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Ficar ou não ficar
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Ficar ou não ficar
Espera-se que, ao votarem, os britânicos recordem as palavras de um dos seus maiores, Winston Churchill: "a Grã-Bretanha é parte integrante da Europa, e nós pretendemos cumprir a nossa parte na recuperação da sua prosperidade e grandeza.”
Em 1977, a Rainha Isabel II, referindo-se à recente adesão do Reino Unido à então CEE, confirmada dois anos antes em referendo por 67,2% dos britânicos, afirmou que esta fora “uma das mais significativas decisões tomadas” no decurso do seu reinado, permitindo ao país, entretanto privado do seu império, “forjar novas relações com outras nações.” Cerca de quatro décadas depois, os britânicos, sob o reinado da mesma soberana, são chamados novamente a deliberar sobre a sua permanência na União Europeia.
Os britânicos são, desde a sua adesão, membros relutantes do projecto europeu. Historicamente desconfiados do continente, encaram com cepticismo as ambições federalistas de Bruxelas. E não sem alguma razão: sempre que emergiu uma potência hegemónica no continente, a integridade da soberania britânica ficou em risco. A Espanha de Filipe II, a França de Napoleão e a Alemanha de Hitler ambicionaram invadir as ilhas para lá da Mancha, que a justamente famosa resiliência britânica logrou impedir.
Esse medo histórico deixou marcas na relação entre os britânicos e o continente, hoje exploradas pelos defensores do ‘Brexit’. Alegando que o objectivo da UE de erigir um super-Estado porá uma vez mais em causa a soberania do país, desta feita não pelas armas mas pela burocracia e pela política, os defensores da saída da União caem, porém, numa insanável contradição: se alcançarem os seus objectivos, privarão o Reino Unido do poder de travar, como sempre fez, a construção da Europa federal, que resultará – como parece vaticinar a desastrosa gestão da crise da moeda única – no domínio de uma só nação sobre as demais, ou seja, numa nova hegemonia.
Porém, mais do que contraditórios, os adeptos do ‘Brexit’ desvalorizam irresponsavelmente as perdas relevantes decorrentes da desvinculação da UE, não apenas para o Reino Unido, mas para a Europa. E porque, mesmo fora do projecto europeu, o destino dos britânicos continuará inextricavelmente ligado ao destino do Continente, com o qual partilha valores de civilização e interesses políticos e estratégicos fundamentais, as perdas da Europa serão também suas.
Com o ‘Brexit’, o Reino Unido, perde, desde logo, economicamente, pois a Europa continental é um importante destino para as exportações britânicas, que beneficiam das vantagens do Mercado Comum. Perde também com o fim da livre circulação de pessoas e a igualdade de direitos entre cidadãos dos Estados-membros, outro dos fantasmas despertos pelos defensores do ‘Brexit’, mas que é, no fim de contas, benéfico para as suas empresas e favorável aos numerosos súbditos de Sua Majestade residentes em países da UE. Perde ainda ao nível da segurança, valor tanto mais importante quando posto em causa pela ameaça difusa e esquiva do terrorismo, cujo eficaz combate depende da estreita colaboração entre forças policiais e serviços de inteligência a nível europeu.
Mas as suas maiores perdas poderão ser as que decorram dos danos que, no longo prazo, a Europa venha a sofrer com o ‘Brexit’. Com efeito, a desvinculação do Reino Unido pode precipitar uma crise de consequências particularmente graves que, no limite, conduzirá o projecto europeu à extinção ou à irrelevância. Num contexto de crescimento de radicalismos de cores políticas várias, uns recuperando velhos nacionalismos que ameaçam retalhar o mapa político europeu, outros reavivando extremismos que no passado causaram a ruína do Velho Continente, o abandono de um Estado-membro deixará a UE mais vulnerável aos progressos destes movimentos, na sua maioria não apenas contrários à União enquanto instituição, mas também aos valores de paz e de cooperação entre Estados em que esta se fundamenta.
Por outro lado, o enfraquecimento da Europa compromete o seu papel na política mundial. Num mundo complexo, em que os centros de poder se dispersaram com a emergência de novas potências – cujos interesses e valores civilizacionais divergem dos europeus e em que as ameaças externas representadas pelo crescentemente instável Médio Oriente ou pelas ambições expansionistas da Rússia que, aparentemente recobrada do trauma do colapso da União Soviética, parece apostada em recuperar velhos sonhos imperiais –, a força e a coesão da Europa são condição da sua sobrevivência.
Ficar ou não ficar, eis a questão a que os britânicos terão que responder no referendo do próximo dia 23. Espera-se que, ao votarem, recordem as palavras de um dos seus maiores, Winston Churchill, proferidas em 1949 num encontro do Movimento Europeu: “a Grã-Bretanha é parte integrante da Europa, e nós pretendemos cumprir a nossa parte na recuperação da sua prosperidade e grandeza.”
