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A Economia e os ladrões ... de bicicletas
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A Economia e os ladrões ... de bicicletas
Dado o stress pós traumático que a 'BESificação' do país tem representado, não é de estranhar que os dados, recentemente publicados pelo INE, do Emprego/Desemprego e do Produto Interno Bruto (PIB) não tenham merecido um maior destaque/debate por parte dos meios de comunicação.
Apesar dos números refletirem dados conjunturais, não há dúvida que, independentemente das razões, constituem boas notícias: o produto interno bruto e o emprego aumentaram (0.8% e 2%, respectivamente, face ao 2º trimestre de 2013) e o desemprego diminuiu (quase 16% em relação ao 2º trimestre de 2013 e 7,5% em relação ao trimestre anterior).
Crescimento (ir)reversível?
É importante referir que o crescimento da economia portuguesa ocorre num contexto de marcada austeridade interna e com a economia da área do Euro estagnada. No 2º trimestre de 2014, o 'motor' da UE, a Alemanha, parece ter 'gripado', registando uma contração no PIB de 0.2%; a Itália acompanha esta 'dinâmica' e a economia francesa 'mantém-se firme' no crescimento nulo, o que levou já o respetivo governo a admitir que não irá cumprir a meta estipulada para o défice orçamental.
Não obstante alguns analistas sugerirem que o crescimento que se observa do PIB português é "irreversível", recomendam-se, neste assunto, cautelas redobradas. O crescimento do PIB é ainda relativamente ténue, desacelerou face ao trimestre anterior e deveu-se, sobretudo, a uma diminuição mais acentuada nas importações derivada da fraca procura interna. A estagnação da economia da área do euro e, sobretudo, o fraco desempenho de 3 dos nossos principais clientes em termos de exportações, França, Alemanha e Itália (que, em conjunto, absorveram, em 2013, quase 1/3 do total das exportações portuguesas), não augura nada de bom para a futura dinâmica do PIB português.
Educação: uma 'arma poderosa'
Relativamente ao 2º trimestre de 2013, no 2º trimestre de 2014, mais 90 mil pessoas passaram a fazer parte da população empregada (que totalizava cerca de 4,5 milhões de pessoas) e menos 137 mil pessoas deixaram de ser consideradas desempregadas. Assim, no 2º trimestre de 2014, cerca de 730 mil pessoas estavam (oficialmente) desempregadas, o que representava uma taxa de desemprego de 13,9% da população ativa (menos 2,5 pontos percentuais face ao trimestre homólogo de 2013).
Interessante é o contributo, em termos de população empregada, dos indivíduos com nível de escolaridade completo correspondente ao ensino superior: mais 153 mil pessoas. Os níveis de escolaridade mais elevados constituem não apenas um acesso mais diligente a um emprego como continuam a ser um 'escudo' contra o desemprego: a taxa de desemprego dos indivíduos com escolaridade ao nível do ensino superior cifrava-se, neste período, em 10% ao passo que para os indivíduos com menores níveis de escolaridade a taxa de desemprego correspondente era de 15%.
Estes dados do emprego/desemprego constituem (mais) uma prova de que um investimento efetivo na aquisição de competências avançadas compensa.
Ladrões de bicicletas
Apesar do meu evidente fascínio pelos números e estatísticas (defeito de economista, reconheço), concordo com Ron DeLegge II quando afirma que "99% de todas as estatísticas apenas contam 49% da história", ou com Albert Einstein que, enigmaticamente, referia "nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado."
Os números e estatísticas que descrevi anteriormente, apesar de em termos macroeconómicos serem 'animadores', em termos microeconómicos, isto é, do ponto de vista do indivíduo desempregado, pouco ou nada revelam de 'animador'. No concreto, para cada um dos 730 mil portugueses que vivem o flagelo e o drama do desemprego, a taxa de desemprego é de 100%!
De forma singela mas magistral, o realizador italiano Vittorio De Sica retrata no filme Ladrões de Bicicletas (1948) a essência da tragédia pessoal de um desempregado de longa duração na Itália do pós II Guerra Mundial (Nota: em Portugal, em 2014, 67,4% do total dos desempregados são considerados desempregados de longa duração, isto é, procuram trabalho há 12 ou mais meses).
A personagem principal, Antonio Ricci, desempregado há dois anos, está imersa no desalento: distante, sentada num canto, quase sem esperanças de conseguir um posto de trabalho. Finalmente consegue uma vaga de emprego como colador de cartazes. Mas a exigência para a obtenção da vaga é possuir uma bicicleta. Ricci tem uma bicicleta mas, dadas as difculdades que a família enfrenta, foi penhorada. A sua mulher decide então penhorar os lençóis da cama para conseguir reaver a bicicleta. Ricci consegue o emprego mas no 1º dia de trabalho, enquanto colava cartazes, a bicicleta é roubada. A condição deste homem decente é de desespero: o infortúnio de lhe ter sido roubada a bicicleta (e, com isso, após anos de desemprego, a expectativa de um emprego digno que lhe possibilitaria alimentar a família) e a indiferença de todos relativamente ao seu infortúnio conduzem-no a um ato insano e ilegal - roubar uma bicicleta!
Este excelente filme do drama de uma família representou e, a meu ver, ainda representa toda uma geração de italianos/portugueses/europeus falidos e sem emprego e o estigma da exclusão/indiferença social.
Assim, onde a Economia falha - na descrição e devido relevo a dar ao desemprego e, sobretudo, ao desempregado -, a Arte tem servido para elucidar, de uma forma bastante mais persuasiva, que "o desemprego [de uma pessoa] deve ser tratado como tragédia e não [apenas] como estatística económica." (Papa João Paulo II).
AURORA TEIXEIRA | 5:07 Sexta, 15 de Agosto de 2014
Expresso
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