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A importância de ser autêntico
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A importância de ser autêntico
Não é fácil desligar. São cada vez mais raros os momentos em que não temos um email para ler, uma mensagem para responder ou uma fotografia para reagir. Estar sempre ligado, de certa forma sempre disponível, é uma das consequências da democratização da tecnologia. Talvez assim sejamos mais eficientes, produtivos, talvez tenhamos mais capacidade de acompanhar e compreender um maior número de fenómenos que se passam no mundo.
Certamente que conseguimos estabelecer e manter relações que, de outro modo, seriam impossíveis. Mas este modo sempre ligado causa dependência, stresse e ansiedade. E afasta-nos do mundo real onde o sucesso não se mede, apenas, pelas reações a uma publicação.
Há várias técnicas para combater esta dependência. Podemos decretar o recolher obrigatório do telemóvel ou não ver o email ao fim de semana. Se calhar é possível deixar o computador no escritório e ser rigoroso com os horários de entrada e saída. Hábitos saudáveis, mas muito difíceis ou até mesmo impossíveis de implementar.
Resta-nos a capacidade de compensar este excesso, usando o tempo livre para desfrutar de experiências autênticas, tangíveis e imperfeitas. Sem intermediários eletrónicos, sem filtros. Há quem não sinta esta necessidade, mas a proliferação de filosofias e negócios destinados a proporcionar experiências autênticas não para de aumentar. Do hygge dinamarquês que, não tendo tradução direta, significa qualquer coisa como o aconchego de usufruir dos simples prazeres da vida, ao wabi sabi do Japão, um conceito de estética centrado na imperfeição, procuramos autenticidade.
Alimentação, vestuário e lazer são três áreas onde esta realidade é bem evidente.
O preço é o critério mais importante na escolha de produtos alimentares para a maioria dos portugueses, 33%, de acordo com um estudo realizado pela Havas e a Market Probe International em 2016. Porém, ingredientes e o valor nutricional surgem na segunda e terceira posições, com valores de 27% e 25%, respetivamente. E 9% das pessoas já consideram a origem como o fator mais importante na escolha de alimentos. Apesar da importância do fator preço, 50% das pessoas afirmam fazer um esforço para evitar consumir produtos fora de época e 61% estão até disponíveis para pagar mais por produtos criados ou produzidos localmente.
As mudanças na forma como nos alimentamos não se limitam à escolha dos alimentos. Estamos a regressar à mesa, a valorizar a refeição como momento de convívio, de relações sociais. 90% dos portugueses concordam com a afirmação: «Levar o seu tempo a desfrutar de uma refeição faz bem à saúde», 92% consideram importante fazer pelo menos uma refeição por dia com um elemento da família.
Autenticidade e origem, são também argumentos importantes nas escolhas de vestuário. Por um lado, sinalizam a qualidade do produto, ajudam a divulgar a consciência ambiental das marcas e o respeito pelos processos de produção. Mas também criam um maior envolvimento com as pessoas. A comunicação da Benetton, com a proposta ‘Clothes for Humans’ e com imagens que ilustram o quotidiano das pessoas, imperfeito, onde nem tudo é bonito. É um exemplo da realidade onde as pessoas vivem, é aí que os seus produtos são usados.
A autenticidade é, a par da gastronomia, o principal motivo de escolha de Portugal como destino turístico (e onde obtemos classificação máxima de acordo com um estudo apresentado no Fórum Internacional de Turismo). E não é só em Portugal. O Airbnb, uma das marcas que nos últimos anos mais contribuiu para a evolução da indústria do turismo, desafia as pessoas a não fazerem férias num determinado sítio, pois têm a possibilidade de viver lá, nem que seja por apenas uma noite. Sem descurar a importância do preço, é isso mesmo que a marca entrega: a possibilidade de uma experiência mais autêntica de um determinado local.
As marcas que compreendam o que é o hygge, a sua importância e que consigam entregar experiências autênticas vão, seguramente, chamar a atenção e captar mais pessoas. Mesmo que esse não seja um território muito óbvio. Mesmo que pessoas tenham que as descobrir através de um conteúdo patrocinado no Facebook.
*Responsável Planeamento Estratégico do Grupo Havas Media
Bruno Ribeiro
opiniao@newsplex.pt
20 de março 2017
SOL
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