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Portugal tem estratégia?
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Portugal tem estratégia?
Portugal está, há muito, refém da táctica. E falta-lhe estratégia. Política, económica, cultural, social. Vivemos entre os pequenos comícios e indignações do dia-a-dia sem olharmos para toda a floresta, aquilo que é estrutural a esta pobreza cíclica em que nos encontramos.
Sedentos entre a eterna dívida e o cíclico défice. Olhamos à volta e vemos o resultado de tido isso: centros de decisão fora das mãos de portugueses. Capitalistas sem capital. Estado atravancado na sua ineficiência enquanto continua ocupado por "boys" de todas as cores e sem ligação a grupos fortes nacionais como sucede noutros países, mesmo os que se dizem "liberais". Pelo meio dependemos de uma União Europeia onde o norte olha com sobranceria para o sul e não vê o pântano que criou com a sua cegueira ideológica e prepotência hegemónica.
Perante este panorama real, sucessivos governos vão governando à bolina do dia-a-dia. Sem uma agenda que crie um modelo de país que ansiamos. Basta olharmos para esta fragilidade: Portugal depende dos humores de uma agência de "rating" e das compras do BCE para se manter com crédito. É humilhante e indigno. Mas retrata um país que gasta fundos estruturais em pequenas coisas sem criar três ou quatro núcleos de valor que possam criar um modelo económico. E, pelos vistos, vamos continuar assim. Para agradar a todas as claques.
A fúria populista que afecta o mundo e a Europa têm a ver com isto. A decadência da social-democracia (como, antes, da democracia cristã) é o resultado da forma como aderiram a um liberalismo sem alma e sem sentido estratégico. Que contaminou políticos que só estão preocupados com o seu presente político e não com o devir (porque já não estarão no poder ou a tentar conquistá-lo). A erosão da democracia faz-se disso. A social-democracia europeia tornou-se fiel seguidora do liberalismo ortodoxo alemão (e do norte da Europa) e das amarras de um euro que apenas nos foi fazendo divergir cada vez mais da linha média de riqueza. O colapso do Estado social, que é cada vez mais impossível de sustentar neste clima de competição global e onde a classe média é espoliada da segurança e da crença no futuro, começa a ser evidente. O valor do trabalho está a tornar-se irreal e com a chegada em força da robotização vai colocar ainda mais desafios aos Estados que terão uma nova forma de instabilidade social para resolverem. Nada disso continua a ser discutido em Portugal, da mesma forma que ninguém se parece interessar por debater a sério um modelo de país.
Assistimos de braços cruzados à conquista das empresas pelo capital estrangeiro (muito dele de origem estatal de outros países) sem que isso inquiete quem quer que seja. E vamos danificando um dos últimos pilares do regime, a CGD, por motivações políticas ou ganâncias pessoais que deveriam ser postas em sentido. Queremos um país turístico e depois deixamos alegremente que se busque petróleo nos maiores oásis turísticos. Caminhamos para onde? Será esta uma "road to nowhere", como cantavam os Talking Heads nos seus bons tempos? Parece ser. A menos que alguém comece a vislumbrar um rumo. Não há já muito tempo.
Grande repórter
Fernando Sobral | fsobral@negocios.pt
24 de Novembro de 2016 às 20:50
Negócios
Sedentos entre a eterna dívida e o cíclico défice. Olhamos à volta e vemos o resultado de tido isso: centros de decisão fora das mãos de portugueses. Capitalistas sem capital. Estado atravancado na sua ineficiência enquanto continua ocupado por "boys" de todas as cores e sem ligação a grupos fortes nacionais como sucede noutros países, mesmo os que se dizem "liberais". Pelo meio dependemos de uma União Europeia onde o norte olha com sobranceria para o sul e não vê o pântano que criou com a sua cegueira ideológica e prepotência hegemónica.
Perante este panorama real, sucessivos governos vão governando à bolina do dia-a-dia. Sem uma agenda que crie um modelo de país que ansiamos. Basta olharmos para esta fragilidade: Portugal depende dos humores de uma agência de "rating" e das compras do BCE para se manter com crédito. É humilhante e indigno. Mas retrata um país que gasta fundos estruturais em pequenas coisas sem criar três ou quatro núcleos de valor que possam criar um modelo económico. E, pelos vistos, vamos continuar assim. Para agradar a todas as claques.
A fúria populista que afecta o mundo e a Europa têm a ver com isto. A decadência da social-democracia (como, antes, da democracia cristã) é o resultado da forma como aderiram a um liberalismo sem alma e sem sentido estratégico. Que contaminou políticos que só estão preocupados com o seu presente político e não com o devir (porque já não estarão no poder ou a tentar conquistá-lo). A erosão da democracia faz-se disso. A social-democracia europeia tornou-se fiel seguidora do liberalismo ortodoxo alemão (e do norte da Europa) e das amarras de um euro que apenas nos foi fazendo divergir cada vez mais da linha média de riqueza. O colapso do Estado social, que é cada vez mais impossível de sustentar neste clima de competição global e onde a classe média é espoliada da segurança e da crença no futuro, começa a ser evidente. O valor do trabalho está a tornar-se irreal e com a chegada em força da robotização vai colocar ainda mais desafios aos Estados que terão uma nova forma de instabilidade social para resolverem. Nada disso continua a ser discutido em Portugal, da mesma forma que ninguém se parece interessar por debater a sério um modelo de país.
Assistimos de braços cruzados à conquista das empresas pelo capital estrangeiro (muito dele de origem estatal de outros países) sem que isso inquiete quem quer que seja. E vamos danificando um dos últimos pilares do regime, a CGD, por motivações políticas ou ganâncias pessoais que deveriam ser postas em sentido. Queremos um país turístico e depois deixamos alegremente que se busque petróleo nos maiores oásis turísticos. Caminhamos para onde? Será esta uma "road to nowhere", como cantavam os Talking Heads nos seus bons tempos? Parece ser. A menos que alguém comece a vislumbrar um rumo. Não há já muito tempo.
Grande repórter
Fernando Sobral | fsobral@negocios.pt
24 de Novembro de 2016 às 20:50
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