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Organizações privadas e assuntos públicos: simplificar o complexo
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Organizações privadas e assuntos públicos: simplificar o complexo
A comunicação posta ao serviço dos assuntos públicos pode contribuir para simplificar e agilizar o processo de tomada de decisões políticas com impacto direto nos resultados da empresa.
A economia portuguesa e os seus principais atores – as empresas – vivem tempos desafiantes. A grave crise financeira de 2011, que originou o pedido de resgate internacional, rapidamente evoluiu para uma recessão económica com fortes efeitos sociais, nomeadamente ao nível do desemprego.
As crises, no entanto, têm sempre um lado positivo. Pressionadas pela sobrevivência, na maioria dos casos, ou para manter os mesmos níveis de resultados, para uma minoria, as organizações são motivadas a encontrar alternativas para o seu negócio. Não só em termos de mercado – com a quebra do consumo interno, as empresas foram forçadas a identificar procura externa para colocar os seus produtos ou serviços – como de interlocutores estratégicos para a sua atividade. Neste ponto, a nova realidade económica e política do país levou a que alguns dos nossos empresários e gestores se deparassem com a necessidade absoluta de passar a entender e gerir adequadamente o seu posicionamento no espaço público e os atores que o compõem.
Esta situação decorre do facto de não só o universo político definir o enquadramento jurídico e regulatório no qual a empresa opera, mas, principalmente, porque determina o clima institucional, expectativas sociais, opinião pública, comportamento dos consumidores e imagem exterior do país, entre outros aspetos, que condicionam o contexto económico, comercial e social de atuação das empresas, com impacto direto nos resultados e nas possibilidades de negócio.
Nessa ótica, devemos entender o conceito de Public Affairs como a gestão da complexidade dos temas públicos, para influenciar o espaço político e institucional em defesa dos interesses legítimos das organizações. Esse trabalho requer um esforço conjunto e integrado de análise, estratégia e comunicação com o objetivo de simplificar o cenário, os players e as relações que se cruzam e coexistem no ambiente em que a organização se quer posicionar (ou reposicionar) e ganhar relevância.
O universo político é, por natureza, complexo e tende a sê-lo cada vez mais. Essa complexidade requer uma análise profunda que permita, numa primeira fase, entender o que está a acontecer e porquê e tentar antecipar o que vai surgir, no futuro, que tenha efeito na atividade de determinada organização.
Para ter influência no espaço público é imprescindível entender as lógicas e as dinâmicas do poder executivo e legislativo, saber identificar e conhecer os atores e interesses implicados em determinado assunto ou meio. Um mapa de stakeholders, por mais completo que seja, tem pouca utilidade se não contemplar uma interpretação dos objetivos, motivações e comportamentos dos elementos que o compõem.
Essa análise de intelligence é que permite antecipar contextos e criar estratégias de longa duração. Para ser influente no espaço público não basta saber mover-se nos gabinetes ministeriais, corredores da Assembleia da República ou sedes dos partidos. Se é verdade que as dinâmicas clássicas da política e os usos e costumes do poder funcionam maquinalmente, é igualmente real que as velhas formas convivem com novas lógicas e dinâmicas políticas e sociais que ainda não estão nos livros. Na era do open government, big data e ciberativismo, o poder não tem necessariamente nome, apelido e cargo e a capacidade de influência expressa-se e é exercida em múltiplos espaços e diferentes canais.
A capacidade para estabelecer relações e diálogos, gerar alianças e conseguir o melhor entendimento com todos os interlocutores que compõem o ecossistema da organização é determinante para garantir o sucesso da própria influência. Tudo isso exige uma gestão cuidadosa e eficaz da comunicação.
No âmbito dos assuntos públicos, os media não podem ser percecionados no sentido clássico da comunicação corporativa ou política. As mensagens devem ser dirigidas e adaptadas a diferentes meios e públicos e orientadas para gerar relações e diálogo, facilitando o entendimento e o encontro com todos os stakeholders. A comunicação posta ao serviço dos assuntos públicos pode contribuir, em última instância, para simplificar e agilizar o processo de tomada de decisões políticas com impacto direto nos resultados da empresa. A isto se chama influência.
