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Um ano de quê?
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Um ano de quê?
A ilusão sobre o eleitorado terá efeitos nos parceiros. Lentamente, prepara-se um “takeover” sobre a coligação de esquerda. O tempo dirá se foi hostil e preconcebida.
Um ano passado sobre o início de funções do Governo e tudo e todos glorificam o executivo de António Costa. Coincide isto com uma oportuna sondagem em que o PS sobe nas intenções de voto, encaminhando-se para uma maioria, inclusive à custa dos seus parceiros de coligação.
Este Governo tudo dá e nada nega. Um ano em que sindicatos e partidos de esquerda se renderam ao facilitismo e ao pré-populismo de nada alterar e apenas repor. Tempo de – em nome do espírito de esquerda e da anti-austeridade – assegurar que os rendimentos fossem repostos de forma repentina, sem questionar a sustentabilidade ou as consequências futuras.
Quando se olha para o desempenho do Governo dificilmente se põem em causa os resultados. Mas olhando com atenção, todas as previsões falharam. Alguém se lembra do crescimento de 2,4% no cenário macroeconómico ou de 1,8% no orçamento para 2016, em março deste ano? Do desvio do controlo da dívida ou do aumento do consumo? Além disso, temos presente todos os episódios sobre a Caixa, onde se desconvidaram pessoas, se prometeu o impossível e se provocou um final infeliz.
O Governo é um caleidoscópio cuja imagem se modifica de acordo com o ângulo que se olha. Cumpridor, porque devolve rendimentos, paga e emprega mais. Aumenta mais pensões e promove a subida do salário mínimo, criando a convicção de que estamos melhor. Olhando mais de perto, constatamos que ele se limita apenas a desfazer o que a troika impôs. A mesma troika que o PS proporcionou. Este PS é o mesmo. Os ministros são daquele tempo. As políticas também.
Não se identifica uma única reforma deste Governo. Não se encontra uma decisão corajosa do Conselho de Ministros. E qualquer dificuldade que o Governo enfrenta, logo surge Carlos César, imperial, a incendiar em sentido contrário, desviando atenções e criando ruído.
Como pode haver alternativas a uma não-política? Como apresentar novas propostas que serão proscritas, apropriadas, assumidas e, mais tarde, destruídas? Como jogar este jogo viciado quando é o futuro que está em causa?
Importa deixar alertas. Avisos de que este laxismo de decisão, este cenário de ocasião pode cair de um momento para o outro. Dizia Abraham Lincoln que “pode-se enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas não se pode enganar todas as pessoas o tempo todo”. Um dia, seremos confrontados com as consequências deste facilitismo, deste embalo com que o Governo nos envolve.
Esta ilusão sobre o eleitorado terá efeitos nos parceiros. Lentamente, prepara-se um “takeover” sobre a coligação de esquerda. O tempo dirá se foi hostil e preconcebida. Claro que o PS não vai precisar de coligações autárquicas. Até lá tentará tomar as posições dos seus parceiros.
Campainhas podem começar a tocar nas sedes do BE ou do PCP… mas tal será consequência da sua arrogância. De uma alegada superioridade de ser de esquerda. Do sentimento de que a esquerda defende mais as pessoas. Quando isso for mais visível, a “outra esquerda” encontrará fundamentos para contestar o PS e o Governo. Mas em seu tempo pagarão esse preço.
Nestes 12 meses, nada se construiu. Ao contrário do que muitos hoje dizem não há razões para festejar. Só para gozar enquanto se pode.
António Rodrigues, Advogado
00:09
Jornal de Económico
Um ano passado sobre o início de funções do Governo e tudo e todos glorificam o executivo de António Costa. Coincide isto com uma oportuna sondagem em que o PS sobe nas intenções de voto, encaminhando-se para uma maioria, inclusive à custa dos seus parceiros de coligação.
Este Governo tudo dá e nada nega. Um ano em que sindicatos e partidos de esquerda se renderam ao facilitismo e ao pré-populismo de nada alterar e apenas repor. Tempo de – em nome do espírito de esquerda e da anti-austeridade – assegurar que os rendimentos fossem repostos de forma repentina, sem questionar a sustentabilidade ou as consequências futuras.
Quando se olha para o desempenho do Governo dificilmente se põem em causa os resultados. Mas olhando com atenção, todas as previsões falharam. Alguém se lembra do crescimento de 2,4% no cenário macroeconómico ou de 1,8% no orçamento para 2016, em março deste ano? Do desvio do controlo da dívida ou do aumento do consumo? Além disso, temos presente todos os episódios sobre a Caixa, onde se desconvidaram pessoas, se prometeu o impossível e se provocou um final infeliz.
O Governo é um caleidoscópio cuja imagem se modifica de acordo com o ângulo que se olha. Cumpridor, porque devolve rendimentos, paga e emprega mais. Aumenta mais pensões e promove a subida do salário mínimo, criando a convicção de que estamos melhor. Olhando mais de perto, constatamos que ele se limita apenas a desfazer o que a troika impôs. A mesma troika que o PS proporcionou. Este PS é o mesmo. Os ministros são daquele tempo. As políticas também.
Não se identifica uma única reforma deste Governo. Não se encontra uma decisão corajosa do Conselho de Ministros. E qualquer dificuldade que o Governo enfrenta, logo surge Carlos César, imperial, a incendiar em sentido contrário, desviando atenções e criando ruído.
Como pode haver alternativas a uma não-política? Como apresentar novas propostas que serão proscritas, apropriadas, assumidas e, mais tarde, destruídas? Como jogar este jogo viciado quando é o futuro que está em causa?
Importa deixar alertas. Avisos de que este laxismo de decisão, este cenário de ocasião pode cair de um momento para o outro. Dizia Abraham Lincoln que “pode-se enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas não se pode enganar todas as pessoas o tempo todo”. Um dia, seremos confrontados com as consequências deste facilitismo, deste embalo com que o Governo nos envolve.
Esta ilusão sobre o eleitorado terá efeitos nos parceiros. Lentamente, prepara-se um “takeover” sobre a coligação de esquerda. O tempo dirá se foi hostil e preconcebida. Claro que o PS não vai precisar de coligações autárquicas. Até lá tentará tomar as posições dos seus parceiros.
Campainhas podem começar a tocar nas sedes do BE ou do PCP… mas tal será consequência da sua arrogância. De uma alegada superioridade de ser de esquerda. Do sentimento de que a esquerda defende mais as pessoas. Quando isso for mais visível, a “outra esquerda” encontrará fundamentos para contestar o PS e o Governo. Mas em seu tempo pagarão esse preço.
Nestes 12 meses, nada se construiu. Ao contrário do que muitos hoje dizem não há razões para festejar. Só para gozar enquanto se pode.
António Rodrigues, Advogado
00:09
Jornal de Económico
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