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Saf(r)a!
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Saf(r)a!
200 anos de aguardente nos genes, feitos “povo superior” por repetição aos gritos, de arautos comprados a troco do nosso suor e dos nossos filhos e netos. Para quem aprender, estudar, conhecer, crescer, é perder tempo. Só existem dois trabalhos de Homem - fazenda e obras. Povo habituado a pais tiranos, que os raptam pelo espírito. Que lhes impõem os dias e as noites. Foi assim quando queimaram heréticos na fogueira. Pelo consentimento. E ao longo da História foi sendo assim. Consente-se a morte pela complacência e pela preguiça. E é ainda assim hoje para quem foge da morte atravessando o mar, enfrentando-a de frente. É assim hoje em terra de povos superiores. Tacanhez feita esperteza saloia. Eis o futuro reservado. A recompensa é sempre em ouro. Para espetada, Quim Barreiros e um Mercedes. Só para anuentes. A tarimba é bem por baixo, para todos entenderem. Quem sabe, finge não saber. Quem não sabe, finge que sabe. E tudo é perfeito. E morremos todos devagar, sem avançar um passo que seja. Arriscar é mau, porque nesta terra ninguém falha. É proibido, até porque por cá, nunca ninguém falhou. E toda uma geração proibida de falhar, assiste passiva, obediente, dormente. Como povo, temos que procurar a realização num destino ditado pela cultura que é a nossa alma. A Cultura que são os nossos genes. Fruto do passado, sementes para o futuro. A nossa História é um oráculo. Mas são demasiadas as exposições para encher os museus e as casas de cultura. Para encher egos. Para encher bolsos. Aqui também cabe tudo. Desde as casas de bonecas feitas com caixinhas de fósforo, até a arte flamenga, comprada com chicotadas em homens, espremidos e feitos em açúcar.
A geração do “que se lixe”. Com “F” bem grande está convicta.
Tudo vale, desde que se pareça.
Mas de que vale parecer? E quanto nos custa e quanto ainda nos custará não ser?
Bebe-se vinhaça da boa, sem se perceber o que a distingue da “zurrapa”. Não sabem da influência dos solos, da idade das vinhas, dos enxertos, dos estágios. As bestas vestem roupas da moda porque acham importante parecer na moda. E as bestas reproduzem-se copiosamente, adiando por mais uma geração a evolução dos homens. E tem sido assim. Pelo consentimento. As bestas abocanham tudo, despedaçam, maltratam, desprezam, subvertem, atrasam (pois é essa a sua natureza) e palitam a espetada dos dentes, um penalty num quarto de litro de “barca velha”, um arroto sonoro. E um sonoro ronco depois, enquanto sonham com a construção duma “carniçeria”. Lá fora, indiferente, o mundo decide-se e avança. A carne é boa. Vem do Brasil por um túnel novo. Refrigerada. As bestas, em casa, batem nas mulheres e depois, vêm para a praça cheios de ar no peito dar lições de moral armados em defensores da honra e dos valores e é assim, só e apenas porque o consentimos.
Que valor para a comunidade tem uma besta? Uma besta que não respeita quem com ele divide uma vida e entrega a sua intimidade, o seu futuro, a sua esperança? Quem valor tem uma besta quando vê o filho abandonar a terra e a família e amigos a contragosto e limita-se a empurrar mais um penalti?
Está bom para as bestas porque elas nunca querem mais. Porque já foi pior. “Sai mais um vinho... um quart`litro”
Amanhã aparece vestido de Miss Lili. Um travesti. Da nova vaga, que está em voga. “Moi, j`aime les roses et le piano maintenant”
Nuno Drummond
Diário de Notícias da Madeira
Quarta, 29 de Junho de 2016
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