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Prepare-se, vai ser despedido
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Prepare-se, vai ser despedido
Como podemos competir com algo que não tem férias, não descansa, não tem tempo reservado para a família e não recebe ordenado?
Se tem mais de dez anos de trabalho pela frente até atingir a reforma é provável que venha a ouvir estas palavras desagradáveis: “está despedido”. Mas, se não for o caso, não fique descansado, porque quase de certeza ouvirá outras, quiçá ainda mais devastadoras: “não podemos pagar a reforma que esperava”.
Num anterior artigo de opinião referi que a tecnologia é hoje a maior “ameaça” à manutenção dos postos de trabalho existentes, corresponde a 80% dos empregos perdidos nos EUA, contra apenas 20% devido ao comércio. Mas isso é apenas a ponta do iceberg.
O mundo atual atravessa um período disruptivo de enorme impacto económico e social. Para além do software, os robôs estão a substituir o trabalho humano a uma escala significativa. Só a Amazon adquiriu cerca de 45,000 robots para os seus armazéns em apenas três anos.
Já o restante setor do retalho tradicional, que em Portugal emprega cerca de 750 mil pessoas, está a definhar a olhos vistos e, nos EUA, traduz-se em várias falências e num número de encerramentos de lojas preocupante. Se no online a Amazon domina, o seu último passo é o primeiro para redesenhar a indústria tradicional, nomeadamente a sua loja Amazon Go, completamente automatizada, em que o cliente entra, coloca no cesto o que quer e sai porta fora com o custo a ser debitado automaticamente na sua conta, tudo sem interferência humana. É o sistema das caixas self-service elevado à escala global da loja e com ainda menos incómodo para o cliente.
Já se sabia que a Inteligência Artificial (IA) um dia poderia atingir o mesmo nível que a dos humanos. Ray Kurzweil, diretor de engenharia da Google e um dos mais respeitados cientistas na área da IA, com um registo de acerto de 86% nas suas previsões desde 1990, afirmou que daqui a apenas 12 anos, a I.A atingirá o mesmo nível que a humana, que em 2030 teremos o nosso cérebro (neocórtex) ligado à cloud, e que daqui a 30 anos ocorrerá uma “singularidade” – a inteligência ao dispor de cada humano será 1 bilião de vezes superior à atual, devido à interligação máquina-humano.
Por que motivo a questão da IA é importante? Porque esta nova revolução tecnológica não será como as anteriores, e a razão é muito simples. O trabalho humano reside em três pontos: físico, intelectual e emocional. E se a revolução industrial eliminou grande parte da necessidade humana no trabalho físico, a disrupção que vivemos hoje irá reduzir drasticamente a necessidade humana no trabalho intelectual, ao mesmo tempo que elimina o restante trabalho físico desempenhado atualmente por pessoas. Isto porque deixarão de existir robôs ”burros”. Todos terão capacidade de auto-aprendizagem e/ou serão supervisionados por um computador que a tenha.
Restará parte da componente emocional do trabalho e alguma da intelectual, mas isso no cenário laboral de hoje é uma gota no oceano e poderá ter os dias contados. Afinal, o que são as emoções senão algo produzido pela nossa inteligência? Algo que poderá ser aprendido pela própria IA, uma vez que “viva” as nossas experiências quando em contacto direto com o nosso cérebro?
Portanto, a tendência é para que, de uma forma agressiva, os postos de trabalho de hoje desapareçam, sendo que os do futuro não terão necessidade obrigatória de intervenção humana, colocando em cheque a sustentabilidade, já hoje inexistente, da Segurança Social, especialmente em Portugal, onde a idade média é de 44 anos e o índice de fertilidade é de apenas 1.28. Como é que os (poucos) jovens do futuro irão suportar o esquema de pirâmide da Segurança Social?
Para responder a este dilema há quem fale, como Bill Gates, em taxar os robôs e outros em rendimento mínimo garantido. Ora, taxar robôs seria tão inteligente como taxar o software com que Gates fez fortuna. Afinal ambos fazem o mesmo, eliminam postos de trabalho. Mas mesmo que tal seja possível e que um rendimento mínimo seja sustentável, na prática irá provocar ainda mais desigualdade entre os ricos e os pobres, pois ao generalizar um valor para todos, estaríamos a nivelar a maioria dos cidadãos por baixo e sem capacidade de progressão.
Não querendo ser alarmista, pretendo que o leitor pare para pensar num futuro não ficcional, mas já hoje parcialmente real e sobre o qual os principais “pensadores” estão de acordo quanto à sua inevitabilidade, divergindo apenas no espaço temporal em que tal ocorrerá. Imagine um robô com a sua capacidade intelectual e mobilidade física. Como competir com algo que não tem férias, não descansa, não tem tempo reservado para a família e não recebe ordenado? E mesmo que não acredite que tal seja possível, está disposto a apostar o seu futuro bem-estar e sobrevivência nessa incredibilidade, sem sequer o debater?
