Falar de sustentabilidade

Sustentabilidade é um termo de comum utilização nos dias de hoje sendo recorrente o seu uso quer na área dos negócios, no ambiente ou mesmo na análise de processos, sistemas e ideias. É em definitivo um tema de que se fala, sem que, contudo, seja fácil perceber do que se fala, pela ausência de um referencial adequado bem como pela dificuldade em fazer análises comparativas, entre processos distintos ou entre diferentes fases do mesmo processo. 

São raros os sistemas de monitorização da sustentabilidade, não tanto porque sejam difíceis de conceber e implementar, mas, antes, porque implicam responsabilidade, compromisso e transparência, exigindo por isso uma forte componente de comunicação. Estas exigências obrigam a uma mudança de atitude que só resultará se suportada por uma estratégia de comunicação comprometida e inteligente, capaz de mobilizar todas as partes interessdas, o que, no caso da sustentabilidade, não deve deixar ninguém de fora.

A Agenda 2030 das Nações Unidas é uma oportunidade decisiva no que diz respeito à transição necessária, à alteração do modelo de desenvolvimento em vigor, incorporando de forma objectiva, e sobretudo prática, a sustentabilidade, de forma transversal e basilar nos processos de tomada de decisão e nas práticas dos agentes sociais e económicos, incluindo a esfera da decisão política.

Falar de sustentabilidade não é mais do que resumir as preocupações comuns e actuais dos cidadãos, nas vertentes económica, social e ambiental, sejam elas à escala da família, da comunidade, da empresa, da administração pública, do país, internacional ou global. E assim sendo, é fundamental uma estratégia de comunicação coerente que não permita a diluição do conceito e do nível de compromisso que cada um deve assumir para com a sustentabilidade. É necessário contrariar a imagem recorrente em que se observa os cidadãos a exigir a tomada de decisões no momento as grandes cimeiras globais, criticando os decisores pela modéstia no compromisso ou mesmo falta deste e, depois, quando o quadro referencial é aprovado, se assiste a uma demissão ou completo distanciamento dos cidadãos na implementação dos acordos, como se nada tivessem a ver com isso. É, novamente, um problema de comunicação. É por isso fundamental falar de sustentabilidade, todos os dias, e das mais variadas formas. No discurso político, na participação cívica, na educação, na legislação e nos processos administrativos, na tomada de decisão e na análise de risco, de modo a melhor aproveitar o que afinal a sustentabilidade pode aportar. 

Falar de sustentabilidade é assegurar que cada cidadão é responsável, por via do seu papel como utilizador e consumidor, já que é ,afinal, quem decide (ou devia decidir) sobre a velocidade da transição rumo a um modelo de desenvolvimento inovador, duradouro, minimizador de externalidades ambientais negativas, promotor da procura por bens e serviços sustentáveis e da aplicação de instrumentos económicos e incentivos apropriados. É preciso falar mais sobre sustentabilidade e fazer com que mais também falem.

António Domingos Abreu Biólogo
Diário de Notícias da Madeira
Sexta, 9 de Setembro de 2016