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Aeroportus interruptus
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Aeroportus interruptus
Para gerir a estupidez, o dinheiro nunca é suficiente
Hugo Franco, jornalista do Expresso, contou aos seus leitores, este sábado, que Beja perdeu o único voo comercial que tinha a cidade do Baixo Alentejo por destino (LEIA AQUI - http://expresso.sapo.pt/aeroporto-de-beja-perdeu-o-seu-unico-voo-comercial=f878134). Desde a sua inauguração, em 2011, a infra-estrutura recebeu uma média diária de seis (seis, repito) passageiros e registou o movimento de 245 aeronaves - ou seja, em média, a cada quatro dias aterrou ou decolou um voo comercial da pista alentejana.
O aeroporto foi-nos apresentado, aquando da sua inauguração, como uma alternativa ao de Lisboa para quem demandava o sul do país. Também como essencial ao desenvolvimento do turismo no Alentejo. Segundo um relatório do Tribunal de Contas, de 2010, custaria 79 milhões de euros, depois de derrapagens e de erros de construção. Mas como o novo equipamento estava a 178 quilómetros de Lisboa (menos de duas horas de viagem por rodovia) e a 148 de Faro (uma hora e trinta minutos), a iniciativa deu no que deu. Ou seja, no trânsito de seis passageiros por dia, o que é menos do que o movimento do aeródromo do Corvo (2000 passageiros no primeiro semestre de 2013), a mais pequena ilha dos Açores.
A megalomania fontista dos governos (de José Sócrates, que emulou a de Cavaco Silva, que foi seguida por Guterres) não produziu apenas esta abencerragem. Mandou construir hospitais sem sentido - o de Torres Novas e de Tomar, quando já existia o de Abrantes. Rasgou auto-estradas para sítio nenhum (a A-6 acaba em Gardete. O que é Gardete?). Edificou pontes que abriram novas frentes urbanísticas, fazendo alastrar as zonas residenciais como manchas de petróleo no oceano (Ponte Vasco da Gama). Erigiu ou remodelou 10 estádios de futebol - a câmara municipal de Leiria tentou leiloar o seu e as de Faro e de Loulé gastam 154 mil por ano só para manter verde a relva no Estádio do Algarve. Deixou os autarcas construírem rotundas como se não houvesse amanhãs ou, havendo, que fossem uma gesta a estes heróicos (e inúteis) guerreiros urbanísticos e aos seus fontanários.
Além da pilha de dívida que geraram e nos caiu em cima, estas obras foram, em alguns casos, mais uma acha na fogueira do desequilíbrio urbanístico. Na Grande Lisboa, por exemplo, os prédios irradiaram das novas rodovias como ervas daninhas em terreno recém-lavrado. Quem parte dos apartamentos construídos em Arruda dos Vinhos ou de Alenquer para trabalhar em Oeiras não tem senão a opção de levar o carro ou de sucumbir ao pesadelo dos transportes públicos.
Hoje, a "cidade" tem um raio de cinquenta quilómetros, com imensas bolsas "devolutas" no meio de um território onde nada acontece a não ser "residir" e ir ao Pingo Doce. Paris, num quarto desta área, alberga quase 10 milhões de habitantes; na Grande Lisboa, vivem 2,8 milhões. Levar até estas zonas uma linha de telefone ou de electricidade, um cano de água ou um esgoto, ali recolher o lixo ou garantir a segurança de pessoas e bens, é caro e irracional. É um desperdício.
A falta de planeamento, o soçobrar aos interesses mais mesquinhos, a inexistência de políticos capazes de gerir os recursos em prol do bem comum trouxeram-nos até aqui. As desculpas não faltarão: ninguém esperava a crise de 2008; ninguém podia evitar o endividamento soberano; ninguém - nem a troika - adivinhava o desemprego esmagador. Até as alterações climáticas, garanto-vos, hão de ser um dia responsabilizadas por mais um buraco na estrada a que a autarquia não acudirá porque o dinheiro para gerir a estupidez nunca é suficiente.
Já tiveram este feeling? É a sensação de aeroportus interruptus.
12:40 Segunda feira, 30 de Junho de 2014
Ler mais: http://visao.sapo.pt/
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