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A nova indústria e os serviços
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A nova indústria e os serviços
Na economia moderna não tem sentido a antiga distinção clara entre indústria e serviços.
Diz-se, por vezes, que deixou de haver indústria em Portugal. O mesmo se ouve em muitos outros países, desde logo nos Estados Unidos. O proteccionismo de Trump tem como objectivo mais ou menos consciente um regresso à indústria de produção em massa, que criava muitos empregos. Só que esse regresso não vai acontecer: a reindustrialização, que muitos defendem, não poderá ser voltar ao passado, mas promover uma indústria de novo tipo.
É o que afirma um grupo de trabalho da CIP, coordenado pelo Eng. Luís Mira Amaral. Trata-se “de uma indústria que utiliza ao máximo as tecnologias de informação, comunicação e localização mais avançadas e a robótica para desenhar, projectar e produzir produtos”. Acrescente-se, também, a chamada inteligência artificial, que cada vez mais permite que máquinas façam tarefas até aqui reservadas a humanos altamente treinados. Os apoios às PME recentemente anunciados pelo governo de António Costa – no quadro da estratégia para a chamada “indústria 4.0” – pretendem, e bem, estimular a digitalização das empresas.
Convém sublinhar que é errónea a ideia de que só a indústria de tipo clássico é produtiva. Aliás, antes da revolução industrial uma escola de economistas, os fisiocratas, defendia que a única fonte geradora de riqueza era a agricultura. De facto, a partir de uma semente ou de uma pequena planta, com a ajuda de algum trabalho agrícola, da terra brotam frutos, vegetais, etc, em quantidade e valor bem maiores do que os “inputs” utilizados.
Naturalmente que esta velha ideia de que apenas a agricultura é produtiva não resistiu à extraordinária expansão económica e, a prazo, também social, trazida pela revolução industrial em Inglaterra e que depois se espalhou pelo mundo. Mas não se repita a ilusão dos fisiocratas: a indústria não é, agora, a única fonte de riqueza – os serviços, desde que úteis, também criam valor. E a nova indústria está crescentemente ligada aos serviços. A distinção tradicional entre sector secundário (indústria) e terciário (serviços) faz hoje pouco sentido.
Fim da produção em massa
Por exemplo, o jornal Le Monde lembrava há dias, em editorial, que o importante, actualmente, é a cadeia de valor: “cada país deve contribuir com um máximo de valor acrescentado para a criação de um produto complexo”. O que põe em causa as medidas proteccionistas anunciadas por Trump. Assim, diz o jornal, não é grave importar aparelhos iPhone montados na China, se eles são concebidos pela Apple na Califórnia.
Uma coisa é certa: não voltarão as grandes indústrias, de produção em massa, das quais há cem anos foi pioneiro o Ford modelo T. Eram fábricas que empregavam milhares de operários, enquadrados por uma disciplina e uma hierarquia de tipo militar.
Hoje, e cada vez mais no futuro, a automação permite prescindir de uma larga parte do antigo operariado, envolvido na produção em cadeias de montagem. A automação promove a repartição das várias tarefas produtivas por unidades mais pequenas, mais autónomas, mais flexíveis e situadas nos mais diversos locais do globo.
Flexibilidade contra massificação
A flexibilidade que as novas tecnologias trazem ao processo de fabrico vai ao ponto de “oferecer ao mercado, sem aumento de custo, uma vasta gama de produtos perfeitamente adaptados a cada cliente individual”, como se lê no acima citado estudo da CIP. É o contrário da massificação, tão bem criticada no filme de Chaplin Tempos Modernos, de 1936.
A informática e outras formas de automação invadem todos os departamentos das empresas e alteram o modo de produção. As fábricas do futuro, que já começou, oferecem não só produtos como também serviços – caso da manutenção pós-venda de equipamentos, por exemplo. E recorrem a inúmeras empresas de serviços, para actividades como a limpeza, a contabilidade, a segurança, a logística, etc., “externalizando” essas actividades. A organização do trabalho deixou de seguir o modelo militar, tornando-se mais flexível e criativo (em grupos quase autónomos, por exemplo) e menos hierarquizado.
É, por isso, difícil traçar uma linha divisória clara entre indústria e serviços na economia moderna. Tudo se interliga. E quanto aos receios suscitados em matéria de emprego pelos avanços da automação, a esperança está em que os serviços ligados às novas tecnologias compensem a eliminação de postos de trabalho resultante do progresso.
18 fev, 2017
FRANCISCO SARSFIELD CABRAL
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