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Mensagem por Admin Sáb Jul 05, 2014 5:02 pm

Simplificações 737925?tp=UH&db=IMAGENS&w=171&h=171&act=cropResize

A pobreza não acaba com simplificações.


O Papa Francisco disse numa entrevista que “a pobreza (no sentido teológico da palavra) e a humildade estão no centro do Evangelho”. Isto não tem nada de novo, embora a tradição da Igreja não seja particularmente consoladora a esse respeito.

Mas, dias depois, Bergoglio entrou por terrenos mais perigosos. Ao jornal italiano Il Messagero resolveu declarar que Marx “não inventou nada” e que roubou ao cristianismo “a bandeira dos pobres” – o que só ajuda a confusão ideológica em que se agita o Ocidente desde o fim do século XX e sobretudo desde o colapso da URSS. O Papa não precisa de ser um perito em filosofia política, mas convém que não caia na espécie de populismo teoricamente confuso em que a esquerda agora se deleita e consola.

Marx não se preocupou em especial com a pobreza. O que o interessava era perceber as causas da pobreza e, como antes Rousseau, que sempre se esquece, acabou por a descobrir na propriedade privada. Uma ideia que o radicalismo adoptou durante quase 150 anos. Por razões longas de explicar, Marx julgava a sua “descoberta” científica, o que o separa sem apelo da Igreja Católica e fez com que ele passasse uma boa parte da sua vida a polemizar com os representantes do “socialismo utópico”, que ele cordialmente detestava. De facto, ao contrário do que o Papa imagina, inventou alguma coisa e não roubou “bandeira” nenhuma ao cristianismo. Mas quem não percebe as preocupações de Bergoglio, que passou pela ditadura militar argentina e viu o que viu?


Infelizmente, a pobreza exige uma explicação. E, privados de Marx, os contemporâneos voltaram às formas mais primitivas do jacobinismo. A “ganância” (incluindo a fraude) e o “egoísmo dos ricos” reapareceram como a razão última da pobreza. Ao menos, Robespierre e a sua gente ofereciam um remédio para estes males. Guilhotinavam ou assassinavam os “ricos”, ou que presumiam ricos, e fixavam os preços, segundo a vontade do povo soberano. Sucede que o sistema não deu o resultado que se esperava e a fome aumentou. De qualquer maneira, nem o Papa, nem a esquerda europeia podem hoje recorrer a métodos tão drásticos. De Roma, Francisco previne contra a “idolatria” do dinheiro, enquanto os governos que por aí andam – da direita ou da esquerda – o pedem com zelo. A pobreza não acaba com simplificações.

VASCO PULIDO VALENTE 05/07/2014 - 01:38
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