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Dá-me os teus pobres
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Dá-me os teus pobres
Em Los Angeles costuma dizer-se que se fores mesmo amigo de alguém nunca lhe pedes para te ir levar ou buscar ao LAX, o aeroporto internacional da cidade. É um caos sem fim de trânsito, obras e parques de estacionamento caros, labirínticos, que se espalham por vários terminais. "Gostava tanto de ir ter contigo ao LAX", disse ninguém, nunca. E no entanto milhares de pessoas decidiram passar este fim de semana - abençoado por um sol glorioso após uma temporada atípica de chuva - enfiadas nas partidas e chegadas do aeroporto.
Estavam ali para protestar a mais recente ordem executiva do presidente Donald Trump, que no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto decidiu suspender a entrada de cidadãos provenientes de sete países de maioria muçulmana, além de banir a receção de refugiados Sírios por tempo indeterminado.
A circulação entre terminais chegou a estar cortada devido à afluência de manifestantes, familiares das pessoas afetadas pela medida e advogados de imigração que acorreram para oferecer os seus serviços pro bono. No ban, no wall foi um dos cânticos que se ouviram em várias cidades do país, já que a ordem lançou o caos nos aeroportos e a confusão entre os próprios agentes e patrulhas das fronteiras, entalados entre as instruções do presidente e a providência cautelar de uma juíza de Nova Iorque. "Immigrants are welcome here", ouvia-se em uníssono. Alguns congressistas e nomes históricos do Partido Republicano, como Lindsey Graham e John McCain, expressaram a sua rejeição à medida dizendo que era contrária aos princípios que fundaram a América e contraprodutiva na luta contra o terrorismo. Não foram muitos, no entanto; as principais vozes de protesto voltaram a ser as da populaça, nas ruas e nas redes sociais. De tal forma que o presidente Trump sentiu necessidade de defender a decisão, recusando tratar-se de uma política antimuçulmana mas sim dirigida a países que representam um risco de terrorismo islâmico (sem explicar porque não incluiu países como Arábia Saudita, Turquia e Egito).
Caso fossem banidos todos os muçulmanos, a administração Trump estaria em violação da Constituição norte-americana, pelo que essa não é uma via possível. No entanto, a surpresa provocada por esta medida não faz sentido. O presidente está literalmente a cumprir uma promessa de campanha. Muitos dos seus apoiantes não o levaram a sério nesta e noutras questões, dizendo que ele exagerava e que não ia mesmo construir um muro, não ia mesmo banir os muçulmanos, iria agir de forma "presidencial" assim que tomasse posse. Ingenuidade, talvez. Mas surpresa? Quantas vezes se vota em alguém esperando que não cumpra o que prometeu?
É certo que quem está na rua a protestar provavelmente não votou nele, e que haverá celebrações entre os seus apoiantes que não querem ouvir falar de refugiados, crianças a boiar no mar ou iraquianos que ajudaram o exército norte-americano e agora ficam à porta do país, impedidos de entrar porque nasceram no lugar errado. Na comunidade judaica de Los Angeles, por exemplo, há um grande pendor republicano e uma rejeição da ajuda a refugiados árabes. Não veem qualquer paralelo entre os judeus que tentavam fugir de Hitler e foram rejeitados pelos Estados Unidos e os sírios que fogem do ISIS e são agora recambiados para o raio que os parta.
"Dá-me os teus cansados, os teus pobres, as tuas massas ansiando por respirar livres... Eu ergo a minha tocha ao lado da porta dourada." A Estátua da Liberdade, em Nova Iorque, recebeu milhões de imigrantes ao longo de séculos, simbolizando a entrada no mundo livre. O país construído por imigrantes, cuja Constituição proíbe a discriminação religiosa, está mergulhado num dilema tremendo. O que é ser americano? É nascer neste solo? É amar este país? É comungar dos princípios dos fundadores? A resposta ditará o futuro.
