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Portugal policêntrico
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Portugal policêntrico
Para vencermos a batalha da globalização, da captação de talento e do conhecimento, da competitividade à escala internacional, do emprego e da coesão social, temos de pensar o país com outros mapas nas secretárias dos decisores. políticos
Esqueça os mapas de Portugal que se habituou a conhecer, com os seus 18 distritos e os 308 municípios. Esse é o mapa que deveria ter ficado no baú do século xx porque não serve os interesses sociais e económicos do país. Para vencermos a batalha da globalização, da captação de talento e do conhecimento, da competitividade à escala internacional, do emprego e da coesão social, temos de pensar o país com outros mapas nas secretárias dos decisores políticos. E que tipo de mapas são esses? Naturalmente, aqueles que ultrapassam divisões administrativas distritais anacrónicas e fronteiras municipais artificiais. Precisamos de mapas que retratem o país à luz dos seus principais clusters económicos e dos seus maiores núcleos populacionais. Mapas policêntricos ou, dito de outro modo, cartas que representem o território com base no seu crescimento orgânico em múltiplos centros especializados. Isto é uma nova forma de organizar o país.
Porquê a urgência de pensar o país de outra maneira? Há números que nos mostram bem a realidade do país desequilibrado que fomos criando ao longo das últimas décadas. Repare-se no seguinte: sozinhos, os 20 maiores municípios do país - apenas 6,5% do total de câmaras - são responsáveis por 40% das exportações e por 60% da riqueza nacional; também é nestes 20 grandes que se gera 60% da coleta de IRS e quase 50% do IMI. Em média, sete em cada dez estudantes universitários estão numa destas 20 maiores cidades nacionais. Escusado será dizer que qualquer uma destas 20 cidades tem mais de 100 mil habitantes e está localizada na faixa litoral do país. Esta é a realidade do país depois de anos de políticas de combate à interioridade. Por mais bem-intencionadas que tenham sido as políticas de combate à desertificação, e foram, há uma regra que tem de ser sempre tida em conta: o progresso económico não se planta nem cresce como as alfaces.
Sabendo que as cidades são a força motriz do progresso no nosso tempo, o século metropolocêntrico, o nosso desafio é o de saber como potenciar e aperfeiçoar a organização territorial existente, e que foi capaz de escapar a décadas de planeamento político centralizado.
Agregação, especialização e conectividade das cidades são as três palavras--chave para entender o processo que temos pela frente.
Portugal enfrenta um doloroso inverno demográfico. Mesmo que o trabalho de reforma comece agora, vai demorar décadas a produzir resultados. O que, para todos os efeitos, significa que estamos a investir dinheiro e tempo em centros urbanos que, mais cedo do que mais tarde, não vão ter gente.
Por outro lado, as grandes matérias para o futuro das cidades não conhecem fronteiras: a integração de migrantes, a absorção dos choques tecnológicos, as políticas de transportes integrados e o combate às alterações climáticas são questões que interligam todas as cidades na geografia nacional (e internacional). O primeiro passo é garantir a sustentabilidade demográfica dos nossos centros urbanos. Isso pode fazer-se, por exemplo, por via da agregação de municípios. Tal iniciativa permitiria, para além de uma mais eficaz gestão de recursos, inaugurar um círculo virtuoso em que o ganho de massa crítica aumenta a competitividade do território, o que, por sua vez, atrai mais conhecimento e talento.
O segundo passo é o da especialização dos territórios. As cidades-cluster são territórios que apostam nas suas vantagens comparativas para cimentar o seu posicionamento no espaço nacional e europeu. A especialização, em cima da criatividade e da competência, permitiria abrir cadeias de valor e novas economias - como a economia do mar, a economia verde ou a economia das cidades.
O terceiro e último passo tem que ver com a conectividade. Com o território já bem ligado por infraestruturas viárias e equipamentos sociais, é urgente que o país feche a ligação das cidades-região através das redes de tecnologia e de informação.
Tal como um sistema orgânico, é a partir da rede capilar que podemos fazer crescer o todo nacional. De forma centrífuga, dos centros para as periferias.
O policentrismo urbano é uma das principais formas de organização das nações mais prósperas. A Alemanha tem um conjunto de cidades dominantes (Estugarda, Frankfurt, Berlim, Munique ou Düsseldorf). A Itália ultrapassou o anacronismo das dúzias de províncias e organiza-se hoje em 14 cidades metropolitanas. O Reino Unido assentou a sua estratégia de crescimento em três grandes pilares urbanos: Londres, Escócia e o eixo Leeds-Liverpool.
Durante muito tempo, desenhámos a régua e esquadro o país que gostaríamos que Portugal fosse. Talvez seja agora o tempo de adequar as nossas estruturas políticas àquilo que Portugal é e pode vir a ser.
