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E se…
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E se…
Se o que parece, é, Trump não terá ido para a política por lassidão, por ter encontrado quem lhe continuasse a obra, ou por querer passar à História: foi porque estava metido em sarilhos. Nesta linha de raciocínio, a forma lógica seria a fuga para a frente: como Presidente, todos os pecados lhe seriam perdoados, as dívidas esquecidas, as contas saldadas, e, sobretudo, novas oportunidades seriam criadas.
“Surpreende-me que tanta gente se envolva em atividades criminosas, quando existem tantas formas legais de ser desonesto”.
Esta frase é de um homem, americano, de origem italiana, bem sucedido na vida, que chegou a ser capa da seriíssima revista TIME, na sua edição de 24 de Março de 1930, e considerado um dos personagens mais importantes do Mundo, a par de Albert Einstein e Mahatma Gandhi. Até que em 1931 foi detido, julgado e condenado a onze anos de prisão por evasão fiscal.
De seu nome completo Alphonse Gabriel Capone, passou à História como Al Capone, também conhecido como Scarface, alcunha que lhe veio da sua juventude turbulenta: uma cicatriz na face que constituía um atestado.
Teria ele razão? A sua condenação não teve a ver com os assassinatos de rivais (o mais célebre dos quais foi o do massacre do dia de S. Valentim), com o contrabando de álcool durante a Lei Seca, com a exploração do jogo clandestino ou da prostituição, áreas a que se dedicou com afinco. Apenas a fuga aos impostos o tramou…
Dir-se-ia que a elevação de estatuto (por via do poder de compra) o promoveu de gangster a empresário respeitado, atuando dentro das formas legais de ser desonesto.
Quase um século passado, o Mundo assiste a coisas que se julgavam impensáveis.
Entre elas o recente debate entre os dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos da América. Quando confrontado por Hillary Clinton sobre as suas fugas aos impostos, Donald Trump respondeu apenas “isso significa que sou esperto”; e, quando foi confrontado com o fato de não ter pago a empregados seus, disse que “provavelmente (sic), não fiquei satisfeito com o trabalho deles”.
Ou seja, já nem o espectro da fuga aos impostos, que tramou Al Capone, intimida Donald Trump. Para não falar do calote aos empregados (antigamente trabalhadores, agora colaboradores).
As notícias sobre a fortuna de Trump são muitas e variadas e, conhecendo o tipo de negócios e as pessoas envolvidas, não serão muito de fiar. No entanto, segundo várias fontes, entre elas a revista Forbes, ele teria perdido cerca de 800 milhões de dólares no ano passado, e teria uma dívida de 650 milhões de dólares em Agosto de 2016. A isto se somariam dívidas de 950 milhões ao Deutshe Bank e ao Bank of China – o que não seria assunto de particular interesse, se não fossem as declarações xenófobas de Donald Trum, e os insultos a quem tem negócios no estrangeiro.
Juntando os impostos em atraso, teríamos aqui uma conta calada, mesmo para um homem cuja fortuna está avaliada em 3,7 mil milhões de dólares.
Posto isto, vamos à questão de fundo: o que terá levado Donald Trump a enveredar pela política?
É da tradição anglo-saxónica, pelo menos a mais recente, que gente ligada ao mundo empresarial se transfira para a política, mesmo em caso de sucesso no mundo dos negócios. Sempre achei essa atitude muito interessante: mais vale ter na política alguém que conheça a vida das empresas que alguém que só conhece a vida dos empresários.
Sobretudo, ver singrar alguém que não segue a via entre nós tradicional: Jotas > Gabinetes > Parlamento > Governo > Nirvana.
Será a escolha de Donald Trump um exemplo deste trajeto? Não me parece; e não me parece porque, como magistralmente disse Bismarck, “em política, o que parece, é”. Não é por acaso que o “Chanceler de Ferro” era muito admirado por Henry Kissinger: o velho era mesmo sabido.
E se… houvesse outro motivo para a candidatura?
Se o que parece, é, Trump não terá ido para a política por lassidão, por ter encontrado quem lhe continuasse a obra, ou por querer passar à História: foi porque estava metido em sarilhos. Nesta linha de raciocínio, a forma lógica seria a fuga para a frente: como Presidente, todos os pecados lhe seriam perdoados, as dívidas esquecidas, as contas saldadas, e, sobretudo, novas oportunidades seriam criadas.
Só que Trump aplicou na campanha eleitoral aquilo que melhor sabe fazer, ou seja, aplicar as técnicas e ademanes de “pato bravo”. A quase candura com que reconheceu a fuga aos impostos ou a falta de pagamento aos operários demonstra isso mesmo.
A impreparação para o cargo não é exclusiva dele: o que é singular é a militância da ignorância, o apelo ao instinto primário, o refutar da lógica, as afirmações não minimamente comprovadas, e outras atitudes pelo menos surpreendentes, num país em que o civismo, o grau de cultura e a educação são tidos por elevados.
Diz-se, e está certo, que a Democracia moderna começou na América, passando à Europa através da Revolução Francesa, e daí passou a ser a aspiração de quase todo o Mundo.
Dado adquirido? Não tanto. Assistiu-se na própria Europa, entre as duas Guerras Mundiais, a um retrocesso marcante, em que as ditaduras foram a norma, com as exceções do Reino Unido, da França, da Checoslováquia, da Suíça e dos países escandinavos. O caso mais notável foi o da Alemanha, a nação que “inventou” a cultura, mas que levou ao poder Hitler e os seus seguidores, com o resultado que se viu.
Ou seja, a Democracia não é um dado adquirido, mas o resultado de uma dinâmica que, se interrompida, pode levar à queda de valores tidos como imutáveis.
Ver num país criado por imigrantes (os índios nunca contaram!) alguém martelar em discursos xenófobos é no mínimo absurdo; mas, no fundo, tão absurdo como as teorias raciais, desprovidas de suporte científico, que estiveram por detrás da maior tragédia do século XX. Em qualquer dos casos, são apelos a instintos primários, irracionais, desmentidos pela lógica mais elementar, mas que, em qualquer dos casos, arrastam multidões.
E se… Donald Trump ganhasse as eleições?
Pois bem, mandaria os seus inflamados discursos para o que os franceses chamam “les oubliettes de l´Histoire”, e trataria da sua vidinha.
Como sempre, à custa alheia.
Nuno Santa Clara
Barreiro
05.10.2016 - 13:20
Rostos
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