Account manager da Divisão Corporate & Public Affairs da Inforpress
JOÃO DUARTE 21/08/2014 - 02:47
Público
A economia portuguesa e os seus principais atores – as empresas – vivem tempos desafiantes. A grave crise financeira de 2011, que originou o pedido de resgate internacional, rapidamente evoluiu para uma recessão económica com fortes efeitos sociais, nomeadamente ao nível do desemprego.
As crises, no entanto, têm sempre um lado positivo. Pressionadas pela sobrevivência, na maioria dos casos, ou para manter os mesmos níveis de resultados, para uma minoria, as organizações são motivadas a encontrar alternativas para o seu negócio. Não só em termos de mercado – com a quebra do consumo interno, as empresas foram forçadas a identificar procura externa para colocar os seus produtos ou serviços – como de interlocutores estratégicos para a sua atividade. Neste ponto, a nova realidade económica e política do país levou a que alguns dos nossos empresários e gestores se deparassem com a necessidade absoluta de passar a entender e gerir adequadamente o seu posicionamento no espaço público e os atores que o compõem.
Esta situação decorre do facto de não só o universo político definir o enquadramento jurídico e regulatório no qual a empresa opera, mas, principalmente, porque determina o clima institucional, expectativas sociais, opinião pública, comportamento dos consumidores e imagem exterior do país, entre outros aspetos, que condicionam o contexto económico, comercial e social de atuação das empresas, com impacto direto nos resultados e nas possibilidades de negócio.
Nessa ótica, devemos entender o conceito de Public Affairs como a gestão da complexidade dos temas públicos, para influenciar o espaço político e institucional em defesa dos interesses legítimos das organizações. Esse trabalho requer um esforço conjunto e integrado de análise, estratégia e comunicação com o objetivo de simplificar o cenário, os players e as relações que se cruzam e coexistem no ambiente em que a organização se quer posicionar (ou reposicionar) e ganhar relevância.
O universo político é, por natureza, complexo e tende a sê-lo cada vez mais. Essa complexidade requer uma análise profunda que permita, numa primeira fase, entender o que está a acontecer e porquê e tentar antecipar o que vai surgir, no futuro, que tenha efeito na atividade de determinada organização.
Para ter influência no espaço público é imprescindível entender as lógicas e as dinâmicas do poder executivo e legislativo, saber identificar e conhecer os atores e interesses implicados em determinado assunto ou meio. Um mapa de stakeholders, por mais completo que seja, tem pouca utilidade se não contemplar uma interpretação dos objetivos, motivações e comportamentos dos elementos que o compõem.
Essa análise de intelligence é que permite antecipar contextos e criar estratégias de longa duração. Para ser influente no espaço público não basta saber mover-se nos gabinetes ministeriais, corredores da Assembleia da República ou sedes dos partidos. Se é verdade que as dinâmicas clássicas da política e os usos e costumes do poder funcionam maquinalmente, é igualmente real que as velhas formas convivem com novas lógicas e dinâmicas políticas e sociais que ainda não estão nos livros. Na era do open government, big data e ciberativismo, o poder não tem necessariamente nome, apelido e cargo e a capacidade de influência expressa-se e é exercida em múltiplos espaços e diferentes canais.
A capacidade para estabelecer relações e diálogos, gerar alianças e conseguir o melhor entendimento com todos os interlocutores que compõem o ecossistema da organização é determinante para garantir o sucesso da própria influência. Tudo isso exige uma gestão cuidadosa e eficaz da comunicação.
No âmbito dos assuntos públicos, os media não podem ser percecionados no sentido clássico da comunicação corporativa ou política. As mensagens devem ser dirigidas e adaptadas a diferentes meios e públicos e orientadas para gerar relações e diálogo, facilitando o entendimento e o encontro com todos os stakeholders. A comunicação posta ao serviço dos assuntos públicos pode contribuir, em última instância, para simplificar e agilizar o processo de tomada de decisões políticas com impacto direto nos resultados da empresa. A isto se chama influência.
Account manager da Divisão Corporate & Public Affairs da Inforpress
JOÃO DUARTE 21/08/2014 - 02:47
Público
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