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Nos três primeiros pontos, a nossa posição é a que está neste texto. Nos restantes, que não nos afetam, espere pela atitude britânica e, depois, apoie aquilo que eles disserem. Num primeiro momento, pensei ter ouvido mal as instruções, dadas num gabinete do Palácio das Necessidades, na véspera da minha partida para uma reunião no Luxemburgo, nesse primeiro semestre de 1986, entrados "de fresco" nas instituições comunitárias. A minha surpresa tinha também a ver com o facto de, nas tais questões em que deveria "seguir os ingleses", ter alguma opinião e fundamentos para ela, numa matéria que estudara e julgava conhecer bem. Nada disso me valeu: devia proceder como indicado. Regressei ao meu serviço, então bem longe do edifício central do Ministério dos Negócios Estrangeiros, com a secreta e residual esperança de que Londres pensasse como eu... Já não sei como tudo acabou.
Foi assim durante muitos anos. Séculos. Na ida da corte para o Brasil, na abertura dos portos lá decidida, na tutela permanente da nossa política externa, com o fantasma de Madrid no nosso horizonte. Um dia, o nosso "mapa cor-de-rosa" foi contraditório com o projeto inglês de ligar o Cairo ao Cabo e lá veio o "ultimatum". O país entrou numa daquelas emoções nacionalistas que, a espaços, lhe sobrevêm, num "afrontamento" típico de uma nação em menopausa. Fez um hino em que apelava a "contra os bretões, marchar, marchar!". Depois, "baixou a bola" e, no lugar de "bretões" colocou "canhões", como se nada se tivesse passado. Pelas costas, Londres negociou duas vezes com a Alemanha uma partilha das nossas colónias e ainda flirtou com Madrid, quando pensava poder cá recolocar o rei que acolhia.
Os republicanos, repudiados por Londres, só com o sacrifício da Flandres conseguiram lugar à mesa de Versalhes. Depois, a Inglaterra acomodou-se ao Estado Novo, controlou-lhe as hesitações face aos "aliados" e, no fim da guerra, ficou-lhe grato pelo volfrâmio e pelos Açores. Salvou a pele política a Salazar, numa "neutralidade colaborante" com a ditadura, que teve então o desplante de dizer que fazia eleições "tão livres como na livre Inglaterra". Esquecendo os crimes do regime, colocou Portugal no "Mundo livre" da NATO e, depois, na EFTA. E, diplomaticamente, excetuada a questão colonial, domesticou as Necessidades, onde o "lobo" ibérico justificava uma permanente ideologia de subordinação.
A entrada na UE "libertou" Portugal de Londres, mesmo se, no início, episódios como aquele com que abri este texto ainda ocorressem. Mas foi sol de pouca dura. Em política europeia, cada um foi por seu lado. E agora? Regressamos à "oldest alliance", recuperada nos últimos dias na retórica caseira? Acredito tanto nela como os britânicos.
FRANCISCO SEIXAS DA COSTA, EMBAIXADOR
Hoje às 01:26
Jornal de Notícias
Foi assim durante muitos anos. Séculos. Na ida da corte para o Brasil, na abertura dos portos lá decidida, na tutela permanente da nossa política externa, com o fantasma de Madrid no nosso horizonte. Um dia, o nosso "mapa cor-de-rosa" foi contraditório com o projeto inglês de ligar o Cairo ao Cabo e lá veio o "ultimatum". O país entrou numa daquelas emoções nacionalistas que, a espaços, lhe sobrevêm, num "afrontamento" típico de uma nação em menopausa. Fez um hino em que apelava a "contra os bretões, marchar, marchar!". Depois, "baixou a bola" e, no lugar de "bretões" colocou "canhões", como se nada se tivesse passado. Pelas costas, Londres negociou duas vezes com a Alemanha uma partilha das nossas colónias e ainda flirtou com Madrid, quando pensava poder cá recolocar o rei que acolhia.
Os republicanos, repudiados por Londres, só com o sacrifício da Flandres conseguiram lugar à mesa de Versalhes. Depois, a Inglaterra acomodou-se ao Estado Novo, controlou-lhe as hesitações face aos "aliados" e, no fim da guerra, ficou-lhe grato pelo volfrâmio e pelos Açores. Salvou a pele política a Salazar, numa "neutralidade colaborante" com a ditadura, que teve então o desplante de dizer que fazia eleições "tão livres como na livre Inglaterra". Esquecendo os crimes do regime, colocou Portugal no "Mundo livre" da NATO e, depois, na EFTA. E, diplomaticamente, excetuada a questão colonial, domesticou as Necessidades, onde o "lobo" ibérico justificava uma permanente ideologia de subordinação.
A entrada na UE "libertou" Portugal de Londres, mesmo se, no início, episódios como aquele com que abri este texto ainda ocorressem. Mas foi sol de pouca dura. Em política europeia, cada um foi por seu lado. E agora? Regressamos à "oldest alliance", recuperada nos últimos dias na retórica caseira? Acredito tanto nela como os britânicos.
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