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Daqui a 25 anos vamos precisar de uma novação constitucional. É impensável que ainda seja esta. Esse renovado contrato social deve assentar num pacto de associação genuína e voluntária e não de submissão. Um lugar de encontro e não de luta.
Política. Sentido de Estado. Interesse Público. Justiça. Moral. Princípios. Bem comum.
São todas palavras que não só perderam o seu sentido original como são, hoje, nestes tempos que são os nossos, percebidas ou como ingénuas ou, as mais das vezes, como hipócritas. Estes tempos são também aqueles onde impera uma visão míope no discurso público (e na vida privada, mas essa é uma outra conversa).
Essa predominância do hoje ou, sejamos generosos, do amanhã alimenta-se de (e alimenta, por sua vez) um frenesim mediático, assente numa sucessão interminável - e avassaladora, embotando os intelectos - de informação superficial e desconexa, o que leva a que nenhuma ou quase nenhuma discussão seja verdadeiramente aprofundada e, consequentemente, apreendida e lembrada.
Isso é mau para muitas coisas, desde logo para a Democracia. Porque se esbatem, assim, as fronteiras entre o certo e o errado, a rectidão e a amoralidade, trocados por um relativismo moral absoluto que nos dispensa de enfrentarmos o erro, porque já nada é errado, tudo é relativo. Os fins justificam sempre os meios, e as circunstâncias desculpam o resto. É triste, é intelectual e culturalmente pobre, e é inaceitável.
Tentar compreender onde um País que parte daqui poderá estar e como poderá estarorganizado daqui a 25 anos é sobremaneira dificultado por este quadro de partida.
Qualquer pensamento estratégico é recebido com acusações de ser "vago" e de, ainda por cima, veja-se o escândalo, não resolver o problema do dia, seja qual ele for, o mesmo que daqui a um mês ou meses todos nos olvidámos já.
Em 2039 terei 62 anos, e uma filha com 36. Não é, por estas e outras razões, assunto que me seja indiferente saber como gostaria que fosse - com realismo, que os tempos não estão para lirismos - a minha (e dela), comunidade, desde logo política.
Nos próximos 25 anos cabe-nos não apenas pensar os problemas imediatos do País e dar o nosso contributo à sua resolução, como começar a preparar o legado que queremos deixar aos nossos filhos. E, perdoem-me a franqueza, convinha que fizéssemos melhor do que as gerações que nos antecederam.
Num texto relativamente curto como este, ou se faz uma lista indiciária de 200 coisas que mereciam uma palavra ou se escolhe uma, sem desprezar as demais, e se fala com alguma demora. Optemos pela segunda. Se não fizermos mais nada temos de fazer isto: apostarna Educação. O país que vamos ter em 2039 depende, mais do que tudo o resto, disso.
Parafraseando uma das personagens dessa série de culto que era "The West Wing" é preciso compreender, finalmente, que a educação é a bala de prata. Merece uma aposta estrutural, que não pode ser tímida ou "consensual". Tem de ser monumental e radical. Se não nos assustar pela sua dimensão, pelos seus custos, pela sua centralidade no discurso político, não estamos a fazê-la bem. Não é só boa política em geral, é boa política social e é boa política económica.
Cada euro gasto em Educação tem um retorno elevadíssimo comparado com outras aplicações possíveis dos recursos comuns. Cabe-nos perceber isto e votar em conformidade. Temos de querer o autarca que equipa escolas em vez de subsidiar clubes de futebol, o Governo que direcciona recursos para a Educação mais depressa do que para a Banca, o Presidente da República que, quando nos fala, fala do saber, da importância de pensar, da sede de conhecer e não de barulhinhos no telefone ou de como gere (mal, ao que o próprio diz) as suas várias reformas.
Da Educação vem tudo o resto. É o grande potenciador da Economia. É o garante de que a igualdade de oportunidades não é um chavão. É um redistribuidor de riqueza ímpar. E é o primeiro e mais importante instrumento para implementar a meritocracia como método social.
No "economês" que hoje em dia domina o pensamento é o único factor que nos permite expandir a fronteira das possibilidades de produção que depende só de nós. Ou, se preferirem, medido o custo de oportunidade do investimento público, este apenas compara com o investimento em Saúde, vencendo de longe todos os demais.
