Preconceito

Desinteresse, dificuldades acrescidas de integração e socialização, redução da autoestima, vergonha e maior probabilidade de abandono escolar. Os efeitos adversos dos chumbos no ensino básico estão documentados e superam em larga escala as possíveis vantagens - a mais importante é a equiparação do estágio de desenvolvimento da criança às que se sentam na mesma aula. Razão pela qual cada vez mais teóricos do sistema educativo acreditam que reter um aluno só é justificável nos primeiros anos da primária. Não significa isto que todos devem ser tratados da mesma forma - dar nota máxima a um bom aluno e um miúdo que não tem a mais pálida ideia do que foi ensinado durante um ano inteiro ter também positiva não é distinção suficiente, ou justa - mas simplesmente que o chumbo deve ser o último recurso. Um professor não pode simplesmente desistir de uma criança que não está a aprender, mas antes deve dar-lhe maior atenção, apoio, fazer todos os esforços para garantir que ela não fica cada vez mais para trás. Não é fácil, sobretudo quando há garotos de mais para ensinar e matéria excessiva para encaixar nas horas determinadas. Mas é essa a tarefa - a missão - do professor. Essa vertente é por vezes esquecida, o que é um problema sério. No entanto, há notícias muito piores: é que parte dos miúdos que ficam retidos não são piores do que outros que passam de ano. Um estudo revela que, em igualdade de circunstâncias, alguns professores passam mais facilmente uma rapariga do que um rapaz, um português do que um estrangeiro, alguém que venha de um bairro socialmente aceite do que uma criança que vive em determinada região. Estamos a falar de crianças de 9 ou 10 anos com capacidades e níveis de aprendizagem indistintos: é o puro preconceito a ditar quem segue caminho e quem fica para trás. Podemos entender que haja falhas quando se ensina tantas vezes no limite. Mas não podemos aceitar que aqueles que ajudam a moldar futuros adultos os discriminem nesse processo. O diagnóstico está feito. É urgente encontrar a cura.

13 DE OUTUBRO DE 2016
00:00
Joana Petiz
Diário de Notícias