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O estigma dos 3 Ps ou dos 3 Ds?
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O estigma dos 3 Ps ou dos 3 Ds?
Vive-se cada vez mais de ideias feitas, de mitos e estereótipos que são frequentemente usados para definir e limitar pessoas ou grupo de pessoas na sociedade, sendo grandes causadores de preconceito, discriminação e estigmas.
O estigma social de um pobre e/ou desempregado em Portugal é quase insuportável, reflectido nuns cruéis 3 Ps: Pelintra-Pedinte-Parasita.
Este estigma advém, em grande parte, de um conjunto de falsas crenças que origina a falta de conhecimento e de compreensão. É, assim, importante contribuir para um incremento do conhecimento, desmistificando crenças e estereótipos e fornecendo alguns dados concretos sobre a problemática da pobreza/dos pobres e do desemprego/ dos desempregados em Portugal.
'Mitos' e estereótipos sobre pobres e/ou desempregados em Portugal
* " Ser pobre significa ser calaceiro e não querer trabalhar ."
* " Os portugueses não querem trabalhar e preferem estar no subsídio de desemprego ."
* " Quem recebe Rendimento Social de Inserção (RSI) é porque não quer trabalhar e anda a viver à nossa custa ."
Factos que refutam, em parte, os 'mitos'/estereótipos acima referidos
* Cerca de 1/3 da população portuguesa encontrava-se, em 2013, em risco de pobreza ou exclusão, incluindo-se aqui empregados, desempregados, crianças, idosos e outros inativos (Fonte: Inquérito às Condições de Vida e Rendimento EU-SILC - INE , 24 de março de 2014).
* Quase 6 em cada 10 desempregados não recebiam (em maio de 2014) qualquer apoio ao desemprego (que inclui: subsídio de desemprego, subsídio social de desemprego inicial, subsídio social de desemprego subsequente e prolongamento do subsídio social de desemprego) (Fonte: Segurança Social , 30 de junho de 2014).
* Menos de 225 mil pessoas recebiam, em maio de 2014, o RSI (em 2010, o número ascendia aos 400 mil beneficiários), sendo na sua vasta maioria não empregáveis (i.e., crianças, idosos, pessoas com deficiência física ou do foro psicológico). O valor do benefício médio por família não ia além de metade da linha de pobreza: cerca de 210 euros por mês (Fonte: Segurança Social , 30 de junho de 2014).
* Em Portugal, a maior parte dos benefícios em dinheiro (transferências do Estado) vai para os grupos com maiores rendimentos - os 30% com maior rendimento recebem mais transferências em dinheiro do que os 30% com menor rendimento. Pior (entre os países da OCDE) só mesmo a Turquia e o México (Fonte: OCDE , março de 2014).
Decorre do exposto que a se manter o 'estigma'/'estereótipo' sobre os pobres/desempregados portugueses, os 3Ps deveriam ser substituídos por 3Ds: Depauperados-Desesperados- Desprezados.
Admitindo que, como tudo na vida, há excepções (indivíduos que realmente têm preferência pelo ócio, cometem fraudes no acesso ao RSI, etc.), entendo que colocar rótulos e seguir raciocínios tipo 'tamanho único' ("Se está escrito 'Tamanho único', é porque não serve em ninguém"), é ser-se demasiado simplista e incorrer no chamado " essencialismo de classe social ": quando achamos que nos estamos a sair bem, tendemos a pensar que o sucesso acabará por chegar àqueles que o merecem; e, portanto, se não chega aos que pertencem a uma classe social 'mais baixa', é porque eles não o merecem. Logo, "os pobres são pobres porque não merecem ser ricos...".
A realidade, no entanto, não é preta e branca, tem muitas zonas cinzentas... Muitos dos 'novos-ricos' dos anos noventa do século passado são hoje 'novos-pobres'. Após a crise de 2008 assistimos à emergência desta 'nova classe': pessoas qualificadas e habituadas a um nível de vida confortável, que perderam poder de compra e empobreceram repentinamente devido, entre outros, à crise, precariedade laboral, endividamento, divórcio e/ou desemprego.
Não se trata aqui de ...
... ser de esquerda ou de direita. Trata-se de reconhecer um problema social complexo que exige conhecimento aprofundado e o envolvimento direto e participado dos técnicos e organizações, que no dia-a-dia lidam com estes dramas humanos, na conceção e implementação de políticas adequadas.
Não se trata aqui de ...
... de promover uma sociedade e/ou indivíduos subsídio-dependentes (certamente temos outras áreas da economia portuguesa em que esta subsídio-dependência está muito mais enraizada), mas antes de assegurar uma (re)distribuição mais equitativa e responsável das transferências do Estado, exigindo-se contrapartidas adequadas por parte dos beneficiários e vigilância ativa e eficiente por parte dos organismos da tutela.
No relatório Society at a Glance 2014 é referido que Portugal é um dos países da OCDE em que os apoios do Estado são menos generosos para as famílias mais pobres. Esta organização aconselha, assim, Portugal a analisar com muito cuidado a maneira como gasta o dinheiro nos apoios sociais, devendo, segundo esta mesma organização, ter como primeira prioridade as famílias mais desprotegidas.
Expor o 'mito' dos tempos modernos do 'pobre/desempregado que vive às custas dos contribuintes' poderá constituir um primeiro passo para um debate mais informado e sério sobre a pobreza e desemprego em Portugal.
"O Horror de ser Pobre" (Poema de Bertolt Brecht, n.1898-m.1956)
Risco c'um traço
(Um traço fino, sem azedume)
Todos os que conheço, eu mesmo incluído.
Para todos estes não me verão
Nunca mais
Olhar com azedume.
O horror de ser pobre!
Muitos gabavam-se que aguentariam, mas era ver-
-lhes as caras alguns anos depois!
Cheiros de latrina e papéis de parede podres
Atiravam abaixo homens de peitaça larga como toiros.
As couves aguadas
Destroem planos que fazem forte um povo.
Sem água de banho, solidão e tabaco
Nada há que exigir.
O desprezo do público
Arruína o espinhaço.
O pobre
Nunca está sozinho. Estão todos sempre
A espreitar-lhe p'ra o quarto. Abrem-lhe buracos
No prato da comida. Não sabe p'ra onde há-de ir.
O céu é o seu tecto, e chove-lhe lá p'ra dentro.
A Terra enxota-o. O vento
Não o conhece. A noite faz dele um aleijado. O dia
Deixa-o nu. Nada é o dinheiro que se tem. Não salva ninguém.
Mas nada ajuda
Quem dinheiro não tem."
AURORA TEIXEIRA | 4:23 Sexta feira, 22 de agosto de 2014
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