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Mensagem por Admin Seg Jan 02, 2017 5:04 pm

O ano de 2016, inicialmente carregado de incertezas várias, acabou por nos trazer um ambiente de estabilidade que há muito não se vivia. Sob este ponto de vista, o ano findo foi positivo apesar de não ter sido ainda um ano de viragem marcado por um maior crescimento da economia portuguesa.

Após vários anos de austeridade, as políticas redistributivas prosseguidas aliviaram o nível de sacrifícios impostos a vários setores sociais e profissionais. Não asseguram, todavia, uma melhoria sustentada de crescimento económico que permita, a médio e longo prazo, uma melhoria generalizada das condições de vida.

Apesar do maior crescimento económico registado desde finais de 2013, este tem sido insuficiente e frágil a ponto de o país não ter recuperado ainda o nível de produção existente em 2008, ano inicial da crise que nos tem afetado. A preços de 2010, estamos ainda a produzir menos dez mil milhões de euros do que produzimos naquele ano. Com um nível de produção mais baixo não podemos de forma alguma estar melhor do que estávamos. Só poderemos ter mais se produzirmos mais. Só com mais crescimento poderemos ter mais e melhor emprego e assegurar a melhoria de rendimentos e bem estar. É este o principal desafio com que nos confrontamos.

O maior ou menor crescimento é determinado pela dinâmica da procura interna e da procura externa.

O aumento do investimento, nacional e estrangeiro, deve ser o desígnio central das políticas a prosseguir no futuro.
FERNANDO TEIXEIRA DOS SANTOS

A estabilidade e a confiança quer quanto à situação interna do país quer quanto à evolução da economia mundial são fatores decisivos que influenciam o comportamento dos consumidores e dos investidores. No plano externo pairam várias incertezas: subsistem focos de tensão geo-política que continuarão a condicionar a economia mundial; há receios de tensões adicionais resultantes de uma orientação mais protecionista da administração Trump nos Estados Unidos; e, não menos importante, as divisões internas na UE e a crescente influência política de movimentos populistas e anti-europeus dificultam a definição de uma nova política económica europeia que promova a adoção de políticas de estímulo ao crescimento. Apesar destas sombras que se vislumbram no quadro externo, as empresas portuguesas não podem deixar de continuar, como muito bem têm vindo a fazê-lo, a apostar na melhoria da sua posição competitiva externa permitindo assim que as exportações continuem a dar um contributo decisivo para o crescimento. 

No plano interno, como referi, chegamos ao final de 2016 com um quadro francamente melhor do que aquele que tínhamos no início do ano: as perspetivas de estabilidade política reforçaram-se e a estabilidade financeira, em especial das finanças públicas, está assegurada. Importa agora que estas melhorias se traduzam no reforço dos níveis de confiança para que se registe uma maior dinâmica da procura interna. Uma vez que, no quadro internacional acabado de referir, não será de esperar que a procura externa venha a dar um forte estímulo ao crescimento, a procura interna será decisiva para o crescimento da economia portuguesa.

De todas as componentes da procura, o investimento é precisamente aquela que pode contribuir simultaneamente para o aumento da procura interna e para o reforço da capacidade exportadora da economia. Daí que o aumento do investimento, nacional e estrangeiro, deva ser o desígnio central das políticas a prosseguir no futuro. Em particular, o investimento público terá que ser usado como alavanca do investimento privado. O facto de Portugal deixar de ter um défice excessivo permitirá uma aplicação mais flexível do Pacto de Estabilidade/Tratado Orçamental. Tirando partido deste facto, poderá promover-se o uso mais rápido dos fundos comunitários e acelerar-se o recurso aos apoios previstos no Plano de Investimento para a Europa (Plano Juncker).

A dinamização do investimento privado requer também confiança e não há confiança sem estabilidade: estabilidade financeira, estabilidade política e estabilidade fiscal. Se no que respeita à estabilidade financeira, as finanças públicas não serão motivo de preocupação, já o mesmo não se pode dizer do sistema bancário. Os níveis de crédito em risco não cessaram de se agravar, comprometendo a capacidade de crédito dos bancos à economia. Mais investimento exige mais financiamento e este requer geração de poupança e um sistema bancário sólido, rentável e estável. O elevado nível de crédito em risco é uma ameaça a todos destes requisitos que importa neutralizar a bem da economia.

Fernando Teixeira dos Santos
02 de Janeiro de 2017 às 14:00
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