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Espanha não é Portugal
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Espanha não é Portugal
Perante problemas idênticos, os nossos governos renegam-se em cascata. Espanha não pode assumir que tem problemas coincidentes com Portugal e Portugal não pode sequer coincidir numa frase com a Grécia. A Irlanda já se afastou há muito de tudo isto.
Há dias, Luis de Guindos, o ministro espanhol da Economia, declarou que o seu país não é Portugal. No mesmo instante, apercebi-me que a lógica da crise das dívidas soberanas veio mesmo para ficar no quadro europeu.
Hoje, não é fácil definir a União Europeia (UE), sobretudo pela sua assimetria. Nos anos 90, os Estados que a compunham abriram as portas a diferentes níveis de aprofundamento de políticas (união monetária, livre circulação de pessoas), permitindo uma evolução ao sabor do contexto e do equilíbrio de poderes de cada momento em detrimento de um projecto estruturado.
Na semana passada, tive oportunidade de abordar aqui a questão da erosão efectiva da soberania dos Estados da UE por via do espartilho monetário e orçamental em que vivem. Assumi que a Alemanha chegou a uma posição de liderança em regime de monopólio sem sequer o ter desejado ou projectado. Com este monopólio, e com a implosão do eixo franco-alemão, deixámos de ter um quadro normativo claro para gerir a União.
Entre 2009 e 2010, os europeus depararam-se com a necessidade prioritária de salvar o euro e de evitar um colapso financeiro em larga escala. Apagar este incêndio sobrepôs-se a tudo e foi algo para o qual tudo valeu. Entretanto, as dimensões política, judicial e social da Europa foram ficando para segundo plano. A face mais visível da falência europeia sente-se agora com a ineficácia de Bruxelas para fomentar acções conjuntas contra os recentes atentados terroristas.
Em paralelo, a influência do governo alemão consolidou-se na gestão da zona euro, sem qualquer alternativa. Tendo o euro sido construído à imagem do antigo marco e estando Berlim capacitada para controlar o caos, tornou-se conveniente para os outros Estados a demissão das suas próprias responsabilidades. Nesta fase, França abandona as funções de patrono político da UE. Com o fim da “Política” e com o avanço da “política monetária”, a Europa capitula e sobra pouco mais do que a união monetária. Sinais destes novos tempos?
Logo em 2010, a expulsão de romenos pelas autoridades francesas e o início da intolerância com a longa governação xenófoba e autoritária de Viktor Orbán na Hungria. Caso nada seja feito para inverter esta tendência, caberá a Berlim a gestão dos despojos da UE. A Europa deixará definitivamente de se subordinar aos grandes princípios que a orientaram enquanto projecto capaz de erguer a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) e a Comunidade Económica Europeia (CEE), ou de sonhar com uma efectiva União Europeia. Convirá não esquecer que o euro foi pensado como algo instrumental, ao serviço de um objectivo mais alargado, e não como um fim em si mesmo.
A urgência na salvação do euro e a volatilidade com que somos obrigados a viver num mundo de profundas interdependências financeiras relegou-nos para um campo de percepções. A máxima prioridade deixou de ser a integração com o vizinho para passar a ser a boa aparência e o distanciamento em relação a quem possa contaminar a nossa imagem enquanto país. Boa parte dos Estados vivem agora centrados na sua avaliação nos mercados e não no projecto europeu. Nessa espiral obsessiva, tornou-se normal repudiar os parceiros que possam ter potencial para manchar a reputação junto dos investidores.
Perante problemas idênticos, os nossos governos renegam-se em cascata, num gesto que contraria as normas mais basilares da construção europeia. A política monetária da Europa assenta numa lógica de cordões sanitários e de fuga aos activos (países) tóxicos que faz com que nos pareça normal enveredar por cadeias de múltipla negação: a Espanha não pode assumir que tem problemas coincidentes com Portugal e Portugal não pode sequer coincidir numa frase com a Grécia. A Irlanda já se afastou há muito de tudo isto.
Acabamos, assim, obrigados a esperar que os investidores encontrem mais semelhanças entre nós e holandeses ou alemães do que com os povos com quem vivemos lado a lado e com quem partilhamos economia, cultura e História.
