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O papão somos nós
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O papão somos nós
Nos últimos anos, duas "narrativas" fizeram escola em Portugal. A primeira, a que pareceu durante muito tempo incontestável ou, pelo menos, incontestada, a de que Portugal tinha caído na bancarrota devido aos desvarios do Governo de José Sócrates.
A segunda, dita primeiro em surdina e depois com redobradas ganas quando o antigo primeiro-ministro voltou a Lisboa, assenta na convicção de que Portugal fez tudo o que tinha
a fazer, "meteu a carne toda no assador da despesa" para contrariar a crise económica, e acabou por ser traído pelos gananciosos mercados, que nos escolheram como o gnu mais fraco da manada, depois de devorarem a suculenta Grécia.
Com a narrativa dominante, fomos fazendo tudo em nome dos mercados, dos credores, dos investidores. Aqueles a quem Passos Coelho fazia questão de chamar nossos "parceiros" internacionais, num daqueles retoques semânticos aparentemente inofensivos mas que dizem tanto como chamar "colaboradores" aos trabalhadores de uma empresa. Justiça seja feita ao primeiro-ministro, nunca caiu na tentação fácil de dizer que fazia isto ou aquilo por causa da ‘troika', porque esta obrigava; por outro lado, assumiu a posição do português penitente e envergonhado, que merecia todas as pragas que lhe caíssem em cima.
No entanto, agora que a ‘troika' foi embora e nos damos ao luxo (e bem) de recusarmos o último cheque, vai-se o polícia mau da história. Sobra quem? Os mercados, é claro.
Os mercados, esses seres lógicos, equilibrados e justos, que reagem ao segundo a cada vitória ou derrota de Portugal no campeonato do equilíbrio financeiro. Ou então não.
Foi o que vimos agora com os chumbos do Constitucional. Um tiro no porta-aviões da estratégia portuguesa de consolidação, e os juros lá teimam em continuar a aliviar, aparentemente demonstrando agrado com o trajecto do nosso País. É que se achávamos que os mercados estavam certos quando nos batiam por tudo e por nada, temos de aplicar agora o mesmo raciocínio. Se calhar agora somos espectaculares!
A verdade é que - viemos a descobrir sobretudo nos últimos dois anos - aquilo que nós fazemos conta muito pouco para a forma como os mercados nos tratam. Vale mais meia palavra de Mario Draghi do que cinco cortes salariais na Função Pública ou a 15ª recalibragem do sempre útil IVA. Daí que o mínimo que o nosso Governo deveria fazer seria não impor sacrifícios adicionais aos portugueses para estrangeiro ver. Porque eles ou não estão a ver ou não querem saber. Compraram a narrativa do sucesso do ajustamento português e não querem ser desmentidos. Podemos agora deixar de nos auto-flagelar e começar a discutir de que forma o País pode andar para a frente?
É certo que nenhuma das narrativas está totalmente certa. É também certo que não há folga suficiente para uma súbita e alargada mudança de estratégia. Mas é hora de nos deixarmos de dogmas e de pensamentos únicos. Tudo pode e deve ser, responsavelmente, debatido. Não devemos é embarcar em euforias e loucuras ou insistir num caminho de empobrecimento que não nos é mais exigido de forma tão férrea. Morto o papão dos mercados, é a nós, portugueses, que temos de prestar contas. Esse debate, o do caminho a seguir para voltarmos a ter direito a um futuro, deve ser tão alargado e tão livre quanto possível. Qual será o papão que vai ser invocado para não o fazermos?
Tiago Freire
17-06-2014
00:05
Económico
A segunda, dita primeiro em surdina e depois com redobradas ganas quando o antigo primeiro-ministro voltou a Lisboa, assenta na convicção de que Portugal fez tudo o que tinha
a fazer, "meteu a carne toda no assador da despesa" para contrariar a crise económica, e acabou por ser traído pelos gananciosos mercados, que nos escolheram como o gnu mais fraco da manada, depois de devorarem a suculenta Grécia.
Com a narrativa dominante, fomos fazendo tudo em nome dos mercados, dos credores, dos investidores. Aqueles a quem Passos Coelho fazia questão de chamar nossos "parceiros" internacionais, num daqueles retoques semânticos aparentemente inofensivos mas que dizem tanto como chamar "colaboradores" aos trabalhadores de uma empresa. Justiça seja feita ao primeiro-ministro, nunca caiu na tentação fácil de dizer que fazia isto ou aquilo por causa da ‘troika', porque esta obrigava; por outro lado, assumiu a posição do português penitente e envergonhado, que merecia todas as pragas que lhe caíssem em cima.
No entanto, agora que a ‘troika' foi embora e nos damos ao luxo (e bem) de recusarmos o último cheque, vai-se o polícia mau da história. Sobra quem? Os mercados, é claro.
Os mercados, esses seres lógicos, equilibrados e justos, que reagem ao segundo a cada vitória ou derrota de Portugal no campeonato do equilíbrio financeiro. Ou então não.
Foi o que vimos agora com os chumbos do Constitucional. Um tiro no porta-aviões da estratégia portuguesa de consolidação, e os juros lá teimam em continuar a aliviar, aparentemente demonstrando agrado com o trajecto do nosso País. É que se achávamos que os mercados estavam certos quando nos batiam por tudo e por nada, temos de aplicar agora o mesmo raciocínio. Se calhar agora somos espectaculares!
A verdade é que - viemos a descobrir sobretudo nos últimos dois anos - aquilo que nós fazemos conta muito pouco para a forma como os mercados nos tratam. Vale mais meia palavra de Mario Draghi do que cinco cortes salariais na Função Pública ou a 15ª recalibragem do sempre útil IVA. Daí que o mínimo que o nosso Governo deveria fazer seria não impor sacrifícios adicionais aos portugueses para estrangeiro ver. Porque eles ou não estão a ver ou não querem saber. Compraram a narrativa do sucesso do ajustamento português e não querem ser desmentidos. Podemos agora deixar de nos auto-flagelar e começar a discutir de que forma o País pode andar para a frente?
É certo que nenhuma das narrativas está totalmente certa. É também certo que não há folga suficiente para uma súbita e alargada mudança de estratégia. Mas é hora de nos deixarmos de dogmas e de pensamentos únicos. Tudo pode e deve ser, responsavelmente, debatido. Não devemos é embarcar em euforias e loucuras ou insistir num caminho de empobrecimento que não nos é mais exigido de forma tão férrea. Morto o papão dos mercados, é a nós, portugueses, que temos de prestar contas. Esse debate, o do caminho a seguir para voltarmos a ter direito a um futuro, deve ser tão alargado e tão livre quanto possível. Qual será o papão que vai ser invocado para não o fazermos?
Tiago Freire
17-06-2014
00:05
Económico
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