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Portugal na periferia dos populismos
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Portugal na periferia dos populismos
Cumprindo aquilo que tem sido uma tradição recente, Portugal está uma vez mais na periferia da grande mudança que afeta as democracias de hoje - o surgimento eleitoral dos novos populismos e o progressivo enfraquecimento dos partidos tradicionais. Somos um dos poucos países ricos que, tendo uma alta taxa de insatisfação com a democracia atual e as instituições políticas vigentes, não estão sobre pressão de qualquer movimento populista. Na verdade, podemos dizer mais - os protagonistas políticos são os mesmos há muitos anos. E não se vislumbra qualquer desafio à classe política instalada.
À direita, além da memória ainda algo recente de uma ditadura autoritária e conservadora envolvida numa guerra em que morreram quase nove mil portugueses, a fraca imigração (que perdeu importância económica e demográfica depois da crise de 2009) e a ausência de refugiados explica que não haja qualquer pulsar de natureza racista, xenófoba ou fascista (isto, evidentemente, não quer dizer que não haja racismo em Portugal). O único partido que aposta nesta linha ideológica é o PNR. Pouco ultrapassou os 27 mil votos em 2015 (teve 18 mil votos em 2011). Podemos, pois, dizer com segurança que deste lado não haverá surpresas.
À esquerda, há evidentemente espaço para um populismo do estilo Syriza/Podemos/La France Insoumise. O Bloco de Esquerda navega nessas águas desde a sua criação. Contudo, a solução governativa encontrada pela esquerda para afastar definitivamente a PaF do poder executivo teve consequências importantes a este nível. Apesar de não integrar o governo, o Bloco está comprometido com uma solução que não contesta o sistema económico e social vigente, a Europa, o mercado ou a globalização. Enquanto durar a gerigonça, não há grande chance para um populismo de esquerda em Portugal. António Costa, mérito seu, é o dique que impede esse populismo de ter a força que tem na Grécia ou em Espanha. E, mesmo depois da experiência da gerigonça, não é muito provável que o Bloco de Esquerda possa assumir o papel do Syriza ou do Podemos na democracia portuguesa, dada a contradição inerente entre um movimento populista e o apoio a um partido do sistema (aliás, o mais provável é que o Bloco acabe mais parecido com os Verdes alemães). Já sorpasso nem vislumbrar.
Sobra, pois, o populismo antissistema, do qual o Movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo é o exemplo mais reconhecido. Neste caso, porém, o sistema tem beneficiado de um conjunto de circunstâncias bastante favorável. A primeira tentativa, Marinho Pinto, até teve uma entrada prometedora. Quase 235 mil votos e dois eurodeputados em 2014 foi mesmo um grande resultado eleitoral (não esqueçamos que, desde 1987, nenhum partido sem representação parlamentar na Assembleia da República conseguiu eleger eurodeputados). No entanto, chegados às legislativas de 2015, ficou-se por 62 mil votos. A personalidade do candidato, a estratégia completamente desastrosa, a falta de capacidade mobilizadora de rostos conhecidos, a ausência de qualquer programa político matou esta primeira tentativa.
A segunda tentativa, Paulo de Morais, apareceu nas eleições presidenciais do ano passado. O resultado não foi medíocre, tendo mesmo ultrapassado os cem mil votos a nível nacional. Em eleições legislativas teria entrado na Assembleia da República e, provavelmente, seria hoje uma força política em crescimento (22 mil votos em Lisboa e no Porto teriam eleito um deputado em cada distrito). Mas o candidato enganou-se e preferiu as eleições presidenciais, em que a relevância política acaba na contagem dos votos (apesar de serem apresentados como candidatos antipartidos, nem Manuel Alegre, com os seus 1,1 milhões de votos em 2006, nem Fernando Nobre, com os seus 595 mil votos em 2011, conseguiram prolongar os seus movimentos políticos para lá da noite eleitoral), em vez de apostar nas legislativas, em que a eleição de deputados é necessariamente o objetivo primordial de qualquer partido em Portugal.
Não podemos descartar que uma terceira tentativa tenha mais êxito e venhamos a ter um movimento populista antissistema em próximas eleições legislativas. A solução governativa (que prende o Bloco de Esquerda), a profunda crise da direita (que deixará uma larga margem do seu eleitorado órfã de um projeto mobilizador) e os 500 mil votos perdidos para a abstenção entre 1995 e 2015 são uma ótima combinação para aproveitar a qualquer populista. Contudo, não temos qualquer indicação de que esse pulsar populista esteja em ebulição. Assim sendo, o mais provável é que Portugal esteja na periferia dos populismos por muito tempo.
