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Por que os verdadeiros democratas devem permanecer
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Por que os verdadeiros democratas devem permanecer
Agora só quero que o referendo da União Europeia acabe. A morte horrível de Jo Cox, apenas uma semana antes da votação, vai ensombrar o resultado, seja ele qual for.
O assassínio da deputada do Partido Trabalhista na oposição, uma crente apaixonada na pertença britânica à UE, foi um ato de crueldade alucinada que não pode ser atribuído à campanha pela saída. Mas ocorreu no contexto de um processo de referendo cada vez mais acirrado, em que palavras como traidor, mentiroso e racista estão a ser atiradas para o ar com demasiada frequência.
Os referendos não são como as eleições, cujos resultados podem ser facilmente revertidos alguns anos mais tarde. Eles são sentidos como pontos de viragem históricos. Isso deixa as pessoas desesperadas e, por vezes, com raiva. Eu falo com conhecimento de causa pois, como alguém que quer veementemente que o Reino Unido permaneça na UE, senti o meu próprio aumento da temperatura emocional durante a campanha. Já praguejei com a televisão, disparei tweets intempestivos contra os ativistas da campanha pela saída, escrevi e-mails furiosos a amigos e inimigos do outro lado do debate - e, depois, tive normalmente a sensatez de não carregar na tecla de envio.
Nos meus momentos mais calmos, sei que essas linhas politicamente carregadas não servem para mais nada a não ser para indispor os amigos. Mais ainda, se eu for inteiramente honesto comigo mesmo, reconheço que, na verdade, existem argumentos da campanha pela saída com os quais concordo.
Não posso contestar que a UE é uma organização disfuncional. Ninguém que olhe para a crise do euro - com as suas divisões amargas, recessões profundas e cimeiras de emergência intermináveis - poderá considerá-la como um triunfo da formulação de políticas públicas. A crise dos migrantes expôs fendas profundas no seio da União; e as estruturas constitucionais que tornam praticamente impossível formular políticas eficazes rapidamente. Nada disto me deixa otimista em relação à capacidade da UE para responder agilmente a crises futuras.
Eu também acho que as questões sobre imigração e soberania acentuadas pela campanha pela saída são questões legítimas. Alguma da retórica dos adeptos da saída caiu no racismo e na desonestidade. Mas não é intrinsecamente pouco razoável que os eleitores queiram controlar o número de imigrantes que a Inglaterra recebe do resto da UE.
Assim, não ficaria surpreendido se o Reino Unido votasse pela saída. E não acho que todos os que votarem dessa forma sejam cretinos ou racistas, o que às vezes parece ser a ideia não declarada de alguns ativistas pela permanência.
Perante tudo isto, por que motivos estou ainda do lado da permanência? As minhas razões são de ordem prática e emocional; política e económica.
Pelo lado prático, acho que uma votação para deixar a UE vai abrir a porta para anos de caos económico e político. A exigência da campanha pela saída de "recuperar o controlo" da política de imigração significa que o Reino Unido vai ter de abdicar da livre circulação de pessoas dentro da UE e, com ela, do mercado interno da União. Por isso, é provável que vá enfrentar tarifas sobre produtos industriais e barreiras não tarifárias para setores de serviços vitais, tal como o financeiro.
Também não consigo ver nenhuma maneira de a UE e o Reino Unido serem capazes de concluir um novo acordo comercial rapidamente. O processo de negociação será demorado e difícil, o que irá criar uma relação cada vez mais amarga entre o Reino Unido e os seus vizinhos.
Esse tipo de divisão e raiva na comunidade das democracias europeias não é apenas desnecessária; é também perigosa. Já não estamos mais a viver no paraíso pós-político da década de 1990.
O Médio Oriente está a implodir, as tensões militares entre a Rússia e o Ocidente estão em crescendo, os EUA estão a flirtar com a eleição de um demagogo racista como seu próximo presidente e uma China autoritária tem a intenção de se tornar a potência dominante na Ásia. Neste tipo de ambiente internacional, seria uma loucura que o Reino Unido dedicasse os próximos cinco anos a discutir com os nossos amigos e vizinhos da Europa.
