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CRÓNICA: A idade média no Portugal Contemporâneo
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CRÓNICA: A idade média no Portugal Contemporâneo
A idade média dos participantes nas feiras medievais do Portugal contemporâneo corresponderá à idade média da população. Temos assim homens de meia-idade a fazer de homens da Idade Média.
Uma importante actividade portuguesa contemporânea é a feira medieval; muitas centenas de pessoas fazem aí de gente que viveu há oitocentos anos; e muitas dezenas compram compotas ou açaimos. Existem feiras medievais em quase todos os concelhos. Como observou famosamente o tio dos historiadores portugueses a única tradição portuguesa é municipal: não admira por isso que continue tão viva nos municípios.
A idade média dos participantes nas feiras medievais do Portugal contemporâneo corresponderá à idade média da população. Temos assim na maior parte dos casos homens de meia-idade a fazer de homens da Idade Média. É possível que por essa razão algumas capacidades mais especificamente medievais (como ferrar um burro ou cegar os inimigos derrotados) estejam enferrujadas. Um sem-número de artesãos faz os gestos de quem trabalha peles com habilidade; é a arte conhecida desde 1415 como marroquinaria. Encoraja-se festas de crianças em cabras e interacções com presuntos bravos; apõe-se genericamente parches de alcatrão; organiza-se torneios de andaços.
No capítulo das mulheres medievais a escolha é mais rarefeita. A grande especialidade do teatro municipal contemporâneo é a marafona antiga de touca. As actrizes são naturalmente pessoas que, mesmo a nível concelhio, têm costumes livres; e por isso são naturalmente inclinadas ao papel de marafona. A touca é requerida, e o cabelo desgrenhado. Relativamente comuns são também a falta de dois dentes, que o peito oculta, e a recitação de secções do “Pranto de Maria Parda.” São acompanhadas por bobos de alaúde com óculos, nuns palheiros.
A parte principal de qualquer feira medieval é todavia a Reconstrução da Batalha. Também aqui existem pormenores técnicos a atender. O rigor histórico determina que em cima de qualquer quadrúpede não possa acumular-se nada que se suspeite ser actual. São assim expressamente interditos volantes ou saxofones; não é invulgar ver voluntários locais a cavalo num macho, com um chapéu de almirante, uma espada de honra e um manto, onde os conhecidos e a mãe adivinharão certas cortinas, e onde foi desenhada pelos serviços culturais da câmara uma teoria heráldica de bichos em posição de ataque (acerca de cuja identificação as opiniões no entanto não parecem concordar).
Outra dificuldade logística deriva de, tirando possivelmente o caso da lezíria, o número de quadrúpedes grandes por município ser normalmente reduzido. Felizmente a imaginação é boa concelhia, o que permite que a maior parte das batalhas que mudaram o mundo sejam resolvidas entre oito cavaleiros a passo; os dezasseis animais mostram conhecer-se de outras lides: partilham toda uma tradição local, e uma história. Os lençóis brancos, os bombeiros, e a cruz do supermercado protegem-nos das moscas. Resolvida a Batalha, as marafonas e os homens da Idade Média bebem hidromel e comem maçarocas, que alguém terá trazido do Brasil num momento posterior.
Miguel Tamen
19/8/2016, 3:16
Observador
Uma importante actividade portuguesa contemporânea é a feira medieval; muitas centenas de pessoas fazem aí de gente que viveu há oitocentos anos; e muitas dezenas compram compotas ou açaimos. Existem feiras medievais em quase todos os concelhos. Como observou famosamente o tio dos historiadores portugueses a única tradição portuguesa é municipal: não admira por isso que continue tão viva nos municípios.
A idade média dos participantes nas feiras medievais do Portugal contemporâneo corresponderá à idade média da população. Temos assim na maior parte dos casos homens de meia-idade a fazer de homens da Idade Média. É possível que por essa razão algumas capacidades mais especificamente medievais (como ferrar um burro ou cegar os inimigos derrotados) estejam enferrujadas. Um sem-número de artesãos faz os gestos de quem trabalha peles com habilidade; é a arte conhecida desde 1415 como marroquinaria. Encoraja-se festas de crianças em cabras e interacções com presuntos bravos; apõe-se genericamente parches de alcatrão; organiza-se torneios de andaços.
No capítulo das mulheres medievais a escolha é mais rarefeita. A grande especialidade do teatro municipal contemporâneo é a marafona antiga de touca. As actrizes são naturalmente pessoas que, mesmo a nível concelhio, têm costumes livres; e por isso são naturalmente inclinadas ao papel de marafona. A touca é requerida, e o cabelo desgrenhado. Relativamente comuns são também a falta de dois dentes, que o peito oculta, e a recitação de secções do “Pranto de Maria Parda.” São acompanhadas por bobos de alaúde com óculos, nuns palheiros.
A parte principal de qualquer feira medieval é todavia a Reconstrução da Batalha. Também aqui existem pormenores técnicos a atender. O rigor histórico determina que em cima de qualquer quadrúpede não possa acumular-se nada que se suspeite ser actual. São assim expressamente interditos volantes ou saxofones; não é invulgar ver voluntários locais a cavalo num macho, com um chapéu de almirante, uma espada de honra e um manto, onde os conhecidos e a mãe adivinharão certas cortinas, e onde foi desenhada pelos serviços culturais da câmara uma teoria heráldica de bichos em posição de ataque (acerca de cuja identificação as opiniões no entanto não parecem concordar).
Outra dificuldade logística deriva de, tirando possivelmente o caso da lezíria, o número de quadrúpedes grandes por município ser normalmente reduzido. Felizmente a imaginação é boa concelhia, o que permite que a maior parte das batalhas que mudaram o mundo sejam resolvidas entre oito cavaleiros a passo; os dezasseis animais mostram conhecer-se de outras lides: partilham toda uma tradição local, e uma história. Os lençóis brancos, os bombeiros, e a cruz do supermercado protegem-nos das moscas. Resolvida a Batalha, as marafonas e os homens da Idade Média bebem hidromel e comem maçarocas, que alguém terá trazido do Brasil num momento posterior.
Miguel Tamen
19/8/2016, 3:16
Observador
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