Procurar
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 49 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 49 visitantes Nenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
Um ano tranquilo (uma autocrítica)
Página 1 de 1
Um ano tranquilo (uma autocrítica)
Há mais de um ano apostei que em Portugal iriam existir graves confrontos sociais, eventualmente com violência nas ruas. A aposta foi feita com o então diretor do "Jornal de Negócios" Pedro Santos Guerreiro (estávamos longe de saber que ele viria para o Expresso), que insistia sermos um país "de brandos costumes".
Eu, com mais 20 anos do que ele, insistia que isso era propaganda do salazarismo e puxava da história do séc. XIX, da guerra civil liberal, da patuleia, com pistolas apontadas às costas do passante, da formiga-branca do Afonso Costa, da leva da morte, da noite sangrenta de uma série de episódios que não nos deixavam atrás de espanhóis, gregos ou italianos.
Passado um ano é óbvio que perdi a aposta. O ano foi tranquilo apesar da crise, do desemprego brutal, da carência alimentar e, sobretudo, do desespero que alguns agentes políticos têm mostrado. Foi um ano difícil, mas em que o respeito pelo sistema democrático falou sempre mais alto do que a desordem e o banzé.
Espero que 2014 seja assim. Não por entender que somos um povo de especiais "brandos costumes", mas por começar a convencer-me de que temos um povo bastante sensato (as eleições sucessivas têm-no demonstrado, gostemos mais ou menos das soluções encontradas).
Eu pensei que aos primeiros sinais de desespero, às primeiras proclamações demagógicas que alguns têm feito haveria campo para a desordem. Não houve. E para que não haja é preciso que o Governo não pense que não tem limites e que a oposição, em especial do PS e os sindicatos que têm sido enquadrados pela CGTP, não pensem que não têm responsabilidades.
Por muito românticas e heroicas que sejam as barricadas, nunca delas saíram grandes soluções (se pensam na revolução francesa, pensem que das barricadas resultou o terror, do terror o consulado, do consulado o Império, do Império a restauração monárquica e só depois a República). Edmond Burke, um dos mais acérrimos defensores da soberania do povo (no século XVIII) desiludiu-se com a revolução francesa por não passar de uma "balbúrdia sanguinolenta" e escreveu duas frases que a todos nos deve fazer pensar. Uma é esta: "Para o triunfo do mal basta que os homens bons não façam nada". A outra também é oportuna: "Aqueles que não conhecem a História estão fadados a repeti-la".
Agora, que o jornal "The Economist" colocou Portugal num "alto risco de agitação social", sou eu a dizer que não vão ter razão. As eleições europeias vão ser um escape e em Portugal ainda há muita gente boa e muita gente que conhece a História. E que, ao contrário do que eu previa, sabem distinguir o protesto do distúrbio.
Um Bom Ano de 2014 (ou o melhor que conseguirem fazer dele). Eu volto no dia 3
Twitter:https://twitter.com/HenriquMonteiro
Facebook:https://www.facebook.com/pages/Henrique-Monteiro/122751817808469?ref=hl
Eu, com mais 20 anos do que ele, insistia que isso era propaganda do salazarismo e puxava da história do séc. XIX, da guerra civil liberal, da patuleia, com pistolas apontadas às costas do passante, da formiga-branca do Afonso Costa, da leva da morte, da noite sangrenta de uma série de episódios que não nos deixavam atrás de espanhóis, gregos ou italianos.
Passado um ano é óbvio que perdi a aposta. O ano foi tranquilo apesar da crise, do desemprego brutal, da carência alimentar e, sobretudo, do desespero que alguns agentes políticos têm mostrado. Foi um ano difícil, mas em que o respeito pelo sistema democrático falou sempre mais alto do que a desordem e o banzé.
Espero que 2014 seja assim. Não por entender que somos um povo de especiais "brandos costumes", mas por começar a convencer-me de que temos um povo bastante sensato (as eleições sucessivas têm-no demonstrado, gostemos mais ou menos das soluções encontradas).
Eu pensei que aos primeiros sinais de desespero, às primeiras proclamações demagógicas que alguns têm feito haveria campo para a desordem. Não houve. E para que não haja é preciso que o Governo não pense que não tem limites e que a oposição, em especial do PS e os sindicatos que têm sido enquadrados pela CGTP, não pensem que não têm responsabilidades.
Por muito românticas e heroicas que sejam as barricadas, nunca delas saíram grandes soluções (se pensam na revolução francesa, pensem que das barricadas resultou o terror, do terror o consulado, do consulado o Império, do Império a restauração monárquica e só depois a República). Edmond Burke, um dos mais acérrimos defensores da soberania do povo (no século XVIII) desiludiu-se com a revolução francesa por não passar de uma "balbúrdia sanguinolenta" e escreveu duas frases que a todos nos deve fazer pensar. Uma é esta: "Para o triunfo do mal basta que os homens bons não façam nada". A outra também é oportuna: "Aqueles que não conhecem a História estão fadados a repeti-la".
Agora, que o jornal "The Economist" colocou Portugal num "alto risco de agitação social", sou eu a dizer que não vão ter razão. As eleições europeias vão ser um escape e em Portugal ainda há muita gente boa e muita gente que conhece a História. E que, ao contrário do que eu previa, sabem distinguir o protesto do distúrbio.
Um Bom Ano de 2014 (ou o melhor que conseguirem fazer dele). Eu volto no dia 3
Twitter:https://twitter.com/HenriquMonteiro
Facebook:https://www.facebook.com/pages/Henrique-Monteiro/122751817808469?ref=hl
Fonte: Jornal do Expresso
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
|
|
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin