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O fim da era da independência dos bancos centrais

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O fim da era da independência dos bancos centrais Empty O fim da era da independência dos bancos centrais

Mensagem por Admin Seg Nov 14, 2016 12:12 pm

Nesta fase, ainda não sabemos realmente o que significará a presidência de Donald Trump. Nem sequer sabemos exatamente o que brexit quer dizer. Mas há duas consequências estreitamente relacionadas de ambos os acontecimentos: o fim da era da independência dos bancos centrais; e, concomitantemente, a perda de influência dos macroeconomistas académicos.

A independência de um banco central baseia-se em duas condições. A primeira, e mais importante, é que há um amplo consenso sobre os objetivos da política monetária. A segunda é que um conselho do banco central independente, geralmente composto por economistas profissionais, pode cumprir esses objetivos. A primeira dessas condições está comprometida. A segunda está sob uma nuvem sombria.

O consenso de 1989 a 2016 - a idade de ouro da globalização financeira - sustentava que os bancos centrais deveriam atingir uma taxa positiva de inflação baixa. Isso era apoiado pelas teorias macroeconómicas desenvolvidas desde a década de 1980. Parecia natural que uma nova geração de economistas, formados numa nova estirpe de modelos económicos, pudesse cumprir os objetivos que a sociedade desejava que eles cumprissem, livres das pressões da política do dia-a-dia.

Trump desafiou abertamente esse consenso. Os seus assessores económicos disseram ao Financial Times que a Reserva Federal dos Estados Unidos criou uma "falsa economia" e que o presidente eleito quer ver à frente da Fed alguém que reflita os seus próprios pontos de vista.

Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, mostrou ter uma posição quase idêntica com as suas críticas ao Banco de Inglaterra quando alertou sobre "os perniciosos efeitos colaterais". Em ambos os casos, os políticos estão a querer implementar uma mudança na combinação orçamental-monetária: uma política orçamental mais flexível, uma política monetária mais dura. Mas como é que se pode conseguir isso se a sua contraparte for independente?

Na zona euro, o consenso a favor da política do Banco Central Europeu da meta de inflação de pouco menos de 2% também se fragilizou, embora por razões diferentes. O poder económico alemão instituído nunca acreditou nela. Jürgen Stark, ex-membro da comissão executiva do BCE, diz que os tratados europeus só falavam sobre a necessidade de manter a estabilidade de preços; eles não davam ao BCE o poder para traduzir esse mandato numa meta de inflação numérica. O seu argumento é que uma taxa de inflação de 0% a 1%, como a atual, é perfeitamente compatível com a noção de estabilidade de preços. Consequentemente, não há razão para taxas de juro negativas para impulsionar a inflação, muito menos para a flexibilização quantitativa e outras políticas não convencionais.

Prevejo que, quando a economia recuperar e o BCE se vir forçado a elevar as taxas, os economistas italianos pedirão ao banco central que dê prioridade à estabilidade financeira em relação à estabilidade de preços, dada a fragilidade do setor financeiro italiano e o alto nível da dívida pública. Na zona euro, também não temos um consenso.

O ponto importante não é se aqueles que desafiam o consenso político estão certos ou errados. A visão do poder económico instituído é que a independência do banco central é uma coisa boa - o que não é surpreendente, uma vez que os economistas se beneficiam pessoalmente do sistema. Concordo com os que defendem que a independência do banco central não é nem necessária nem suficiente para a estabilidade dos preços.

Mas o que realmente importa é que o consenso se rompeu. Se um número suficientemente grande de pessoas quiser que o banco central imponha metas para o mercado de ações, para um índice de felicidade ou para as condições meteorológicas em vez de tomar medidas sobre a inflação, a independência perde-se. Isso só significa que a política monetária não pode mais ser remetida para peritos independentes. Ela deve, e irá, regressar ao que era em muitos países antes dos anos 1990: uma função integrada da política económica alargada de um governo.

Eu não espero que o fim da independência aconteça de um momento para o outro ou mesmo que seja total. A zona euro será a que irá oferecer mais resistência porque a independência está inscrita na lei europeia e é difícil imaginar que todos irão concordar com mudanças nos tratados. Uma união monetária não tem um governo do qual possa depender um banco central. O BCE será o equivalente em termos de banco central ao último resistente.

Os EUA e o Reino Unido têm formas mais fracas de independência do banco central por isso é possível que a mudança possa ocorrer mais cedo. A primeira etapa seria a nomeação de governadores politicamente conformes e de membros das comissões de política monetária mais políticos do que a atual safra académica. É assim que o Sr. Trump e a Sr.ª May subverterão o sistema e não necessariamente através da abolição formal do conceito de banco central independente.

O período da globalização financeira transformou o economista académico num político ativo - como banqueiro central e até como ministro das Finanças. A próxima década irá ver aparecer um conjunto completamente diferente de personagens e mecanismos institucionais.

Editor do Financial Times

14 DE NOVEMBRO DE 2016
00:02
Wolfgang Münchau
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