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Turistas nada acidentais
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Turistas nada acidentais
Há uma nova economia a despontar, que não foi decretada, mas também não aconteceu por acaso
Quando cheguei ao jornalismo, no fim da década de 80, já se dizia que o turismo era o futuro da economia portuguesa. Saí de lá há mais de sete anos e a conversa dominante era outra: o modelo económico tinha esgotado. Qual era a alternativa? O turismo.
A boa notícia é que estamos hoje a viver esse futuro. Nem todo o presente é adiado em Portugal. Este sector, que cresce a dois dígitos, é parte do País que funciona e não é preciso ir às estatísticas para senti-lo.
Cidades vibrantes, nunca vivi Lisboa assim, nunca vi o Porto com tanta vida. Gente de fora por todo o lado, gente bonita, de todas as idades, de muitas origens. Comércio novo, novos empresários, a cada dia abre um espaço que não existia, um conceito que ninguém tinha visto. Pelo menos por cá, porque quem procurava sofisticação tinha de "ir à Europa".
Há um velho Portugal que ainda se perde no lamento, na vertigem do fracasso. Que prefere olhar para o que fecha, o que morre de morte natural. Ou não.
Exemplo? Os taxistas estão furiosos com a afirmação de um formato de sucesso, que leva turistas a qualquer canto de Lisboa, de uma maneira mais económica e sustentável. Chamam-se tuk-tuk e andam por todas as ruas, num serviço simples mas inovador, porque mostra a cidade que não se vê a partir dos transportes públicos convencionais.
As sociedades são naturalmente duais e não há problema nisso. Nem é um exclusivo nacional, porque algo parecido aconteceu em Londres com a introdução de uma modalidade de car sharing, que deixou os pracistas londrinos em pé de vento.
O problema existe quando as regras do jogo são ditadas pelos conservadores interesses dos instalados, que negam a mudança e são naturalmente um bloqueio à transformação social e progresso económico.
Isto remete para o tema das lideranças, da sua qualidade e sobretudo independência, da perversa captura do sistema pelo statu quo - coisa que, aliás, não tem acontecido nestes anos na governação das duas principais cidades do País e, em muito, viabilizou a transformação em curso.
Mas há outra parte que empreende - e há, de facto! Existe uma classe de novos empreendedores que se afirmam, que provam, na prática e através das suas histórias concretas, que o conceito não serve só para emoldurar o discurso oficial.
O turismo. O ambiente. As cidades e o desenvolvimento. Serviços de valor acrescentado. Há uma nova economia a despontar, que não foi decretada, mas também não aconteceu por acaso.
Lembro-me, em julho de 2005 e a convite da Confederação do Turismo Português, de uma cerimónia pública que conduzi para a apresentação do melhor e mais completo trabalho sobre o turismo. Que Ernâni Lopes tinha coordenado e que, confesso, recebi com o ceticismo de outros estudos, de outros trabalhos que produziram "visões" tão estruturadas quanto inúteis.
Reinventando o Turismo em Portugal é um calhamaço de 900 e tal páginas, o produto de dois anos de trabalho de uma equipa de três dezenas de pessoas. Não foi para estudar que voltei a ele agora, mas para comparar com o que existe, dez anos depois.
Está lá tudo, como uma premonição, como se o mestre Ernâni tivesse a capacidade de ver mais à frente. E tinha. Falta apenas cumprir a economia do mar que, ainda assim, ele então apostava com as reservas de um "talvez".
Não sei se começou ali, mas a verdade é que, pela primeira vez, o turismo não era tratado como um "caso à parte" do sistema económico, o alfa e o ómega do futuro de toda a nação, a resposta a todos os nossos problemas - que, como se sabe, é a melhor maneira de não responder a coisa alguma.
A nova economia não está a nascer de uma invenção disruptiva, de tecnologias nunca antes vistas, de investimentos estruturantes que, como a Autoeuropa, revolucionam todo um sector. Aqui, a inovação é anónima, é fragmentada, é informal, é revigorada, é contagiante, é imparável, porque a criatividade se entranhou naquilo que já existia: a restauração, os alojamentos, o património, a gastronomia, os vinhos, a paisagem. A própria reabilitação urbana, uma eterna desgraça nacional, está a acontecer porque há procura externa, em escala e qualidade.
O turismo cresce na crise, cresce em todos os indicadores, cresce em todas as regiões e cresce de forma sustentada. Portugal recebe, semana após semana, distinções na imprensa internacional. Não era normal. Não é por uma extraordinária campanha de imagem no exterior. E não é só por o Magrebe estar instável e perigoso, porque nem todos estão "em alta" como Portugal está.
Isso só tem um significado: é um sector que está a fazer um trabalho extraordinário. E os grandes heróis desta história chamam-se empresários. Que começaram lá atrás, desenvolvendo estratégias empresariais consistentes, tornando-se competitivos, ganhando capacidade para internacionalizar e dando escala ao sector.
São eles que há vários anos colocam Portugal entre as 20 potências turísticas mundiais. Os empreendedores são o futuro e tornam-nos trendy e provocam a mudança. Ganhando escala, tornam-na irreversível.
O Brasil é mais empreendedor do que os Estados Unidos. As ruas de Luanda estão cheias de empreendedores, que inventam negócios inacreditáveis nas filas de trânsito. Mas isso, por si só, não chega.
Portugal está noutra divisão. Não somos empreendedores brasileiros nem angolanos. Nem temos o melhor turismo do mundo. Mas estamos entre os primeiros 20. O que não é coisa pouca. Fosse assim toda a economia e Portugal não estava com uma agenda só de cortes e sacrifícios.
