Espiar

Não é qualquer um que pode ser espião. Primeiro, é preciso ter espírito para a coisa. Depois, ter boa audição, ótima visão, disponibilidade, capacidade para passar despercebido, gosto pela coscuvilhice. No mundo da fantasia, um espião é um homem com gabardina, chapéu e óculos escuros. Já uma espia tem de ser uma beldade, com uma longa cigarrilha à anos 20 e um olhar sedutor. Claro que o James Bond trouxe outra imagem e ainda há muitas que, perante o seu ar de galã, desejariam ser um documento secreto entre os seus dedos.

Diferente destas imagens, Frederico Carvalhão Gil, operacional do SIS, foi detido em Roma acusado de vender segredos da NATO (com recibo passado, diz ele) a russos e justificou os 10 mil euros recebidos como transação comercial, "para um negócio". Quem olhar para as fotos do homem, que aparece com polos de feira e um ar desconsolado, não dirá que era espião e que conhecia segredos. Aliás, parece um menino de coro ao lado das espias dos condomínios, que passam horas a olhar entre frinchas de persianas e de portas, a ouvir os barulhos dos vizinhos e a passar informações. Ninguém dá por elas e não passam recibo.

*JORNALISTA

MARGARIDA FONSECA*
Hoje às 00:25
Jornal de Notícias