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Geddel perdeu a casa e o emprego
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Geddel perdeu a casa e o emprego
Foto: REUTERS/Paulo Whitaker
O senhor do título, para os portugueses menos atentos ao Brasil, é um amigo fraterno de Temer.
Como “amigo fraterno”, e a expressão é do próprio Geddel Vieira Lima, minou o regime anterior, do qual fora ministro, e trabalhou nos bastidores para levar Temer do Jaburu, residência dos vices-presidentes, ao Alvorada, a casa dos presidentes. Em contrapartida, recebeu o influente Ministério da Secretaria do Governo.
Ao mesmo tempo, na sua Salvador natal, comprou, por um milhão de euros, um apartamento no 23º de um prédio de 30 andares ainda por erguer na zona histórica e ribeirinha da antiga capital do Brasil.
Acontece que o Iphan, o instituto público responsável pelo património histórico e artístico do país, proibiu a construção do tal edifício, por estar, ao lado de igrejas com quatro séculos. Irritado, Geddel pressionou o ministro da Cultura Marcelo Calero, que tutela o Iphan, para mudar a decisão. Pressionou uma, duas, três vezes. E, por pressão, inclua-se fazer queixinhas ao tal “amigo fraterno” que mora no Palácio do Alvorada.
Sem partido político, 36 verdes anos e diplomata de carreira, Calero demitiu-se. Porque, disse ele, enquanto agente público não podia ser pressionado a agir pelos interesses privados de um colega e ainda ser repreendido pelo presidente da República por não atender às pretensões do seu “amigo fraterno”.
Em entrevistas à imprensa e depoimento à polícia, Calero entregou Geddel (e Temer).
Este caso aconteceu nas primeiras semanas de Novembro. Recuemos seis meses, às primeiras semanas de Maio.
Temer está a formar o novo governo, ainda provisório, ao lado do caixão político da quase destituída Dilma Rousseff. No executivo, o “amigo fraterno” Geddel, apesar das inúmeras suspeitas (e provas) de corrupção e tráfico de influência ao longo da carreira política recomendarem o contrário, é um dos primeiros a ser nomeado. E logo para Ministro-Chefe da Secretaria do Governo, com direito a sentar-se ao lado direito do presidente.
Quem não tem lugar é Calero. Aliás, nem ele nem ninguém da área cultural porque, contrariando prática de 30 anos, Temer extingue o Ministério da Cultura. Mais tarde, atacado pela imprensa por se ter esquecido, além da Cultura, de nomear uma mulher entre os seus 25 ministros, convidou cinco senhoras para a pasta para matar dois coelhos de uma só cajadada. Como todas recusaram, o presidente virou-se para Calero, a sexta escolha.
Mas o primeiro instinto de Temer estava certo: extinguir a Cultura e mantê-la como mera secretaria sob a tutela do Ministério da Educação, entregue a Mendonça Filho (DEM), outro “amigo fraterno” cuja primeira ação no cargo foi receber recomendações sobre ensino do ator pornográfico Alexandre Frota. Ou então, mantê-la sob a alçada da presidência – a sua alçada.
Em ambos os casos, o Iphan ficaria controlado. E o tal edifício em Salvador, que tem um nome francês – La Vue – como mandam as mais elementares regras da breguice (piroseira, em português europeu), lá estaria, imponente, a ensombrar igrejas do séc. XVI. Geddel continuaria, durante a semana, sentado no Conselho de Ministros ao lado direito do presidente e, ao fim-de-semana, com uma vista (ou vue) até África. Assim, perdeu o emprego e a casa. E ainda dizem que a Cultura não é importante.
João Almeida Moreira
30.11.2016 / 08:41
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