Daqui a 25 anos espero, ainda, que vejamos uma Europa recomposta das suas dores de crescimento, dos seus erros políticos, da sua visão de curto prazo. E se assim não for, não teremos Europa. Não esta. Que a paz na Europa seja um estado imutável e uma garantia absoluta só pode ocorrer a quem nunca tenha aberto um livro de História.
A nível nacional teremos seguramente um novo contrato social. Uma nova Constituição. Que até pode ser ainda a de 1976, mas cujos contornos terão, forçosamente, de ter evoluído muito para lá do quadro conceptual originário.
Como, aliás, aconteceu nos últimos 20 anos e nos outros 20 antes desses. Serão 18, para sermos rigorosos, mas estraga a frase, e podemos sempre fazer reverter a referência ao ano do 25 de Abril, onde aquele contrato social e aquela Constituição se fundam, recuperando a legitimidade da afirmação.
Se virmos o que mudou nesse espaço de tempo não é difícil sustentar que, em 25 anos, tudo ou quase tudo vai mudar. E essa mudança tem de ser feita por todos nós, com as nossas convicções, pelo nosso voto consciente.
Este é o desafio que a minha geração, nascida depois do 25 de Abril mas ainda tutelada por quem o fez - num fenómeno curioso em que uma geração que chegou ao poder relativamente jovem tem, hoje, dificuldade em sair de cena - tem pela frente.
Daqui a 25 anos vamos precisar de um novo contrato social. É impensável que ainda seja este. E, como se sabe desde Jean-Jacques Rousseau, esse contrato social deve assentar num pacto de associação genuína e voluntária e não de submissão. Um lugar de encontro e não de luta. Uma promessa a todos e não a alguns à custa de outros.
Um programa onde a equidade social, a protecção dos mais fracos, os direitos e liberdades fundamentais resgatem o seu protagonismo. Em suma, e é aí que se inscrevem os contratos sociais, precisamos de uma Constituição em que uma maioria se possa continuar a rever. Que não seja apenas um delapidado mínimo denominador comum com o qual só vivemos porque não nos entendemos sobre como o mudar. Embora a maioria de nós já não acredite nele como um lugar de futuro, mas sim de passado.
Marco Capitão Ferreira
18/08/2014 00.05 h
Economica
Política. Sentido de Estado. Interesse Público. Justiça. Moral. Princípios. Bem comum.
São todas palavras que não só perderam o seu sentido original como são, hoje, nestes tempos que são os nossos, percebidas ou como ingénuas ou, as mais das vezes, como hipócritas. Estes tempos são também aqueles onde impera uma visão míope no discurso público (e na vida privada, mas essa é uma outra conversa).
Essa predominância do hoje ou, sejamos generosos, do amanhã alimenta-se de (e alimenta, por sua vez) um frenesim mediático, assente numa sucessão interminável - e avassaladora, embotando os intelectos - de informação superficial e desconexa, o que leva a que nenhuma ou quase nenhuma discussão seja verdadeiramente aprofundada e, consequentemente, apreendida e lembrada.
Isso é mau para muitas coisas, desde logo para a Democracia. Porque se esbatem, assim, as fronteiras entre o certo e o errado, a rectidão e a amoralidade, trocados por um relativismo moral absoluto que nos dispensa de enfrentarmos o erro, porque já nada é errado, tudo é relativo. Os fins justificam sempre os meios, e as circunstâncias desculpam o resto. É triste, é intelectual e culturalmente pobre, e é inaceitável.
Tentar compreender onde um País que parte daqui poderá estar e como poderá estarorganizado daqui a 25 anos é sobremaneira dificultado por este quadro de partida.
Qualquer pensamento estratégico é recebido com acusações de ser "vago" e de, ainda por cima, veja-se o escândalo, não resolver o problema do dia, seja qual ele for, o mesmo que daqui a um mês ou meses todos nos olvidámos já.
Em 2039 terei 62 anos, e uma filha com 36. Não é, por estas e outras razões, assunto que me seja indiferente saber como gostaria que fosse - com realismo, que os tempos não estão para lirismos - a minha (e dela), comunidade, desde logo política.