05/10/2016
Carlos Carreiras
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
Esqueça os mapas de Portugal que se habituou a conhecer, com os seus 18 distritos e os 308 municípios. Esse é o mapa que deveria ter ficado no baú do século xx porque não serve os interesses sociais e económicos do país. Para vencermos a batalha da globalização, da captação de talento e do conhecimento, da competitividade à escala internacional, do emprego e da coesão social, temos de pensar o país com outros mapas nas secretárias dos decisores políticos. E que tipo de mapas são esses? Naturalmente, aqueles que ultrapassam divisões administrativas distritais anacrónicas e fronteiras municipais artificiais. Precisamos de mapas que retratem o país à luz dos seus principais clusters económicos e dos seus maiores núcleos populacionais. Mapas policêntricos ou, dito de outro modo, cartas que representem o território com base no seu crescimento orgânico em múltiplos centros especializados. Isto é uma nova forma de organizar o país.
Porquê a urgência de pensar o país de outra maneira? Há números que nos mostram bem a realidade do país desequilibrado que fomos criando ao longo das últimas décadas. Repare-se no seguinte: sozinhos, os 20 maiores municípios do país - apenas 6,5% do total de câmaras - são responsáveis por 40% das exportações e por 60% da riqueza nacional; também é nestes 20 grandes que se gera 60% da coleta de IRS e quase 50% do IMI. Em média, sete em cada dez estudantes universitários estão numa destas 20 maiores cidades nacionais. Escusado será dizer que qualquer uma destas 20 cidades tem mais de 100 mil habitantes e está localizada na faixa litoral do país. Esta é a realidade do país depois de anos de políticas de combate à interioridade. Por mais bem-intencionadas que tenham sido as políticas de combate à desertificação, e foram, há uma regra que tem de ser sempre tida em conta: o progresso económico não se planta nem cresce como as alfaces.
Sabendo que as cidades são a força motriz do progresso no nosso tempo, o século metropolocêntrico, o nosso desafio é o de saber como potenciar e aperfeiçoar a organização territorial existente, e que foi capaz de escapar a décadas de planeamento político centralizado.
Agregação, especialização e conectividade das cidades são as três palavras--chave para entender o processo que temos pela frente.
Portugal enfrenta um doloroso inverno demográfico. Mesmo que o trabalho de reforma comece agora, vai demorar décadas a produzir resultados. O que, para todos os efeitos, significa que estamos a investir dinheiro e tempo em centros urbanos que, mais cedo do que mais tarde, não vão ter gente.
Por outro lado, as grandes matérias para o futuro das cidades não conhecem fronteiras: a integração de migrantes, a absorção dos choques tecnológicos, as políticas de transportes integrados e o combate às alterações climáticas são questões que interligam todas as cidades na geografia nacional (e internacional). O primeiro passo é garantir a sustentabilidade demográfica dos nossos centros urbanos. Isso pode fazer-se, por exemplo, por via da agregação de municípios. Tal iniciativa permitiria, para além de uma mais eficaz gestão de recursos, inaugurar um círculo virtuoso em que o ganho de massa crítica aumenta a competitividade do território, o que, por sua vez, atrai mais conhecimento e talento.
O segundo passo é o da especialização dos territórios. As cidades-cluster são territórios que apostam nas suas vantagens comparativas para cimentar o seu posicionamento no espaço nacional e europeu. A especialização, em cima da criatividade e da competência, permitiria abrir cadeias de valor e novas economias - como a economia do mar, a economia verde ou a economia das cidades.
O terceiro e último passo tem que ver com a conectividade. Com o território já bem ligado por infraestruturas viárias e equipamentos sociais, é urgente que o país feche a ligação das cidades-região através das redes de tecnologia e de informação.
Tal como um sistema orgânico, é a partir da rede capilar que podemos fazer crescer o todo nacional. De forma centrífuga, dos centros para as periferias.
O policentrismo urbano é uma das principais formas de organização das nações mais prósperas. A Alemanha tem um conjunto de cidades dominantes (Estugarda, Frankfurt, Berlim, Munique ou Düsseldorf). A Itália ultrapassou o anacronismo das dúzias de províncias e organiza-se hoje em 14 cidades metropolitanas. O Reino Unido assentou a sua estratégia de crescimento em três grandes pilares urbanos: Londres, Escócia e o eixo Leeds-Liverpool.
Durante muito tempo, desenhámos a régua e esquadro o país que gostaríamos que Portugal fosse. Talvez seja agora o tempo de adequar as nossas estruturas políticas àquilo que Portugal é e pode vir a ser.
05/10/2016
Carlos Carreiras
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
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