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A geração perdida
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A geração perdida
Quando aquele eurodeputado polaco disse que as mulheres recebem menos porque são mais fracas e menos inteligentes, a condenação pública foi quase unânime. Mas ele disse, de forma abertamente machista, aquilo que muitos pensam em privado. E em poucas áreas isso é tão gritante como nas tecnologias de informação. Em todas as conferências a que vou há um suspiro de preocupação com a escassez de profissionais qualificados. "Skills gap", dizem eles, mostrando linhas desencontradas em slides projetados na parede do auditório. Depois, olha-se para os relatórios de diversidade de grandes empresas de Silicon Valley e as estatísticas são dececionantes: 70% dos cargos ocupados por homens, mais ainda nas posições de maior poder. Em Portugal é pior: um estudo recente da Hays mostra que 87% do trabalho qualificado em tecnologias de informação é ocupado por homens.
Se atirarem estas estatísticas para a mesa num jantar regado a sangria, hão de sair respostas honestas - a maioria acha que as mulheres não se interessam tanto por computadores, que tentar aumentar a sua participação no mercado é frescura da terceira onda do feminismo e que algumas profissões simplesmente são mais apropriadas a um género. Nem pensem em levantar a questão da desigualdade salarial - os homens "têm mais experiência" deve ser um argumento que vem em pacotes de açúcar, tal é a frequência com que é repetido.
O que ninguém lhes disse, porque pouca gente se lembra, é que muitos dos primeiros programadores, os pioneiros, eram mulheres. O número de mulheres que estudavam ciências da computação cresceu mais rapidamente do que o número de homens durante décadas. A área era nova e diversa, com uma participação fenomenal - 37% dos estudantes de licenciaturas em computação eram mulheres. Hoje, essa percentagem é inferior a 18%. O que é que aconteceu?
A queda abrupta ocorreu nos anos oitenta e pode ser rastreada quase até à data específica: 1984. Foi o ano de lançamento do Macintosh e o início da massificação do computador pessoal. Havia o Commodore 64. A Radio Shack tinha o TRS-80. Não se fazia muito com eles, pelo que os génios do marketing promoveram-nos como brinquedos glorificados para rapazes, em que dava para jogar videojogos. Em pouco tempo, criou-se a cultura do cromo e a ideia de que computadores era coisa de rapazes.
"Em 2010, candidatei-me a um lugar no Congresso e como parte dessa experiência visitei muitas escolas. Entrava nas aulas de ciências da computação e de robótica e via centenas de rapazes a quererem ser o próximo Steve Jobs; pensava, "onde estão as raparigas"?" Reshma Saujani, que perdeu aquelas eleições, não conseguiu deixar de pensar no problema. Em 2012, fundou a Girls who Code, uma organização cujo propósito era cativar as raparigas para a programação desde cedo. Saujani esteve no IBM InterConnect na semana passada, em Las Vegas, para contar a sua história a uma audiência de milhares de homens.
Começou com programas de verão em parceria com empresas de tecnologia para ensinar as miúdas e ela própria aprendeu a programar. Cinco anos depois, já passaram pelo programa 40 mil raparigas de todos os estados. "Isto é um problema que podemos resolver", declarou. As três jovens que a acompanharam ao palco, Karen Supandi, Michelle Liang e Madison Gong, estiveram a trabalhar em programas com base nas capacidades cognitivas do supercomputador Watson, a grande aposta da IBM na era da inteligência artificial. Os resultados foram de tal forma excecionais - um dos projetos ajuda pessoas com autismo a comunicar com os amigos - que a CEO Ginni Rometty lhes ofereceu um estágio (pago) na IBM.
"Durante demasiado tempo não contámos com as raparigas, pensávamos que elas não estavam interessadas", disse Saujani. A mensagem mereceu uma ovação de pé. Talvez esta seja a geração que recupera a paixão por computadores e programação que as mulheres tinham nos anos sessenta e setenta. "O que aprendemos é que é possível convertê-las. Elas pensavam que computadores eram coisas de rapazes. Temos de fazer um trabalho melhor a ensinar as nossas raparigas sobre falhanço, coragem e persistência."
