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Mensagem por Admin Sex Dez 16, 2016 1:33 pm

Aprendi desde pequeno que há muitos anos conquistámos o mundo, há quem diga até que o ‘descobrimos’. Sempre fui um entusiasta dessas histórias dos Descobrimentos em que fomos pelo mar afora contra ventos e marés. Diziam-me que isso era o nosso passado glorioso, mas que representava também o futuro, o que há de vir e nos glorificará outra vez. Porque o nosso país está virado para ele, literalmente dentro de água. Oiço com atenção gerações de políticos referirem-se como o nosso maior tesouro.

O que é certo é que pouco ou nada tem sido feito para aproveitar a imensa costa marítima que nos foi reservada no mapa, e se somos um país pequeno, em que a nossa maior fronteira é com a água, se não tiramos proveito dela como poderemos aspirar a ser grandes novamente? Como é possível em pleno século XXI – era do digital, do espaço e da inovação – nem uma ligação profunda de comércio, de hotelaria e de serviços ter sido já estabelecida entre Lisboa e a margem sul do rio Tejo?

Existe todo um admirável mundo novo por explorar, esse mundo Atlântico que nos une a diversas cidades e povos com quem podemos e devemos estabelecer relações, estreitar os laços existentes por esta cultura marítima tantas vezes usada para unir povos. Nós, o país das autoestradas, tivemos desde sempre a maior autoestrada construída pela lei da natureza diante nós e virámo-nos para dentro, não aprendendo com os nossos antepassados nem aproveitando uma das maiores riquezas (talvez a maior) do planeta: a água. Para tudo.

Se fizermos uma linha imaginária no oceano Atlântico e olharmos com atenção para o potencial estratégico dos Açores, Madeira, Cabo Verde, Canárias e São Tomé, bem como os espaços insulares da Guiné Bissau ou Equatorial e outros países como o Brasil ou Angola facilmente constatamos que aquilo que nos une é muito mais forte do que nos pode separar. Este novo reposicionamento estratégico assente na língua, na cultura, nas artes e no entretenimento é um bem que devemos rentabilizar, se queremos de facto ter um futuro risonho. E mais cedo do que pensamos teremos hotéis dentro de água, transportes mais eficientes e mais rápidos que nos levarão em minutos aos nossos destinos, casinos em forma de barcos, eventos em plataformas marítimas.

Frederico Morais, com a entrada no Circuito Mundial de Surf, pode ter dado o mote para que nos lembremos novamente que temos um novo caminho marítimo para percorrer: o do desporto da cultura transatlântica, da relação entre os povos que comungam desta sorte, comercial, económica, social. O mundo atlântico está a chegar e será a terra das oportunidades do próximo século e nós somos uns afortunados porque estamos rodeados dele. Está na altura de criar essas pontes, fazendo confluir interesses conjuntos, criar uma identidade própria que nos faça crescer em conjunto e apostar, de uma vez por todas, numa aliança cultural e, porque não, até criativa, que nos permita construir com todos aqueles com quem fazemos fronteira marítima uma nova história. Estes serão os ‘marinheiros’ do futuro.

16/12/2016
José Paulo do Carmo 
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