Administrador da Fundação EDP
Por Sérgio Figueiredo
24/08/2014 | 01:46 | Dinheiro Vivo
Quando cheguei ao jornalismo, no fim da década de 80, já se dizia que o turismo era o futuro da economia portuguesa. Saí de lá há mais de sete anos e a conversa dominante era outra: o modelo económico tinha esgotado. Qual era a alternativa? O turismo.
A boa notícia é que estamos hoje a viver esse futuro. Nem todo o presente é adiado em Portugal. Este sector, que cresce a dois dígitos, é parte do País que funciona e não é preciso ir às estatísticas para senti-lo.
Cidades vibrantes, nunca vivi Lisboa assim, nunca vi o Porto com tanta vida. Gente de fora por todo o lado, gente bonita, de todas as idades, de muitas origens. Comércio novo, novos empresários, a cada dia abre um espaço que não existia, um conceito que ninguém tinha visto. Pelo menos por cá, porque quem procurava sofisticação tinha de "ir à Europa".
Há um velho Portugal que ainda se perde no lamento, na vertigem do fracasso. Que prefere olhar para o que fecha, o que morre de morte natural. Ou não.
Exemplo? Os taxistas estão furiosos com a afirmação de um formato de sucesso, que leva turistas a qualquer canto de Lisboa, de uma maneira mais económica e sustentável. Chamam-se tuk-tuk e andam por todas as ruas, num serviço simples mas inovador, porque mostra a cidade que não se vê a partir dos transportes públicos convencionais.
As sociedades são naturalmente duais e não há problema nisso. Nem é um exclusivo nacional, porque algo parecido aconteceu em Londres com a introdução de uma modalidade de car sharing, que deixou os pracistas londrinos em pé de vento.
O problema existe quando as regras do jogo são ditadas pelos conservadores interesses dos instalados, que negam a mudança e são naturalmente um bloqueio à transformação social e progresso económico.
Isto remete para o tema das lideranças, da sua qualidade e sobretudo independência, da perversa captura do sistema pelo statu quo - coisa que, aliás, não tem acontecido nestes anos na governação das duas principais cidades do País e, em muito, viabilizou a transformação em curso.
Mas há outra parte que empreende - e há, de facto! Existe uma classe de novos empreendedores que se afirmam, que provam, na prática e através das suas histórias concretas, que o conceito não serve só para emoldurar o discurso oficial.
O turismo. O ambiente. As cidades e o desenvolvimento. Serviços de valor acrescentado. Há uma nova economia a despontar, que não foi decretada, mas também não aconteceu por acaso.
Lembro-me, em julho de 2005 e a convite da Confederação do Turismo Português, de uma cerimónia pública que conduzi para a apresentação do melhor e mais completo trabalho sobre o turismo. Que Ernâni Lopes tinha coordenado e que, confesso, recebi com o ceticismo de outros estudos, de outros trabalhos que produziram "visões" tão estruturadas quanto inúteis.
Reinventando o Turismo em Portugal é um calhamaço de 900 e tal páginas, o produto de dois anos de trabalho de uma equipa de três dezenas de pessoas. Não foi para estudar que voltei a ele agora, mas para comparar com o que existe, dez anos depois.
Está lá tudo, como uma premonição, como se o mestre Ernâni tivesse a capacidade de ver mais à frente. E tinha. Falta apenas cumprir a economia do mar que, ainda assim, ele então apostava com as reservas de um "talvez".
Não sei se começou ali, mas a verdade é que, pela primeira vez, o turismo não era tratado como um "caso à parte" do sistema económico, o alfa e o ómega do futuro de toda a nação, a resposta a todos os nossos problemas - que, como se sabe, é a melhor maneira de não responder a coisa alguma.
A nova economia não está a nascer de uma invenção disruptiva, de tecnologias nunca antes vistas, de investimentos estruturantes que, como a Autoeuropa, revolucionam todo um sector. Aqui, a inovação é anónima, é fragmentada, é informal, é revigorada, é contagiante, é imparável, porque a criatividade se entranhou naquilo que já existia: a restauração, os alojamentos, o património, a gastronomia, os vinhos, a paisagem. A própria reabilitação urbana, uma eterna desgraça nacional, está a acontecer porque há procura externa, em escala e qualidade.
O turismo cresce na crise, cresce em todos os indicadores, cresce em todas as regiões e cresce de forma sustentada. Portugal recebe, semana após semana, distinções na imprensa internacional. Não era normal. Não é por uma extraordinária campanha de imagem no exterior. E não é só por o Magrebe estar instável e perigoso, porque nem todos estão "em alta" como Portugal está.
Isso só tem um significado: é um sector que está a fazer um trabalho extraordinário. E os grandes heróis desta história chamam-se empresários. Que começaram lá atrás, desenvolvendo estratégias empresariais consistentes, tornando-se competitivos, ganhando capacidade para internacionalizar e dando escala ao sector.
São eles que há vários anos colocam Portugal entre as 20 potências turísticas mundiais. Os empreendedores são o futuro e tornam-nos trendy e provocam a mudança. Ganhando escala, tornam-na irreversível.
O Brasil é mais empreendedor do que os Estados Unidos. As ruas de Luanda estão cheias de empreendedores, que inventam negócios inacreditáveis nas filas de trânsito. Mas isso, por si só, não chega.
Portugal está noutra divisão. Não somos empreendedores brasileiros nem angolanos. Nem temos o melhor turismo do mundo. Mas estamos entre os primeiros 20. O que não é coisa pouca. Fosse assim toda a economia e Portugal não estava com uma agenda só de cortes e sacrifícios.
Administrador da Fundação EDP
Por Sérgio Figueiredo
24/08/2014 | 01:46 | Dinheiro Vivo
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