FMI lança avisos sobre o elevado endividamento das empresas chinesas e do impacto de uma crise global

O Fundo Monetário Internacional está preocupado com o elevado nível de dívida das empresas chinesas. "145 por cento do PIB é muito alto", diz David Lipton, do FMI, citado pelo Financial Times. A instituição advertiu que os esforços para resolver a elevada carga de dívida corporativa da China têm normalmente "progressos limitados".

"A dívida empresarial continua a ser um problema sério - e crescente - que tem de ser atacado imediatamente e com o compromisso de reformas sérias”, refere o relatório do FMI.

A dívida chinesa (privada e pública) subiu para um recorde de 237 por cento do produto interno bruto no primeiro trimestre regressando aos valores do boom de crédito que deu o impulso ao crescimento económico.

Isso colocou o assunto à tona de água, na revisão anual do FMI à economia chinesa. A equipa do fundo estará em breve na China,  numa missão de monitoramento ao país que termina na próxima terça-feira.

"A dívida corporativa continua a ser um sério - e crescente - problema [na China] que deve ser abordada imediatamente e com o compromisso de reformas sérias", disse David Lipton, o número do FMI dois e o líder da sua última missão, que termina na terça-feira.

Falando em Shenzhen, onde o então líder Deng Xiaoping  baniu o capitalismo da China, há mais de três décadas, Lipton apontou para o risco potencial do actual endividamento chinês para a economia global.

"Aprendemos nos últimos 20 anos, como disrupções na economia e mercados de um país podem ter impacto no mundo inteiro", disse citando o caso da crise nos mercados de capitais chineses do ano passado.

Com o rápido crescimento do crédito em 2015 e início de 2016, e as contínuas altas taxas de investimento, o problema está a aumentar. Esta é uma "falha geológica" na economia chinesa ... E é importante que a China enfrente o problema o mais breve possível", disse o responsável do FMI, citado pelo Financial Times.

Zhou Xiaochuan, presidente do Banco Popular da China, há muito tempo alertou para os perigos do aumento galopante da dívida corporativa, de acordo com pessoas familiarizadas com as deliberações do banco central, citadas pelo jornal britânico.

Há o risco de os altos níveis de dívida poderem desencadear uma crise financeira "sistémica".

China tem vindo a lançar uma série de iniciativas para reduzir gradualmente o mau crédito dos seus balanços, medidas essas que inclui a securitização e operações de troca de dívida por capital próprio — no entanto Lipton cita analistas que vêm nestas medidas um alcance limitado e têm pouca eficácia na eliminação da "má divida" do sistema financeiro global.

Zhang Tao, vice-governador do Banco Popular da China, a falar num fórum financeiro em Xangai no domingo, sinalizou a vontade de deixar "morrer" as empresas 'zombies'.

"Qualquer sistema que não tenha o mecanismo de elevar os vencedores e eliminar os perdedores não pode se desenvolver de forma saudável e sustentável", disse.

Sobre o sistema financeiro anunciou mesmo que "Vamos permitir que as instituições financeiras vão à falência de uma forma ordenada, reestruturar aquelas que precisam de reestruturação, e fechar aquelas que precisam de ser fechadas, e vamos fortalecer a disciplina no mercado".

David Lipton, do FMI, destacou, segundo o FT, que as empresas estatais chinesas são responsáveis por 55 por cento do stock de dívida corporativa, apesar de representarem 22 por cento da produção económica.

"Um cenário de crescimento económico mais lento, e a combinação do declínio dos lucros com o aumento do endividamento está a minar a capacidade das empresas para pagar fornecedores ou pagar as suas dívidas," avisou o FMI. "Os bancos estão a assegurar cada vez mais empréstimos non-performing [e] o boom de crédito do ano passado está a apenas a espalhar o problema."

Embora conclua que a questão ainda é "gerível", avisou que uma recente estimativa do FMI colocou as perdas potenciais para os bancos da China por causa da má carteira de crédito a empresas,  em 7 por cento do PIB, e diz que essa é uma estimativa conservadora, pois excluía exposições do sector "shadow banking" [créditos sombra].

03:21 h
Económico