Marco Silva, Financeiro
00:06
Jornal Económico
Se tem mais de dez anos de trabalho pela frente até atingir a reforma é provável que venha a ouvir estas palavras desagradáveis: “está despedido”. Mas, se não for o caso, não fique descansado, porque quase de certeza ouvirá outras, quiçá ainda mais devastadoras: “não podemos pagar a reforma que esperava”.
Num anterior artigo de opinião referi que a tecnologia é hoje a maior “ameaça” à manutenção dos postos de trabalho existentes, corresponde a 80% dos empregos perdidos nos EUA, contra apenas 20% devido ao comércio. Mas isso é apenas a ponta do iceberg.
O mundo atual atravessa um período disruptivo de enorme impacto económico e social. Para além do software, os robôs estão a substituir o trabalho humano a uma escala significativa. Só a Amazon adquiriu cerca de 45,000 robots para os seus armazéns em apenas três anos.
Já o restante setor do retalho tradicional, que em Portugal emprega cerca de 750 mil pessoas, está a definhar a olhos vistos e, nos EUA, traduz-se em várias falências e num número de encerramentos de lojas preocupante. Se no online a Amazon domina, o seu último passo é o primeiro para redesenhar a indústria tradicional, nomeadamente a sua loja Amazon Go, completamente automatizada, em que o cliente entra, coloca no cesto o que quer e sai porta fora com o custo a ser debitado automaticamente na sua conta, tudo sem interferência humana. É o sistema das caixas self-service elevado à escala global da loja e com ainda menos incómodo para o cliente.
Já se sabia que a Inteligência Artificial (IA) um dia poderia atingir o mesmo nível que a dos humanos. Ray Kurzweil, diretor de engenharia da Google e um dos mais respeitados cientistas na área da IA, com um registo de acerto de 86% nas suas previsões desde 1990, afirmou que daqui a apenas 12 anos, a I.A atingirá o mesmo nível que a humana, que em 2030 teremos o nosso cérebro (neocórtex) ligado à cloud, e que daqui a 30 anos ocorrerá uma “singularidade” – a inteligência ao dispor de cada humano será 1 bilião de vezes superior à atual, devido à interligação máquina-humano.
Por que motivo a questão da IA é importante? Porque esta nova revolução tecnológica não será como as anteriores, e a razão é muito simples. O trabalho humano reside em três pontos: físico, intelectual e emocional. E se a revolução industrial eliminou grande parte da necessidade humana no trabalho físico, a disrupção que vivemos hoje irá reduzir drasticamente a necessidade humana no trabalho intelectual, ao mesmo tempo que elimina o restante trabalho físico desempenhado atualmente por pessoas. Isto porque deixarão de existir robôs ”burros”. Todos terão capacidade de auto-aprendizagem e/ou serão supervisionados por um computador que a tenha.
Restará parte da componente emocional do trabalho e alguma da intelectual, mas isso no cenário laboral de hoje é uma gota no oceano e poderá ter os dias contados. Afinal, o que são as emoções senão algo produzido pela nossa inteligência? Algo que poderá ser aprendido pela própria IA, uma vez que “viva” as nossas experiências quando em contacto direto com o nosso cérebro?
Portanto, a tendência é para que, de uma forma agressiva, os postos de trabalho de hoje desapareçam, sendo que os do futuro não terão necessidade obrigatória de intervenção humana, colocando em cheque a sustentabilidade, já hoje inexistente, da Segurança Social, especialmente em Portugal, onde a idade média é de 44 anos e o índice de fertilidade é de apenas 1.28. Como é que os (poucos) jovens do futuro irão suportar o esquema de pirâmide da Segurança Social?
Para responder a este dilema há quem fale, como Bill Gates, em taxar os robôs e outros em rendimento mínimo garantido. Ora, taxar robôs seria tão inteligente como taxar o software com que Gates fez fortuna. Afinal ambos fazem o mesmo, eliminam postos de trabalho. Mas mesmo que tal seja possível e que um rendimento mínimo seja sustentável, na prática irá provocar ainda mais desigualdade entre os ricos e os pobres, pois ao generalizar um valor para todos, estaríamos a nivelar a maioria dos cidadãos por baixo e sem capacidade de progressão.
Não querendo ser alarmista, pretendo que o leitor pare para pensar num futuro não ficcional, mas já hoje parcialmente real e sobre o qual os principais “pensadores” estão de acordo quanto à sua inevitabilidade, divergindo apenas no espaço temporal em que tal ocorrerá. Imagine um robô com a sua capacidade intelectual e mobilidade física. Como competir com algo que não tem férias, não descansa, não tem tempo reservado para a família e não recebe ordenado? E mesmo que não acredite que tal seja possível, está disposto a apostar o seu futuro bem-estar e sobrevivência nessa incredibilidade, sem sequer o debater?
Marco Silva, Financeiro
00:06
Jornal Económico
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