A lavagem cerebral foi tão eficaz que o impacto feminino nos primórdios da computação ficou enterrado nas areias movediças da cultura pop da altura. Está na hora de o recuperar.
28 DE MARÇO DE 2017
00:02
Ana Rita Guerra
Diário de Notícias
Se atirarem estas estatísticas para a mesa num jantar regado a sangria, hão de sair respostas honestas - a maioria acha que as mulheres não se interessam tanto por computadores, que tentar aumentar a sua participação no mercado é frescura da terceira onda do feminismo e que algumas profissões simplesmente são mais apropriadas a um género. Nem pensem em levantar a questão da desigualdade salarial - os homens "têm mais experiência" deve ser um argumento que vem em pacotes de açúcar, tal é a frequência com que é repetido.
O que ninguém lhes disse, porque pouca gente se lembra, é que muitos dos primeiros programadores, os pioneiros, eram mulheres. O número de mulheres que estudavam ciências da computação cresceu mais rapidamente do que o número de homens durante décadas. A área era nova e diversa, com uma participação fenomenal - 37% dos estudantes de licenciaturas em computação eram mulheres. Hoje, essa percentagem é inferior a 18%. O que é que aconteceu?
A queda abrupta ocorreu nos anos oitenta e pode ser rastreada quase até à data específica: 1984. Foi o ano de lançamento do Macintosh e o início da massificação do computador pessoal. Havia o Commodore 64. A Radio Shack tinha o TRS-80. Não se fazia muito com eles, pelo que os génios do marketing promoveram-nos como brinquedos glorificados para rapazes, em que dava para jogar videojogos. Em pouco tempo, criou-se a cultura do cromo e a ideia de que computadores era coisa de rapazes.
"Em 2010, candidatei-me a um lugar no Congresso e como parte dessa experiência visitei muitas escolas. Entrava nas aulas de ciências da computação e de robótica e via centenas de rapazes a quererem ser o próximo Steve Jobs; pensava, "onde estão as raparigas"?" Reshma Saujani, que perdeu aquelas eleições, não conseguiu deixar de pensar no problema. Em 2012, fundou a Girls who Code, uma organização cujo propósito era cativar as raparigas para a programação desde cedo. Saujani esteve no IBM InterConnect na semana passada, em Las Vegas, para contar a sua história a uma audiência de milhares de homens.
Começou com programas de verão em parceria com empresas de tecnologia para ensinar as miúdas e ela própria aprendeu a programar. Cinco anos depois, já passaram pelo programa 40 mil raparigas de todos os estados. "Isto é um problema que podemos resolver", declarou. As três jovens que a acompanharam ao palco, Karen Supandi, Michelle Liang e Madison Gong, estiveram a trabalhar em programas com base nas capacidades cognitivas do supercomputador Watson, a grande aposta da IBM na era da inteligência artificial. Os resultados foram de tal forma excecionais - um dos projetos ajuda pessoas com autismo a comunicar com os amigos - que a CEO Ginni Rometty lhes ofereceu um estágio (pago) na IBM.
"Durante demasiado tempo não contámos com as raparigas, pensávamos que elas não estavam interessadas", disse Saujani. A mensagem mereceu uma ovação de pé. Talvez esta seja a geração que recupera a paixão por computadores e programação que as mulheres tinham nos anos sessenta e setenta. "O que aprendemos é que é possível convertê-las. Elas pensavam que computadores eram coisas de rapazes. Temos de fazer um trabalho melhor a ensinar as nossas raparigas sobre falhanço, coragem e persistência."
A lavagem cerebral foi tão eficaz que o impacto feminino nos primórdios da computação ficou enterrado nas areias movediças da cultura pop da altura. Está na hora de o recuperar.
28 DE MARÇO DE 2017
00:02
Ana Rita Guerra
Diário de Notícias
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