-ADJUNTO

PEDRO IVO CARVALHO*
08 Junho 2016 às 00:15
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