Os adeptos da saída dizem que a sua campanha é toda sobre como salvar a democracia britânica, ao restaurar a soberania do Parlamento. Mas, no contexto europeu, a UE é a amiga da democracia, e não a sua inimiga. Os países que aderiram à UE após a queda da Cortina de Ferro estavam a deixar para trás sistemas autoritários e a aderirem a uma carta de liberdades civis e políticas estabelecidas nos Tratados da UE.
Os "burocratas de Bruxelas" podem enfurecer alguns no Reino Unido. Mas no resto da Europa eles defendem o Estado de direito e direitos iguais para todos os cidadãos e nações. Aqueles que no Reino Unido têm dúvidas a esse respeito devem olhar para as forças na Europa continental que clamam pela destruição da UE - são os nacionalistas, os racistas, os autoritários, a extrema-direita e a extrema-esquerda. Estas são as pessoas que se sentirão fortalecidas e encorajadas pelo facto de o Reino Unido abandonar a UE. O assassínio de Cox lembra-nos que as forças negras da política, alimentadas pelo ódio e pela violência, também podem florescer no Reino Unido.
Apesar de todas as suas falhas, a UE continua a ser a melhor garantia de cooperação entre os povos e as nações da Europa. Todas aquelas cimeiras enervantes da UE servem um propósito vital. Elas forçam os líderes da Europa a trabalhar juntos como colegas, em vez de gritarem uns com os outros por trás das muralhas nacionais.
Uma votação britânica para sair da União agora iria pôr achas nas fogueiras do nacionalismo que estão fumegantes logo abaixo da superfície na UE. É no interesse tanto do Reino Unido como da Europa que o nosso país desempenhe o seu papel no controlo desses fogos. Vou votar por um Reino Unido que permanece na mesa da UE e que possa ser uma voz respeitada, empenhada e sábia para ajudar toda a Europa democrática a gerir as crises que virão.
Especialista em política internacional do Financial Times
22 DE JUNHO DE 2016
00:01
Gideon Rachman
Diário de Notícias
O assassínio da deputada do Partido Trabalhista na oposição, uma crente apaixonada na pertença britânica à UE, foi um ato de crueldade alucinada que não pode ser atribuído à campanha pela saída. Mas ocorreu no contexto de um processo de referendo cada vez mais acirrado, em que palavras como traidor, mentiroso e racista estão a ser atiradas para o ar com demasiada frequência.
Os referendos não são como as eleições, cujos resultados podem ser facilmente revertidos alguns anos mais tarde. Eles são sentidos como pontos de viragem históricos. Isso deixa as pessoas desesperadas e, por vezes, com raiva. Eu falo com conhecimento de causa pois, como alguém que quer veementemente que o Reino Unido permaneça na UE, senti o meu próprio aumento da temperatura emocional durante a campanha. Já praguejei com a televisão, disparei tweets intempestivos contra os ativistas da campanha pela saída, escrevi e-mails furiosos a amigos e inimigos do outro lado do debate - e, depois, tive normalmente a sensatez de não carregar na tecla de envio.
Nos meus momentos mais calmos, sei que essas linhas politicamente carregadas não servem para mais nada a não ser para indispor os amigos. Mais ainda, se eu for inteiramente honesto comigo mesmo, reconheço que, na verdade, existem argumentos da campanha pela saída com os quais concordo.
Não posso contestar que a UE é uma organização disfuncional. Ninguém que olhe para a crise do euro - com as suas divisões amargas, recessões profundas e cimeiras de emergência intermináveis - poderá considerá-la como um triunfo da formulação de políticas públicas. A crise dos migrantes expôs fendas profundas no seio da União; e as estruturas constitucionais que tornam praticamente impossível formular políticas eficazes rapidamente. Nada disto me deixa otimista em relação à capacidade da UE para responder agilmente a crises futuras.