10 DE JANEIRO DE 2017
00:00
Nuno Garoupa
Diário de Notícias
À direita, além da memória ainda algo recente de uma ditadura autoritária e conservadora envolvida numa guerra em que morreram quase nove mil portugueses, a fraca imigração (que perdeu importância económica e demográfica depois da crise de 2009) e a ausência de refugiados explica que não haja qualquer pulsar de natureza racista, xenófoba ou fascista (isto, evidentemente, não quer dizer que não haja racismo em Portugal). O único partido que aposta nesta linha ideológica é o PNR. Pouco ultrapassou os 27 mil votos em 2015 (teve 18 mil votos em 2011). Podemos, pois, dizer com segurança que deste lado não haverá surpresas.
À esquerda, há evidentemente espaço para um populismo do estilo Syriza/Podemos/La France Insoumise. O Bloco de Esquerda navega nessas águas desde a sua criação. Contudo, a solução governativa encontrada pela esquerda para afastar definitivamente a PaF do poder executivo teve consequências importantes a este nível. Apesar de não integrar o governo, o Bloco está comprometido com uma solução que não contesta o sistema económico e social vigente, a Europa, o mercado ou a globalização. Enquanto durar a gerigonça, não há grande chance para um populismo de esquerda em Portugal. António Costa, mérito seu, é o dique que impede esse populismo de ter a força que tem na Grécia ou em Espanha. E, mesmo depois da experiência da gerigonça, não é muito provável que o Bloco de Esquerda possa assumir o papel do Syriza ou do Podemos na democracia portuguesa, dada a contradição inerente entre um movimento populista e o apoio a um partido do sistema (aliás, o mais provável é que o Bloco acabe mais parecido com os Verdes alemães). Já sorpasso nem vislumbrar.
Sobra, pois, o populismo antissistema, do qual o Movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo é o exemplo mais reconhecido. Neste caso, porém, o sistema tem beneficiado de um conjunto de circunstâncias bastante favorável. A primeira tentativa, Marinho Pinto, até teve uma entrada prometedora. Quase 235 mil votos e dois eurodeputados em 2014 foi mesmo um grande resultado eleitoral (não esqueçamos que, desde 1987, nenhum partido sem representação parlamentar na Assembleia da República conseguiu eleger eurodeputados). No entanto, chegados às legislativas de 2015, ficou-se por 62 mil votos. A personalidade do candidato, a estratégia completamente desastrosa, a falta de capacidade mobilizadora de rostos conhecidos, a ausência de qualquer programa político matou esta primeira tentativa.
A segunda tentativa, Paulo de Morais, apareceu nas eleições presidenciais do ano passado. O resultado não foi medíocre, tendo mesmo ultrapassado os cem mil votos a nível nacional. Em eleições legislativas teria entrado na Assembleia da República e, provavelmente, seria hoje uma força política em crescimento (22 mil votos em Lisboa e no Porto teriam eleito um deputado em cada distrito). Mas o candidato enganou-se e preferiu as eleições presidenciais, em que a relevância política acaba na contagem dos votos (apesar de serem apresentados como candidatos antipartidos, nem Manuel Alegre, com os seus 1,1 milhões de votos em 2006, nem Fernando Nobre, com os seus 595 mil votos em 2011, conseguiram prolongar os seus movimentos políticos para lá da noite eleitoral), em vez de apostar nas legislativas, em que a eleição de deputados é necessariamente o objetivo primordial de qualquer partido em Portugal.
Não podemos descartar que uma terceira tentativa tenha mais êxito e venhamos a ter um movimento populista antissistema em próximas eleições legislativas. A solução governativa (que prende o Bloco de Esquerda), a profunda crise da direita (que deixará uma larga margem do seu eleitorado órfã de um projeto mobilizador) e os 500 mil votos perdidos para a abstenção entre 1995 e 2015 são uma ótima combinação para aproveitar a qualquer populista. Contudo, não temos qualquer indicação de que esse pulsar populista esteja em ebulição. Assim sendo, o mais provável é que Portugal esteja na periferia dos populismos por muito tempo.
10 DE JANEIRO DE 2017
00:00
Nuno Garoupa
Diário de Notícias
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