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Mensagem por Admin Sáb Dez 17, 2016 12:20 pm

Olhava para a TV num sábado passado e estava a dar um programa de entretenimento chamado «Os donos disto tudo».

Concretamente, estava a dar um «sketch» com um casal simples a celebrar o aniversário de casamento num restaurante, onde humildemente pediram a ementa ao maître do hotel, que lhes respondeu de imediato que não tinha lista, mas sim um menu-degustação e que, portanto, não seria um jantar mas uma «experiência única», como soe dizer-se agora na comunicação turística.

Ele tanto falou das «experiencias» que iria proporcionar ao casal que os assustou levando-os a abandonar o recinto e ir embora deixando-o a falar sozinho, e como a fome era muita, foram a uma roulotte que tinham visto ali por perto comer um cachorro quente.

Claro que se tratava de uma rábula ao tipo de cozinha, que hoje em dia um «chef», que se preze, é suposto apresentar num restaurante, dito, bem frequentado.

Isso permite-nos afirmar que a criatividade na cozinha de um restaurante, autónomo ou de um hotel, tem limites, que são a circunstância dos ingredientes utilizados num prato deverem saber a si mesmos e não a uma mistura indefinida de sabores, tal como muitas vezes sucede na «cozinha molecular» ou com «guarnições de espuma» que não sabem a nada natural (tal como se espera de um produto da terra).

Mas, quando se pensa na invasão turística que o país tem tido (como recentemente na Web- summit), com a maioria dos turistas a elogiar a cozinha portuguesa (pelo que se lê nos inquéritos aos mesmos), será porque preferem o peixe na terra deles apresentado em filete, sobre uma «cama» de vegetais ou de um legume qualquer (por vezes até com o mesmo molho a ser aplicado em pratos diferentes) ou em Portugal, onde o peixe é muito fresco e, muito provavelmente, vem «escalado», com vegetais frescos, por vezes de horta própria?

Eu próprio aderi a essa tese numa fase da minha vida, mas agora, depois de ter viajado um pouco pelo Mundo, dou mais valor à comida simples, que se faz em casa, embora com algum requinte, nomeadamente na forma de apresentar o prato, mesmo tradicional ou regional, como sucedia nas Pousadas de Portugal, onde tive o prazer de ter trabalhado com o «chef» Leonel Pereira na defesa da cozinha regional inovada (os actuais responsáveis pela cadeia estão a tentar manter o conceito, que é, a meu ver, o caminho certo).

Chegados aqui, é caso para perguntar, quem se desloca do seu país para comer a mesma coisa que come no seu, e no mesmo modo de confecionar? Só um cego é que não vê o contentamento dos estrangeiros que comem peixe, por sortilégio, nalgumas esplanadas da Baixa de Lisboa ou nos centros piscatórios de Portimão, Sines, Sesimbra, Peniche, Nazaré, Matozinhos, etc.

Quero com isto dizer que não há lugar para «as cozinhas do mundo» ou para os restaurantes com estrelas Michelin? Não, há lugar par esses (ouvi dizer que Portugal se preparava para ter 19 locais com estrelas Michelin!), nem que sejam para os locais com suficiente poder de compra, que tenham prazer em experimentar comida sofisticada e criativa e queiram diversificar as suas «experiencias» gastronómicas, até ao limite?

É caso para dizer, como a maioria dos turistas dirá, pensa-se, para quê complicar o que é simples e agradável ao paladar?

NUNO JARDIM FERNANDES / 17 DEZ 2016 / 02:00 H.
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