Mudar para melhor

Pedaços de madeira e de móveis, loiça partida para lá do possível reconhecimento, farrapos de roupas e restos da vida de quem ali assentara arraiais. Era este o cenário na ilha da Fuzeta no inverno de 2010, quando metade das casas foram arrancadas do chão à força do vento e das ondas. As construções, pobres como as famílias que ali as haviam plantado, incapazes de resistir à subida do mar num inverno mais rigoroso, cederam. Trinta e oito casas ficaram reduzidas a nada. É a repetição deste cenário, garante o responsável pela pasta do Ambiente, que agora se quer evitar. Por isso mesmo, os planos anunciados para a ria Formosa incluem a legalização das casas dos pescadores, a criação de novos bairros para os que ali não possam ficar e obras de melhoramento da zona - e, consequentemente, da qualidade de vida para quem pode ficar. Mas também haverá demolições, como há décadas é sabido que tem de acontecer. A limpeza que se começou a fazer nos últimos anos vai continuar. Tem de ser assim. Provavelmente, os restantes traços deste plano para melhorar a ria Formosa vão mesmo ser enterrados sob as vozes de protesto contra as demolições. Mas, por muito que isso custe a quem ali construiu qualquer coisa - e note-se que nenhuma das 81 casas que vão abaixo são primeira habitação de famílias -, deixar que a construção permaneça até ser levada pelo mar num inverno mais cruel não é solução. Não acaba com o risco a que as casas estão expostas nem resolve os problemas que a edificação naquelas línguas de terra traz ao ambiente. E que são muitos. Mudar nunca é fácil, mas há mudanças que têm mesmo de acontecer - não é possível continuar a empurrar com a barriga, correndo o risco de piorar a situação e pelo caminho perder os fundos comunitários que aqui podem dar uma boa ajuda. Com um planeamento bem feito e uma concretização igualmente rigorosa, a nova ria será muito melhor. Para todos.

29 DE SETEMBRO DE 2016
00:00
Joana Petiz
Diário de Notícias