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Crescimento - Riscos do Investimento Público
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Crescimento - Riscos do Investimento Público
Assim, fico apreensivo quando uma classe política sem profundo conhecimento económico fala em nova vaga de investimento público
Em 2011 tornou-se moda na classe política falar na necessidade de crescimento económico para combater o desequilíbrio financeiro. Essa era uma minha insistente tese há mais de uma década. Mas, tal como antes, a política portuguesa continua a pouco fazer para além das epidérmicas aritméticas do défice, o “corta aqui, aumenta ali”.
A forma como este país subalterniza os ministros da economia perante os ministros das Finanças reflete uma enorme imaturidade estratégica. Um comentador que não domina a economia acaba de humilhar o ministro da Economia, que considera não ter peso político, como se peso político não devesse ser o das ideias e do rasgo criativo para o país, em lugar do critério provinciano de que ter peso político é fazer parte dos grupinhos de influências que retalham as duvidosas máquinas partidárias. Mas o potencial gigantesco para a mudança genial de Portugal está essencialmente fora dos partidos. A propósito, tenho uma boa impressão deste ministro da Economia. Mas o cheiro de intriga e sangue imediatamente mobilizou parte da nossa imprensa, o que evidencia outros atrasos. E, horror dos horrores para os interesses estabelecidos, Deus os livre de que aqueles que não emergem dos aparelhos partidários possam mudar o país e criar-lhe um futuro risonho!
O crescimento económico é ritualmente defendido por todos. Mas muitos não o entendem. O crescimento mais sustentável a prazo é o investimento produtivo privado que fica, não o de infraestruturas típicas do Estado, que são transitórias e introduzem dados parcialmente ilusórios nas estatísticas. O investimento público é importante se for concentrado naquilo que, genuinamente, é necessário e urgente. Contudo, o investimento público menos responsável pode constituir uma ameaça, não uma bênção. Porquê?
Não podemos fingir uma amnésia nacional que nos impede de compreender que grande parte da dívida pública com que os portugueses tanto sofrem decorre de, ao longo de muitos governos, se ter esmagado a nação com uma acumulação de encargos brutais com investimentos públicos faraónicos. A maioria dos decisores políticos não tem preparação na análise e seleção de investimentos. Mas algo mais perverte uma parte do investimento público ao longo de décadas. Qualquer governo nacional ou executivo camarário adora (o que é compreensível) “deixar obra” e criar números de crescimento económico. Existindo alguma liquidez é fácil fazê-lo, mas o perigo espreita.
O orçamento público é dinheiro dos cidadãos, que estes ganharam com o seu suor. Vejamos como é possível utilizar o dinheiro dos outros (os cidadãos) para beneficiar um poder político, fazendo aparato e propaganda enquanto se prejudica ainda mais os portugueses. Imagine-se um exemplo exagerado para sublinhar a realidade. Imaginemos que com fundos públicos se financia a construção de uma gigantesca coluna maciça de betão com 100 metros de diâmetro, que se irá elevar progressivamente em altura, cada vez mais alto, mais alto. Esta obra envolverá múltiplas empresas de construção e serviços e materiais associados, para além de emprego temporário. Tudo está a ser pago com o valor do suor dos portugueses. Como o PIB, que mede a economia, é um indicador de valor acrescentado, esta faraónica obra lança na contabilidade nacional um valor impressionante. O PIB cresce magicamente. Os recursos estão a ser drenados para esta obra. No final do ano as estatísticas mostram ao país e ao mundo que a economia portuguesa realizou o milagre, finalmente cresce com enorme vigor, um exemplo para o Universo. Os números estão certos. A economia cresceu. Mas temos que interpretar os números. O país está mais rico na contabilidade oficial mas os portugueses estão mais pobres. O seu dinheiro, tão necessário para muitas outras utilizações, foi imobilizado numa coluna de betão que é um ativo não transacionável e que para nada serve. Mas a propaganda política sublinha que a economia cresceu. É tudo uma ilusão. Na realidade, transferiu-se dinheiro dos bolsos dos cidadãos para os das empresas envolvidas na construção inútil (entre as quais talvez algumas que financiam partidos e políticos) e para os que temporariamente foram empregados. Ou pior.
Para o Euro 2004 foram objeto de vastas obras ou construídos de raiz 10 enormes estádios de futebol, incluindo novos estádios com o pretexto de acolher dois jogos num campeonato de três semanas. Rios de dinheiro dos cidadãos foram “enterrados” em estádios hoje praticamente vazios e que sugam dinheiro em cada dia, empobrecendo-nos. Mas o poder político nessa altura sublinhou que as obras desses estádios iriam elevar em 1% o crescimento económico. É espantoso.
Assim, fico apreensivo quando uma classe política sem profundo conhecimento económico fala em nova vaga de investimento público. Não porque ele não seja necessário, mas porque a forma como frequentemente ele é pouco inteligente em larga medida tem originado a gigantesca dívida pública nacional que nos destrói.
No próximo texto abordarei o investimento privado, o consumo interno e o mercado externo.