Eu também acho que as questões sobre imigração e soberania acentuadas pela campanha pela saída são questões legítimas. Alguma da retórica dos adeptos da saída caiu no racismo e na desonestidade. Mas não é intrinsecamente pouco razoável que os eleitores queiram controlar o número de imigrantes que a Inglaterra recebe do resto da UE.
Assim, não ficaria surpreendido se o Reino Unido votasse pela saída. E não acho que todos os que votarem dessa forma sejam cretinos ou racistas, o que às vezes parece ser a ideia não declarada de alguns ativistas pela permanência.
Perante tudo isto, por que motivos estou ainda do lado da permanência? As minhas razões são de ordem prática e emocional; política e económica.
Pelo lado prático, acho que uma votação para deixar a UE vai abrir a porta para anos de caos económico e político. A exigência da campanha pela saída de "recuperar o controlo" da política de imigração significa que o Reino Unido vai ter de abdicar da livre circulação de pessoas dentro da UE e, com ela, do mercado interno da União. Por isso, é provável que vá enfrentar tarifas sobre produtos industriais e barreiras não tarifárias para setores de serviços vitais, tal como o financeiro.
Também não consigo ver nenhuma maneira de a UE e o Reino Unido serem capazes de concluir um novo acordo comercial rapidamente. O processo de negociação será demorado e difícil, o que irá criar uma relação cada vez mais amarga entre o Reino Unido e os seus vizinhos.
Esse tipo de divisão e raiva na comunidade das democracias europeias não é apenas desnecessária; é também perigosa. Já não estamos mais a viver no paraíso pós-político da década de 1990.
O Médio Oriente está a implodir, as tensões militares entre a Rússia e o Ocidente estão em crescendo, os EUA estão a flirtar com a eleição de um demagogo racista como seu próximo presidente e uma China autoritária tem a intenção de se tornar a potência dominante na Ásia. Neste tipo de ambiente internacional, seria uma loucura que o Reino Unido dedicasse os próximos cinco anos a discutir com os nossos amigos e vizinhos da Europa.
Os adeptos da saída dizem que a sua campanha é toda sobre como salvar a democracia britânica, ao restaurar a soberania do Parlamento. Mas, no contexto europeu, a UE é a amiga da democracia, e não a sua inimiga. Os países que aderiram à UE após a queda da Cortina de Ferro estavam a deixar para trás sistemas autoritários e a aderirem a uma carta de liberdades civis e políticas estabelecidas nos Tratados da UE.
Os "burocratas de Bruxelas" podem enfurecer alguns no Reino Unido. Mas no resto da Europa eles defendem o Estado de direito e direitos iguais para todos os cidadãos e nações. Aqueles que no Reino Unido têm dúvidas a esse respeito devem olhar para as forças na Europa continental que clamam pela destruição da UE - são os nacionalistas, os racistas, os autoritários, a extrema-direita e a extrema-esquerda. Estas são as pessoas que se sentirão fortalecidas e encorajadas pelo facto de o Reino Unido abandonar a UE. O assassínio de Cox lembra-nos que as forças negras da política, alimentadas pelo ódio e pela violência, também podem florescer no Reino Unido.
Apesar de todas as suas falhas, a UE continua a ser a melhor garantia de cooperação entre os povos e as nações da Europa. Todas aquelas cimeiras enervantes da UE servem um propósito vital. Elas forçam os líderes da Europa a trabalhar juntos como colegas, em vez de gritarem uns com os outros por trás das muralhas nacionais.
Uma votação britânica para sair da União agora iria pôr achas nas fogueiras do nacionalismo que estão fumegantes logo abaixo da superfície na UE. É no interesse tanto do Reino Unido como da Europa que o nosso país desempenhe o seu papel no controlo desses fogos. Vou votar por um Reino Unido que permanece na mesa da UE e que possa ser uma voz respeitada, empenhada e sábia para ajudar toda a Europa democrática a gerir as crises que virão.
Especialista em política internacional do Financial Times
22 DE JUNHO DE 2016
00:01
Gideon Rachman
Diário de Notícias
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