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Esvaziaram o porquinho
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Esvaziaram o porquinho
1-Poupança negativa. A Joana Mateus publicou no último Expresso um artigo histórico. A poupança das famílias portuguesas é negativa! Nunca tinha acontecido, pelo menos desde que existem estatísticas do INE, numa série com mais de 40 anos. Há uma leitura imediata deste fenómeno: os portugueses depois de receberem salários, pensões, rendas, juros ou outros rendimentos, depois de pagarem impostos e contribuições sociais, ficam com um orçamento disponível que não cobre as suas despesas de consumo.
Já diabolizei as extravagâncias passadas. Alinhei na lengalenga do "viver acima das nossas possibilidades". Antevia a insustentabilidade do consumismo. E, com as mínimas noções de economia que trazia do curso de Economia, escrevia textos, editoriais em diários de economia alertando para o inevitável estoiro que acabaria por vir. Como veio.
Não me rendo às evidências. Como não entrego nem o corpo nem a alma à insanidade. Mas algo acontece quando a leviandade coletiva se dá. Não há moralismo, da mesma forma que não procuro pecadores. Ou encontro-os noutro lado. Uma população não se suicida quando derrete o que tem e se endivida para ter aquilo que não pode. Limita-se a responder a estímulos. Reage a impulsos, com uma racionalidade que é contrária à própria razão.
Portugal transformou-se um país de proprietários porque a lei de arrendamento urbano era anacrónica. E os juros, com a união monetária europeia, estavam a descer para níveis historicamente baixos - o que tornava a prestação mensal ao banco muito mais acessível do que a renda da casa. O crédito hipotecário explodia, a taxa de poupança nacional caia para metade, 10% do PIB. Anos 90, ninguém nos travava. Mas havia o pântano de Guterres, depois a tanga de Barroso.
Sempre a mesma tanga! E aqueles portugueses que adquiriram património imobiliário com crédito associado, que são milhões, estão a celebrar nos últimos anos o súbito regresso a uma política de juros rasos. Novamente, é racional: paga-se menos. Novamente, é uma desgraça.
A política de juros zero está a rebentar com as poupanças das últimas gerações. Para salvar, em primeiro lugar o Estado, depois os bancos. Estamos com juros zero, destruindo progresso futuro para salvar instituições. Volto a dizer: primeiro os Estados, que gerem dívidas públicas colossais; depois os bancos, presos por pinças num Banco Central Europeu que os mantêm vivos com doses cavalares de morfina a que insistem chamar de política monetária.
2-Bancos zombies. Matam a poupança dos países sem a certeza de que os bancos se salvam. A revista The Economist colocava a banca italiana à beira de um precipício, numa das suas últimas capas. Nada de pessimismo, catastrofismo ou bruxaria: contas, balanços e modelos de negócio ultrapassados. Ao contrário de irlandeses, e em certa medida dos espanhóis, Itália e Portugal não limparam o sistema financeiro. Juros rasos, bancos de rastos.
Não há Novo Banco que resista a isto. Nem velho, como a Caixa Geral de Depósitos, que além da adversidade dos tempos ainda tem o governo. Este governo, que nomeou uma administração, anunciou uma recapitalização, com ela uma reestruturação. O Estado tem um banco e isso poderia ser bom. O banco tem uma administração, que não é boa nem má porque ainda não assumiu. E este banco está parado há mais de seis meses, o que nem é bom nem mau - é péssimo. Chega até a ser incompreensível: como é que quer a geringonça reanimar a economia se o principal banco do sistema está, há meses a fio, sem direção, nem rumo, nem orientação.
3-Equação do sistema. Portanto, o sistema vive então assim: o Estado não tem economia, por isso revê em baixa o PIB; mas tem um banco, que é fundamental para a retoma, mas está desgovernado e anda à toa e à tona; a economia precisa de investimento para crescer, mas o investimento não existe porque as famílias deixaram de poupar; os bancos, que impulsionam o crescimento económico, precisam de depósitos que as famílias não fazem, porque estão a comprar carros à espera que o rendimento suba; os rendimentos vão melhorar porque o governo prometeu; mas para que isso aconteça, é preciso PIB que não está a corresponder.
E, assim, enquanto resolve esta equação, o comandante-em-chefe da geringonça reedita os cofres cheios, responde às sanções e fala grosso e claro: qual-Plano B-qual-carapuça!
4- A questão relativa. Terroristas de Nice. Golpistas de Istambul. Campeões em Portugal. Se há coisas graves que nos chocam, se acontecimentos imprevisíveis nos perturbam, se temos heróis que nos agradam e surpreendem, qual é o problema da poupança dos nossos avós para os nossos pais, dos nossos pais para nós próprios estar agora a desaparecer?
