Blá, blá, blá

O governo português anunciou que tinha uma proposta para apresentar na CPLP, inscrita em tudo o que é documento que compromete o PS no poder, promovendo a "liberdade de fixação de residência". Tão ambiciosa que, em dez anos, poderia passar a ser um direito de liberdade de circulação para todos os cidadãos da comunidade. E cumpriu esse anúncio que fez? Sim. E não.

Ao que sabemos, à hora que escrevo esta crónica, António Costa ia propor, mas não ia apresentar nenhuma proposta. Confuso? É a política e a ideia de que não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão. Pela primeira vez, António Costa participa numa cimeira da CPLP e, não estando preparado para cumprir o que está no programa do governo, anuncia que um dia vai estar. Para já repetiu a ideia em que acredita.

É conversa. Conversa coerente com o que tem dito, mas apenas conversa. Aquilo que nos chegou a ser dito, sobre a apresentação de uma proposta que a ser aprovada por todos os Estados membros permitiria a liberdade de residência para todos os cidadãos da comunidade, foi muito importante para nos pôr a debater sobre a viabilidade de uma ideia que, afinal, não saiu do campo das ideias.

Mas não tendo feito o caminho que se esperava, quanto à liberdade de residência, a proposta foi tão mediática que nos pôs a todos a falar, inclusive ao Presidente da República, sobre a "ambição" de um dia ter um espaço Schengen ao estilo lusófono.

Discutir ideias nunca é uma perda de tempo, mas fazê-lo para ganhar a agenda mediática não traz grande proveito. Veremos onde vamos estar daqui a um ano, a dois ou a dez, no espaço temporal em que o governo coloca a ação concreta. Ambição era ter apresentado uma proposta efetiva para passar das ideias aos atos e saber se os restantes parceiros da CPLP gostam tanto como nós de surfar a onda.

01 DE NOVEMBRO DE 2016
00:00
Paulo Baldaia
Diário de Notícias