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Mensagem por Admin Qua Jun 25, 2014 9:20 pm

Há cerca de 10 anos, um reconhecido economista português falava sobre o nosso tema favorito - a difícil situação da economia portuguesa - e ouvi-o apontar uma razão que me ficou na memória.

Obviamente isso foi há uma eternidade atrás, eu diria mesmo que foi no tempo em que os animais ainda não falavam - depois disso já veio a crise, dispararam as taxas, entraram os PEC', veio a ‘troika', aconteceram as catástrofes que havíamos pressentido mas que nos pareciam inverosímeis de tão dolorosas, já saiu a ‘troika', voltámos aos mercados, não temos como emitir ‘bonds' para todos os interessados e diz-se mesmo que já estamos em plena retoma.

Pois bem, nessa altura em que os animais ainda não falavam, este economista centrava o problema da economia portuguesa no nosso défice da balança comercial e explicava que não havia forma de resolver este défice que não passasse pela indústria. Segundo a sua tese, dentro dos serviços apenas o turismo, que apesar de tudo representaria apenas cerca de 10% da economia portuguesa, seria exportável. Por isso, não haveria volta a dar, a indústria tinha necessariamente que ser o desígnio nacional porque, afinal, só os bens são exportáveis.

Se o dito economista não nos deu grande ajuda a melhorar a economia nacional, ajudou-me pelo menos a compreender o nível a que a preferência nacional pelos bens em detrimento dos serviços está vincada na nossa sociedade. 

Ficamos fascinados se conseguimos que uma fábrica de componentes seja relocalizada da França para Portugal. Mesmo que o investimento de dezenas de milhões de euros acabe por criar apenas algumas dezenas de empregos. Mesmo que a unidade fabril se destine a montar componentes fabricados noutro local do mundo. Mesmo que a incorporação de valor em Portugal seja modesta ou mesmo irrelevante.

Não me compreendam mal. Investimento é sempre investimento e é melhor a dita fábrica de componentes relocalizar-se em Portugal do que noutro país. Mas devemos também sentir essa mesma satisfação, quando um centro de atendimento ao cliente se instala em Portugal para servir clientes de outros países. Um centro de atendimento ao cliente pode criar centenas ou milhares de novos empregos, justamente porque o valor criado é 100% incorporado em Portugal.

O sector dos ‘contact centres' representa cerca de 1% do PIB nacional e foi um dos sectores que mais empregos criou em Portugal durante os últimos cinco anos. É um sector sofisticado em que ‘contact centres' portugueses empregam milhares de colaboradores que servem clientes de todo o mundo a partir de Portugal em mais de 30 línguas diferentes. É um sector muito competitivo, que se bate com algumas das organizações de serviços mais inovadoras a nível mundial. É um sector tremendamente exigente, que serve algumas das marcas mais cool e com maior notoriedade em todo o mundo. Não irá seguramente por si resolver os problemas da economia nacional. Mas pode ajudar. Muito. A verdade é que precisamos de ter sucesso neste sector de actividade, como em muitos outros sectores.


O tempo em que os animais falavam já passou. Os serviços são exportáveis e em particular o sector dos ‘contact centres' representa uma boa oportunidade para Portugal. Que erro seria deixarmos o preconceito e o "Sim, mas..." atravessarem-se no caminho da nossa competitividade.

25-06-2014
00.05h
João Cardoso
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