Nos próximos 25 anos cabe-nos não apenas pensar os problemas imediatos do País e dar o nosso contributo à sua resolução, como começar a preparar o legado que queremos deixar aos nossos filhos. E, perdoem-me a franqueza, convinha que fizéssemos melhor do que as gerações que nos antecederam.
Num texto relativamente curto como este, ou se faz uma lista indiciária de 200 coisas que mereciam uma palavra ou se escolhe uma, sem desprezar as demais, e se fala com alguma demora. Optemos pela segunda. Se não fizermos mais nada temos de fazer isto: apostarna Educação. O país que vamos ter em 2039 depende, mais do que tudo o resto, disso.
Parafraseando uma das personagens dessa série de culto que era "The West Wing" é preciso compreender, finalmente, que a educação é a bala de prata. Merece uma aposta estrutural, que não pode ser tímida ou "consensual". Tem de ser monumental e radical. Se não nos assustar pela sua dimensão, pelos seus custos, pela sua centralidade no discurso político, não estamos a fazê-la bem. Não é só boa política em geral, é boa política social e é boa política económica.
Cada euro gasto em Educação tem um retorno elevadíssimo comparado com outras aplicações possíveis dos recursos comuns. Cabe-nos perceber isto e votar em conformidade. Temos de querer o autarca que equipa escolas em vez de subsidiar clubes de futebol, o Governo que direcciona recursos para a Educação mais depressa do que para a Banca, o Presidente da República que, quando nos fala, fala do saber, da importância de pensar, da sede de conhecer e não de barulhinhos no telefone ou de como gere (mal, ao que o próprio diz) as suas várias reformas.
Da Educação vem tudo o resto. É o grande potenciador da Economia. É o garante de que a igualdade de oportunidades não é um chavão. É um redistribuidor de riqueza ímpar. E é o primeiro e mais importante instrumento para implementar a meritocracia como método social.
No "economês" que hoje em dia domina o pensamento é o único factor que nos permite expandir a fronteira das possibilidades de produção que depende só de nós. Ou, se preferirem, medido o custo de oportunidade do investimento público, este apenas compara com o investimento em Saúde, vencendo de longe todos os demais.
Daqui a 25 anos espero, ainda, que vejamos uma Europa recomposta das suas dores de crescimento, dos seus erros políticos, da sua visão de curto prazo. E se assim não for, não teremos Europa. Não esta. Que a paz na Europa seja um estado imutável e uma garantia absoluta só pode ocorrer a quem nunca tenha aberto um livro de História.
A nível nacional teremos seguramente um novo contrato social. Uma nova Constituição. Que até pode ser ainda a de 1976, mas cujos contornos terão, forçosamente, de ter evoluído muito para lá do quadro conceptual originário.
Como, aliás, aconteceu nos últimos 20 anos e nos outros 20 antes desses. Serão 18, para sermos rigorosos, mas estraga a frase, e podemos sempre fazer reverter a referência ao ano do 25 de Abril, onde aquele contrato social e aquela Constituição se fundam, recuperando a legitimidade da afirmação.
Se virmos o que mudou nesse espaço de tempo não é difícil sustentar que, em 25 anos, tudo ou quase tudo vai mudar. E essa mudança tem de ser feita por todos nós, com as nossas convicções, pelo nosso voto consciente.
Este é o desafio que a minha geração, nascida depois do 25 de Abril mas ainda tutelada por quem o fez - num fenómeno curioso em que uma geração que chegou ao poder relativamente jovem tem, hoje, dificuldade em sair de cena - tem pela frente.
Daqui a 25 anos vamos precisar de um novo contrato social. É impensável que ainda seja este. E, como se sabe desde Jean-Jacques Rousseau, esse contrato social deve assentar num pacto de associação genuína e voluntária e não de submissão. Um lugar de encontro e não de luta. Uma promessa a todos e não a alguns à custa de outros.
Um programa onde a equidade social, a protecção dos mais fracos, os direitos e liberdades fundamentais resgatem o seu protagonismo. Em suma, e é aí que se inscrevem os contratos sociais, precisamos de uma Constituição em que uma maioria se possa continuar a rever. Que não seja apenas um delapidado mínimo denominador comum com o qual só vivemos porque não nos entendemos sobre como o mudar. Embora a maioria de nós já não acredite nele como um lugar de futuro, mas sim de passado.
Marco Capitão Ferreira
18/08/2014 00.05 h
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