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Somos todos populistas
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Somos todos populistas
Quando é que alguém vai dizer com frontalidade que os europeus não são diferentes dos americanos, apenas são politicamente mais corretos.
É preciso dizê-lo com frontalidade: parte de nós está rendido ao populismo. Lá bem no fundo, naquele recanto que abriga o instinto e a irracionalidade, acenamos em concordância com quem rejeitamos e repudiamos em voz alta, visto levantar as questões que realmente nos revoltam e nos afastam da política.
Os líderes políticos defendem os nossos interesses ou governam numa gestão diária das condições que precisam de garantir para se manterem no poder? Como é que o euro que impulsionou as exportações alemãs, pelo facto de a sua moeda ter sido subavaliada, serve os países mais pequenos como Portugal, que viram disparar os preços? Que interesses defenderam então os políticos que negociaram as regras de funcionamento da moeda única, da qual somos hoje reféns por ser mais arriscado sair do que ficar? Que interesses se defenderam quando não desenhámos qualquer estratégia para que Portugal mantivesse uma vantagem competitiva sustentável que não os salários baixos? A classe média está esmagada por impostos que servem para pagar o Estado Social. Mas vamos dizê-lo em voz alta: essa classe média não vê os benefícios do Estado Social, apenas a fatura. E não a quer.
Apetece perguntar: queremos mesmo receber imigrantes ou gostamos só da ideia de que, em Bragança, há uma família de migrantes que se adaptou perfeitamente à comunidade e dá uma bela reportagem no telejornal? Em França, os franceses clamam o medo do dia em que “eles forem mais do que nós”. É nisto que as pessoas pensam. E é preciso ter muita resiliência intelectual para não nos deixarmos levar. Para pensarmos no longo prazo em vez do curto prazo. Para pensarmos que abdicar do sentimento coletivo trará vantagens imediatas ao indivíduo, mas condena avanços civilizacionais sem os quais nos arriscamos assistir ao pior que a Europa já assistiu.
É a isto que é preciso atender. Donald Trump venceu assim. Convenceu 44% das mulheres que insultou. Mais de metade do eleitorado branco com elevado nível de estudos. E a esmagadora maioria do chamado “white trash”. Tudo somado, os eleitores.
Os políticos do ‘establishment’ europeu têm duas alternativas: continuarem em negação ou mostrarem coragem para atender a estas preocupações com pragmatismo. Chamar as coisas pelos nomes sem se esconderem atrás da diabolização do discurso dos extremos que, à medida que se deterioram as condições de vida, pode parecer menos diabólico aos intelectualmente menos resilientes.
Que vai a Europa fazer às suas fronteiras? Como é que nos vai fazer sentir seguros? Como é que vai crescer mais, pagar melhor e gerar emprego? Quando é que os políticos vão decidir ocupar o lugar que está a ser roubado pelos não políticos perigosos ou pelos políticos mais perigosos? Quando é que alguém vai dizer com frontalidade que os europeus não são diferentes dos americanos, apenas são politicamente mais corretos, e que nas urnas não há testemunhas nem censura social sobre o seu sentido de voto?
Damos por nós a querer algo diferente sem pensarmos verdadeiramente na proposta que o diferente nos oferece. Passamos a reagir em vez de refletir. E é quando deixamos de pensar que perdemos o poder de decidir.
Alexandra Almeida Ferreira, Consultora
00:07
Jornal Económico
É preciso dizê-lo com frontalidade: parte de nós está rendido ao populismo. Lá bem no fundo, naquele recanto que abriga o instinto e a irracionalidade, acenamos em concordância com quem rejeitamos e repudiamos em voz alta, visto levantar as questões que realmente nos revoltam e nos afastam da política.
Os líderes políticos defendem os nossos interesses ou governam numa gestão diária das condições que precisam de garantir para se manterem no poder? Como é que o euro que impulsionou as exportações alemãs, pelo facto de a sua moeda ter sido subavaliada, serve os países mais pequenos como Portugal, que viram disparar os preços? Que interesses defenderam então os políticos que negociaram as regras de funcionamento da moeda única, da qual somos hoje reféns por ser mais arriscado sair do que ficar? Que interesses se defenderam quando não desenhámos qualquer estratégia para que Portugal mantivesse uma vantagem competitiva sustentável que não os salários baixos? A classe média está esmagada por impostos que servem para pagar o Estado Social. Mas vamos dizê-lo em voz alta: essa classe média não vê os benefícios do Estado Social, apenas a fatura. E não a quer.
Apetece perguntar: queremos mesmo receber imigrantes ou gostamos só da ideia de que, em Bragança, há uma família de migrantes que se adaptou perfeitamente à comunidade e dá uma bela reportagem no telejornal? Em França, os franceses clamam o medo do dia em que “eles forem mais do que nós”. É nisto que as pessoas pensam. E é preciso ter muita resiliência intelectual para não nos deixarmos levar. Para pensarmos no longo prazo em vez do curto prazo. Para pensarmos que abdicar do sentimento coletivo trará vantagens imediatas ao indivíduo, mas condena avanços civilizacionais sem os quais nos arriscamos assistir ao pior que a Europa já assistiu.
É a isto que é preciso atender. Donald Trump venceu assim. Convenceu 44% das mulheres que insultou. Mais de metade do eleitorado branco com elevado nível de estudos. E a esmagadora maioria do chamado “white trash”. Tudo somado, os eleitores.
Os políticos do ‘establishment’ europeu têm duas alternativas: continuarem em negação ou mostrarem coragem para atender a estas preocupações com pragmatismo. Chamar as coisas pelos nomes sem se esconderem atrás da diabolização do discurso dos extremos que, à medida que se deterioram as condições de vida, pode parecer menos diabólico aos intelectualmente menos resilientes.
Que vai a Europa fazer às suas fronteiras? Como é que nos vai fazer sentir seguros? Como é que vai crescer mais, pagar melhor e gerar emprego? Quando é que os políticos vão decidir ocupar o lugar que está a ser roubado pelos não políticos perigosos ou pelos políticos mais perigosos? Quando é que alguém vai dizer com frontalidade que os europeus não são diferentes dos americanos, apenas são politicamente mais corretos, e que nas urnas não há testemunhas nem censura social sobre o seu sentido de voto?
Damos por nós a querer algo diferente sem pensarmos verdadeiramente na proposta que o diferente nos oferece. Passamos a reagir em vez de refletir. E é quando deixamos de pensar que perdemos o poder de decidir.
Alexandra Almeida Ferreira, Consultora
00:07
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