00:05 h
Edmundo Alves, Investigador IHC/UNL
Económico
Em 1977, a Rainha Isabel II, referindo-se à recente adesão do Reino Unido à então CEE, confirmada dois anos antes em referendo por 67,2% dos britânicos, afirmou que esta fora “uma das mais significativas decisões tomadas” no decurso do seu reinado, permitindo ao país, entretanto privado do seu império, “forjar novas relações com outras nações.” Cerca de quatro décadas depois, os britânicos, sob o reinado da mesma soberana, são chamados novamente a deliberar sobre a sua permanência na União Europeia.
Os britânicos são, desde a sua adesão, membros relutantes do projecto europeu. Historicamente desconfiados do continente, encaram com cepticismo as ambições federalistas de Bruxelas. E não sem alguma razão: sempre que emergiu uma potência hegemónica no continente, a integridade da soberania britânica ficou em risco. A Espanha de Filipe II, a França de Napoleão e a Alemanha de Hitler ambicionaram invadir as ilhas para lá da Mancha, que a justamente famosa resiliência britânica logrou impedir.
Esse medo histórico deixou marcas na relação entre os britânicos e o continente, hoje exploradas pelos defensores do ‘Brexit’. Alegando que o objectivo da UE de erigir um super-Estado porá uma vez mais em causa a soberania do país, desta feita não pelas armas mas pela burocracia e pela política, os defensores da saída da União caem, porém, numa insanável contradição: se alcançarem os seus objectivos, privarão o Reino Unido do poder de travar, como sempre fez, a construção da Europa federal, que resultará – como parece vaticinar a desastrosa gestão da crise da moeda única – no domínio de uma só nação sobre as demais, ou seja, numa nova hegemonia.
Porém, mais do que contraditórios, os adeptos do ‘Brexit’ desvalorizam irresponsavelmente as perdas relevantes decorrentes da desvinculação da UE, não apenas para o Reino Unido, mas para a Europa. E porque, mesmo fora do projecto europeu, o destino dos britânicos continuará inextricavelmente ligado ao destino do Continente, com o qual partilha valores de civilização e interesses políticos e estratégicos fundamentais, as perdas da Europa serão também suas.
Com o ‘Brexit’, o Reino Unido, perde, desde logo, economicamente, pois a Europa continental é um importante destino para as exportações britânicas, que beneficiam das vantagens do Mercado Comum. Perde também com o fim da livre circulação de pessoas e a igualdade de direitos entre cidadãos dos Estados-membros, outro dos fantasmas despertos pelos defensores do ‘Brexit’, mas que é, no fim de contas, benéfico para as suas empresas e favorável aos numerosos súbditos de Sua Majestade residentes em países da UE. Perde ainda ao nível da segurança, valor tanto mais importante quando posto em causa pela ameaça difusa e esquiva do terrorismo, cujo eficaz combate depende da estreita colaboração entre forças policiais e serviços de inteligência a nível europeu.
Mas as suas maiores perdas poderão ser as que decorram dos danos que, no longo prazo, a Europa venha a sofrer com o ‘Brexit’. Com efeito, a desvinculação do Reino Unido pode precipitar uma crise de consequências particularmente graves que, no limite, conduzirá o projecto europeu à extinção ou à irrelevância. Num contexto de crescimento de radicalismos de cores políticas várias, uns recuperando velhos nacionalismos que ameaçam retalhar o mapa político europeu, outros reavivando extremismos que no passado causaram a ruína do Velho Continente, o abandono de um Estado-membro deixará a UE mais vulnerável aos progressos destes movimentos, na sua maioria não apenas contrários à União enquanto instituição, mas também aos valores de paz e de cooperação entre Estados em que esta se fundamenta.
Por outro lado, o enfraquecimento da Europa compromete o seu papel na política mundial. Num mundo complexo, em que os centros de poder se dispersaram com a emergência de novas potências – cujos interesses e valores civilizacionais divergem dos europeus e em que as ameaças externas representadas pelo crescentemente instável Médio Oriente ou pelas ambições expansionistas da Rússia que, aparentemente recobrada do trauma do colapso da União Soviética, parece apostada em recuperar velhos sonhos imperiais –, a força e a coesão da Europa são condição da sua sobrevivência.
Ficar ou não ficar, eis a questão a que os britânicos terão que responder no referendo do próximo dia 23. Espera-se que, ao votarem, recordem as palavras de um dos seus maiores, Winston Churchill, proferidas em 1949 num encontro do Movimento Europeu: “a Grã-Bretanha é parte integrante da Europa, e nós pretendemos cumprir a nossa parte na recuperação da sua prosperidade e grandeza.”
00:05 h
Edmundo Alves, Investigador IHC/UNL
Económico
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