00:05 h
Filipe Vasconcelos Romão, Professor Universitário
Económico
Há dias, Luis de Guindos, o ministro espanhol da Economia, declarou que o seu país não é Portugal. No mesmo instante, apercebi-me que a lógica da crise das dívidas soberanas veio mesmo para ficar no quadro europeu.
Hoje, não é fácil definir a União Europeia (UE), sobretudo pela sua assimetria. Nos anos 90, os Estados que a compunham abriram as portas a diferentes níveis de aprofundamento de políticas (união monetária, livre circulação de pessoas), permitindo uma evolução ao sabor do contexto e do equilíbrio de poderes de cada momento em detrimento de um projecto estruturado.
Na semana passada, tive oportunidade de abordar aqui a questão da erosão efectiva da soberania dos Estados da UE por via do espartilho monetário e orçamental em que vivem. Assumi que a Alemanha chegou a uma posição de liderança em regime de monopólio sem sequer o ter desejado ou projectado. Com este monopólio, e com a implosão do eixo franco-alemão, deixámos de ter um quadro normativo claro para gerir a União.
Entre 2009 e 2010, os europeus depararam-se com a necessidade prioritária de salvar o euro e de evitar um colapso financeiro em larga escala. Apagar este incêndio sobrepôs-se a tudo e foi algo para o qual tudo valeu. Entretanto, as dimensões política, judicial e social da Europa foram ficando para segundo plano. A face mais visível da falência europeia sente-se agora com a ineficácia de Bruxelas para fomentar acções conjuntas contra os recentes atentados terroristas.
Em paralelo, a influência do governo alemão consolidou-se na gestão da zona euro, sem qualquer alternativa. Tendo o euro sido construído à imagem do antigo marco e estando Berlim capacitada para controlar o caos, tornou-se conveniente para os outros Estados a demissão das suas próprias responsabilidades. Nesta fase, França abandona as funções de patrono político da UE. Com o fim da “Política” e com o avanço da “política monetária”, a Europa capitula e sobra pouco mais do que a união monetária. Sinais destes novos tempos?
Logo em 2010, a expulsão de romenos pelas autoridades francesas e o início da intolerância com a longa governação xenófoba e autoritária de Viktor Orbán na Hungria. Caso nada seja feito para inverter esta tendência, caberá a Berlim a gestão dos despojos da UE. A Europa deixará definitivamente de se subordinar aos grandes princípios que a orientaram enquanto projecto capaz de erguer a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) e a Comunidade Económica Europeia (CEE), ou de sonhar com uma efectiva União Europeia. Convirá não esquecer que o euro foi pensado como algo instrumental, ao serviço de um objectivo mais alargado, e não como um fim em si mesmo.
A urgência na salvação do euro e a volatilidade com que somos obrigados a viver num mundo de profundas interdependências financeiras relegou-nos para um campo de percepções. A máxima prioridade deixou de ser a integração com o vizinho para passar a ser a boa aparência e o distanciamento em relação a quem possa contaminar a nossa imagem enquanto país. Boa parte dos Estados vivem agora centrados na sua avaliação nos mercados e não no projecto europeu. Nessa espiral obsessiva, tornou-se normal repudiar os parceiros que possam ter potencial para manchar a reputação junto dos investidores.
Perante problemas idênticos, os nossos governos renegam-se em cascata, num gesto que contraria as normas mais basilares da construção europeia. A política monetária da Europa assenta numa lógica de cordões sanitários e de fuga aos activos (países) tóxicos que faz com que nos pareça normal enveredar por cadeias de múltipla negação: a Espanha não pode assumir que tem problemas coincidentes com Portugal e Portugal não pode sequer coincidir numa frase com a Grécia. A Irlanda já se afastou há muito de tudo isto.
Acabamos, assim, obrigados a esperar que os investidores encontrem mais semelhanças entre nós e holandeses ou alemães do que com os povos com quem vivemos lado a lado e com quem partilhamos economia, cultura e História.
00:05 h
Filipe Vasconcelos Romão, Professor Universitário
Económico
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