PEDRO JORDÃO
25/10/2016 - 05:13
Público
Em 2011 tornou-se moda na classe política falar na necessidade de crescimento económico para combater o desequilíbrio financeiro. Essa era uma minha insistente tese há mais de uma década. Mas, tal como antes, a política portuguesa continua a pouco fazer para além das epidérmicas aritméticas do défice, o “corta aqui, aumenta ali”.
A forma como este país subalterniza os ministros da economia perante os ministros das Finanças reflete uma enorme imaturidade estratégica. Um comentador que não domina a economia acaba de humilhar o ministro da Economia, que considera não ter peso político, como se peso político não devesse ser o das ideias e do rasgo criativo para o país, em lugar do critério provinciano de que ter peso político é fazer parte dos grupinhos de influências que retalham as duvidosas máquinas partidárias. Mas o potencial gigantesco para a mudança genial de Portugal está essencialmente fora dos partidos. A propósito, tenho uma boa impressão deste ministro da Economia. Mas o cheiro de intriga e sangue imediatamente mobilizou parte da nossa imprensa, o que evidencia outros atrasos. E, horror dos horrores para os interesses estabelecidos, Deus os livre de que aqueles que não emergem dos aparelhos partidários possam mudar o país e criar-lhe um futuro risonho!
O crescimento económico é ritualmente defendido por todos. Mas muitos não o entendem. O crescimento mais sustentável a prazo é o investimento produtivo privado que fica, não o de infraestruturas típicas do Estado, que são transitórias e introduzem dados parcialmente ilusórios nas estatísticas. O investimento público é importante se for concentrado naquilo que, genuinamente, é necessário e urgente. Contudo, o investimento público menos responsável pode constituir uma ameaça, não uma bênção. Porquê?
Não podemos fingir uma amnésia nacional que nos impede de compreender que grande parte da dívida pública com que os portugueses tanto sofrem decorre de, ao longo de muitos governos, se ter esmagado a nação com uma acumulação de encargos brutais com investimentos públicos faraónicos. A maioria dos decisores políticos não tem preparação na análise e seleção de investimentos. Mas algo mais perverte uma parte do investimento público ao longo de décadas. Qualquer governo nacional ou executivo camarário adora (o que é compreensível) “deixar obra” e criar números de crescimento económico. Existindo alguma liquidez é fácil fazê-lo, mas o perigo espreita.
O orçamento público é dinheiro dos cidadãos, que estes ganharam com o seu suor. Vejamos como é possível utilizar o dinheiro dos outros (os cidadãos) para beneficiar um poder político, fazendo aparato e propaganda enquanto se prejudica ainda mais os portugueses. Imagine-se um exemplo exagerado para sublinhar a realidade. Imaginemos que com fundos públicos se financia a construção de uma gigantesca coluna maciça de betão com 100 metros de diâmetro, que se irá elevar progressivamente em altura, cada vez mais alto, mais alto. Esta obra envolverá múltiplas empresas de construção e serviços e materiais associados, para além de emprego temporário. Tudo está a ser pago com o valor do suor dos portugueses. Como o PIB, que mede a economia, é um indicador de valor acrescentado, esta faraónica obra lança na contabilidade nacional um valor impressionante. O PIB cresce magicamente. Os recursos estão a ser drenados para esta obra. No final do ano as estatísticas mostram ao país e ao mundo que a economia portuguesa realizou o milagre, finalmente cresce com enorme vigor, um exemplo para o Universo. Os números estão certos. A economia cresceu. Mas temos que interpretar os números. O país está mais rico na contabilidade oficial mas os portugueses estão mais pobres. O seu dinheiro, tão necessário para muitas outras utilizações, foi imobilizado numa coluna de betão que é um ativo não transacionável e que para nada serve. Mas a propaganda política sublinha que a economia cresceu. É tudo uma ilusão. Na realidade, transferiu-se dinheiro dos bolsos dos cidadãos para os das empresas envolvidas na construção inútil (entre as quais talvez algumas que financiam partidos e políticos) e para os que temporariamente foram empregados. Ou pior.
Para o Euro 2004 foram objeto de vastas obras ou construídos de raiz 10 enormes estádios de futebol, incluindo novos estádios com o pretexto de acolher dois jogos num campeonato de três semanas. Rios de dinheiro dos cidadãos foram “enterrados” em estádios hoje praticamente vazios e que sugam dinheiro em cada dia, empobrecendo-nos. Mas o poder político nessa altura sublinhou que as obras desses estádios iriam elevar em 1% o crescimento económico. É espantoso.
Assim, fico apreensivo quando uma classe política sem profundo conhecimento económico fala em nova vaga de investimento público. Não porque ele não seja necessário, mas porque a forma como frequentemente ele é pouco inteligente em larga medida tem originado a gigantesca dívida pública nacional que nos destrói.
No próximo texto abordarei o investimento privado, o consumo interno e o mercado externo.
PEDRO JORDÃO
25/10/2016 - 05:13
Público
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