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Mensagem por Admin Ter Ago 02, 2016 10:53 am

O meu pior receio é que nada aconteça, que nada se faça para reduzir a despesa estrutural e que, como em tantos casos anteriores, se atire para cima do problema uma bomba fiscal que corrija as décimas em excesso que for necessário corrigir.

Com a ‘silly season’ chega normalmente uma onda de optimismo dolente e – reconheço – até contagiante, próprio do calor que convida ao lazer e a algumas espécies de preguiça, nomeadamente a que reveste a forma de défice de atenção. Não pretendo destoar, contrastar, nem tão-pouco arvorar-me em “estraga-prazeres”, especialmente numa altura em que todos nos comprazemos ainda com a conquista do Euro 2016, o campeonato de hóquei em patins, outras distinções importantes obtidas no atletismo e o cancelamento das “sanções” comunitárias ao nosso país por incumprimentos das metas orçamentais.

Simplesmente, o défice de atenção é uma das formas de preguiça de que não padeço e sinto, por isso, o dever para com os leitores – mesmo os estivais – de destacar uma ou duas circunstâncias que me preocupam e que deveriam, na minha opinião modesta, preocupar todos os cidadãos. E a mais importante de todas é justamente, a meu ver, a que diz respeito ao sobredito cancelamento de “sanções”. Escrevi aqui, há duas semanas, e repito-o agora, “que os partidos não querem sanções, ninguém quer sanções e eu também não quero sanções. Mas fugir com o rabo à seringa não chega”.

O perigo que antevejo, que me perturba seriamente nesta época de distendimento natural (como a apelidou o Presidente da República), e que começa já a materializar-se, é o de que a chama inflamada da vitória da justiça e do triunfo da razão entorpeçam a capacidade de acção e toldem a energia para romper com a inércia e arrepiar caminho no sentido inevitável.

Diz-se que a Comissão recomendou o cancelamento das “sanções”, mas na verdade o que fez foi algo bem diferente. Recomendou a suspensão da aplicação de quaisquer sanções com sujeição a um período de prova em que o Governo terá de demonstrar o comprometimento com as metas de redução do défice que tem propalado e, mais importante do que isso, terá de obter resultados, já em 2016. Falhando isso, abater-se-á, sem nenhuma dúvida, sobre o nosso país a inevitabilidade das famosas “sanções”, seja sob a forma de multas, seja através da restrição do acesso a fundos.

E isso sucederá, então, parece-me, com justiça redobrada, sem margem para discussões partidárias internas acerca da responsabilidade sobre o passado e sobre o presente e com severidade agravada.

Dizem-me: “é difícil, temos de confiar, temos de acreditar, temos de contribuir”. Estou de acordo, mas as declarações triunfalistas de Santos Silva, no seu simplismo maniqueísta e desresponsabilizador fazem-me temer o pior. E o pior é que nada aconteça, que nada se faça para reduzir a despesa estrutural e que, como em tantos casos anteriores, se atire para cima do problema uma bomba fiscal que corrija as décimas em excesso que for necessário corrigir.

Quando se fizer a conta ao efeito de arrasto do Bloco e do PCP sobre o Governo e sobre o país, recalcular-se-á então, qual GPS (Governo do Partido Socialista?), a rota que o nosso barco irá ser forçado a empreender.

00:05 h
Luís Reis, Professor Universitário
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