Por uma vez, acredito incondicionalmente neste primeiro-ministro: não deve mesmo haver Plano B. Só o salve-se quem puder.
19 DE JULHO DE 2016
00:00
Sérgio Figueiredo
Diário de Notícias
Já diabolizei as extravagâncias passadas. Alinhei na lengalenga do "viver acima das nossas possibilidades". Antevia a insustentabilidade do consumismo. E, com as mínimas noções de economia que trazia do curso de Economia, escrevia textos, editoriais em diários de economia alertando para o inevitável estoiro que acabaria por vir. Como veio.
Não me rendo às evidências. Como não entrego nem o corpo nem a alma à insanidade. Mas algo acontece quando a leviandade coletiva se dá. Não há moralismo, da mesma forma que não procuro pecadores. Ou encontro-os noutro lado. Uma população não se suicida quando derrete o que tem e se endivida para ter aquilo que não pode. Limita-se a responder a estímulos. Reage a impulsos, com uma racionalidade que é contrária à própria razão.
Portugal transformou-se um país de proprietários porque a lei de arrendamento urbano era anacrónica. E os juros, com a união monetária europeia, estavam a descer para níveis historicamente baixos - o que tornava a prestação mensal ao banco muito mais acessível do que a renda da casa. O crédito hipotecário explodia, a taxa de poupança nacional caia para metade, 10% do PIB. Anos 90, ninguém nos travava. Mas havia o pântano de Guterres, depois a tanga de Barroso.
Sempre a mesma tanga! E aqueles portugueses que adquiriram património imobiliário com crédito associado, que são milhões, estão a celebrar nos últimos anos o súbito regresso a uma política de juros rasos. Novamente, é racional: paga-se menos. Novamente, é uma desgraça.
A política de juros zero está a rebentar com as poupanças das últimas gerações. Para salvar, em primeiro lugar o Estado, depois os bancos. Estamos com juros zero, destruindo progresso futuro para salvar instituições. Volto a dizer: primeiro os Estados, que gerem dívidas públicas colossais; depois os bancos, presos por pinças num Banco Central Europeu que os mantêm vivos com doses cavalares de morfina a que insistem chamar de política monetária.
2-Bancos zombies. Matam a poupança dos países sem a certeza de que os bancos se salvam. A revista The Economist colocava a banca italiana à beira de um precipício, numa das suas últimas capas. Nada de pessimismo, catastrofismo ou bruxaria: contas, balanços e modelos de negócio ultrapassados. Ao contrário de irlandeses, e em certa medida dos espanhóis, Itália e Portugal não limparam o sistema financeiro. Juros rasos, bancos de rastos.
Não há Novo Banco que resista a isto. Nem velho, como a Caixa Geral de Depósitos, que além da adversidade dos tempos ainda tem o governo. Este governo, que nomeou uma administração, anunciou uma recapitalização, com ela uma reestruturação. O Estado tem um banco e isso poderia ser bom. O banco tem uma administração, que não é boa nem má porque ainda não assumiu. E este banco está parado há mais de seis meses, o que nem é bom nem mau - é péssimo. Chega até a ser incompreensível: como é que quer a geringonça reanimar a economia se o principal banco do sistema está, há meses a fio, sem direção, nem rumo, nem orientação.
3-Equação do sistema. Portanto, o sistema vive então assim: o Estado não tem economia, por isso revê em baixa o PIB; mas tem um banco, que é fundamental para a retoma, mas está desgovernado e anda à toa e à tona; a economia precisa de investimento para crescer, mas o investimento não existe porque as famílias deixaram de poupar; os bancos, que impulsionam o crescimento económico, precisam de depósitos que as famílias não fazem, porque estão a comprar carros à espera que o rendimento suba; os rendimentos vão melhorar porque o governo prometeu; mas para que isso aconteça, é preciso PIB que não está a corresponder.
E, assim, enquanto resolve esta equação, o comandante-em-chefe da geringonça reedita os cofres cheios, responde às sanções e fala grosso e claro: qual-Plano B-qual-carapuça!
4- A questão relativa. Terroristas de Nice. Golpistas de Istambul. Campeões em Portugal. Se há coisas graves que nos chocam, se acontecimentos imprevisíveis nos perturbam, se temos heróis que nos agradam e surpreendem, qual é o problema da poupança dos nossos avós para os nossos pais, dos nossos pais para nós próprios estar agora a desaparecer?
Por uma vez, acredito incondicionalmente neste primeiro-ministro: não deve mesmo haver Plano B. Só o salve-se quem puder.
19 DE JULHO DE 2016
00:00
Sérgio Figueiredo
Diário de Notícias
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