Calma com a euforia: há um porém!

Como dizia a manchete do Público, ontem: "Todos ganhamos". Ganhou o próprio porque era o que ele queria. Ganharam os portugueses, bastou ver o queixume da caixa de comentários de jornais espanhóis: "Só nós, nada..." Ganharam os socialistas portugueses, por poderem cravar a ironia: "Os nossos, quando saem de um cargo internacional e vão para outro, não envergonham." Ganhou a direita portuguesa porque sobre o assunto fizeram um pacto de regime. Ganhou a extrema-esquerda portuguesa porque, com o contentamento, deu mais um passinho para o regime. Ganharam os espanhóis porque Guterres leu Camilo José Cela, e calha falar espanhol, bom, para o mundo. Ganhou o mundo da língua portuguesa, disse um dela, o presidente cabo-verdiano. Ganharam os Estados Unidos porque foi quem queria. Ganhou a Rússia, que respirou de alívio. Ganhou a Europa, porque ganhou um europeu (e ponham europeu nisso). Ganharam os búlgaros porque não vão servir de provocação entre o martelo e a bigorna. Ganhou o Juncker, porque mostrou jeito para alguma coisa, desenhar corações. Ganharam os refugiados, um problema das nações, agora com especialista na sede. Ganhou a Angelina porque com o sucesso do amigo desanuviou. Só não ganhou a Angela. E isso merecia outra manchete: "Perdemos todos". Pelo menos nós. Porque é inquietante termos por patroa quem patrocinou aquela candidatura marada de Kristalina Georgieva. Um dia a Alemanha ainda dá cabo do Deutsche Bank.

07 DE OUTUBRO DE 2016
00:00
Ferreira Fernandes
Diário de Notícias