"Quando as pessoas te mostram quem são, acredita nelas à primeira", dizia a escritora Maya Angelou. Era isso que todos deviam ter feito, apoiantes ou não do presidente, em vez de arranjarem desculpas, interpretarem de outra forma ou pedirem "só" mais uma oportunidade.
31 DE JANEIRO DE 2017
00:00
Ana Rita Guerra
Diário de Notícias
Estavam ali para protestar a mais recente ordem executiva do presidente Donald Trump, que no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto decidiu suspender a entrada de cidadãos provenientes de sete países de maioria muçulmana, além de banir a receção de refugiados Sírios por tempo indeterminado.
A circulação entre terminais chegou a estar cortada devido à afluência de manifestantes, familiares das pessoas afetadas pela medida e advogados de imigração que acorreram para oferecer os seus serviços pro bono. No ban, no wall foi um dos cânticos que se ouviram em várias cidades do país, já que a ordem lançou o caos nos aeroportos e a confusão entre os próprios agentes e patrulhas das fronteiras, entalados entre as instruções do presidente e a providência cautelar de uma juíza de Nova Iorque. "Immigrants are welcome here", ouvia-se em uníssono. Alguns congressistas e nomes históricos do Partido Republicano, como Lindsey Graham e John McCain, expressaram a sua rejeição à medida dizendo que era contrária aos princípios que fundaram a América e contraprodutiva na luta contra o terrorismo. Não foram muitos, no entanto; as principais vozes de protesto voltaram a ser as da populaça, nas ruas e nas redes sociais. De tal forma que o presidente Trump sentiu necessidade de defender a decisão, recusando tratar-se de uma política antimuçulmana mas sim dirigida a países que representam um risco de terrorismo islâmico (sem explicar porque não incluiu países como Arábia Saudita, Turquia e Egito).
Caso fossem banidos todos os muçulmanos, a administração Trump estaria em violação da Constituição norte-americana, pelo que essa não é uma via possível. No entanto, a surpresa provocada por esta medida não faz sentido. O presidente está literalmente a cumprir uma promessa de campanha. Muitos dos seus apoiantes não o levaram a sério nesta e noutras questões, dizendo que ele exagerava e que não ia mesmo construir um muro, não ia mesmo banir os muçulmanos, iria agir de forma "presidencial" assim que tomasse posse. Ingenuidade, talvez. Mas surpresa? Quantas vezes se vota em alguém esperando que não cumpra o que prometeu?
É certo que quem está na rua a protestar provavelmente não votou nele, e que haverá celebrações entre os seus apoiantes que não querem ouvir falar de refugiados, crianças a boiar no mar ou iraquianos que ajudaram o exército norte-americano e agora ficam à porta do país, impedidos de entrar porque nasceram no lugar errado. Na comunidade judaica de Los Angeles, por exemplo, há um grande pendor republicano e uma rejeição da ajuda a refugiados árabes. Não veem qualquer paralelo entre os judeus que tentavam fugir de Hitler e foram rejeitados pelos Estados Unidos e os sírios que fogem do ISIS e são agora recambiados para o raio que os parta.
"Dá-me os teus cansados, os teus pobres, as tuas massas ansiando por respirar livres... Eu ergo a minha tocha ao lado da porta dourada." A Estátua da Liberdade, em Nova Iorque, recebeu milhões de imigrantes ao longo de séculos, simbolizando a entrada no mundo livre. O país construído por imigrantes, cuja Constituição proíbe a discriminação religiosa, está mergulhado num dilema tremendo. O que é ser americano? É nascer neste solo? É amar este país? É comungar dos princípios dos fundadores? A resposta ditará o futuro.
"Quando as pessoas te mostram quem são, acredita nelas à primeira", dizia a escritora Maya Angelou. Era isso que todos deviam ter feito, apoiantes ou não do presidente, em vez de arranjarem desculpas, interpretarem de outra forma ou pedirem "só" mais uma oportunidade.
31 DE JANEIRO DE 2017
00:00
Ana Rita Guerra
Diário de Notícias
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