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Investidores ignoram guerra
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Investidores ignoram guerra
É sabido que há choques políticos que provocam quedas nas bolsas, mas a experiência mais recente também mostra que a recuperação é, muitas vezes, surpreendentemente rápida.
No início do ano, fiz uma apresentação sobre "risco geopolítico" no âmbito de uma importante conferência dirigida a investidores, abordando brevemente questões como a Rússia, o Médio Oriente, o Mar do Sul da China e a zona euro. Num dos ‘coffee-breaks', em conversa com um reputado investidor de ‘private-equity', perguntei-lhe se pensava muito no risco geopolítico. "Nem por isso. Analisamos as empresas, os ‘cash-flows' e os investimentos."
Como o meu interlocutor é um multimilionário que teve a gentileza de me oferecer boleia até Madrid no seu jacto privado, seria idiota da minha parte ignorar a sua observação. Admito que a maior parte das vezes os investidores têm razão em considerar notícias de carácter político como ruído de fundo. Acontecimentos trágicos em termos humanos regra geral são irrelevantes para os investidores. A guerra na Síria, que já provocou a morte de 200 mil pessoas, decorre num contexto de crescimento nos mercados de acções.
A desconexão entre mercados e política tem sido particularmente gritante nos tempos mais recentes. Na semana passada, e apesar de a imprensa dedicar as suas páginas à guerra na Ucrânia e no Médio Oriente, e à eventual ruptura do Reino Unido, o FTSE 100 registou um máximo histórico de 14 anos e o índice americano S&P 500 fechou pela primeira vez nos 2.000 pontos. É sabido que há choques políticos que provocam quedas nas bolsas, mas a experiência mais recente também mostra que a recuperação é, muitas vezes, surpreendentemente rápida.
Há muito que a política internacional não tem um impacto que se arrasta durante anos, como aconteceu com o primeiro choque petrolífero em 1973, a guerra israelo-árabe nesse mesmo ano e a Revolução Islâmica no Irão, em 1979. Desde então, o mundo construiu-se com base na oportunidade geopolítica e não no risco geopolítico. Recordo as mudanças subsequentes ao fim do Maoismo, que conduziram a uma profunda transformação económica na China; a abertura de novos e gigantescos mercados para os investidores europeus depois da queda do Muro de Berlim; e o fim das ditaduras na América Latina na década de 1980, seguido da implementação de políticas mais favoráveis ao mercado.
Não podemos dizer que a política global não tem tido qualquer importância para os investidores nas últimas décadas. O que aconteceu foi que a mudança política, ao nível global, fez mais para criar oportunidades do que para destruí-las. As grandes mudanças globais no sentimento dos investidores nos últimos decénios decorreram da economia e não da política, designadamente o fim da bolha das ‘dotcom' em 2000, a crise financeira de 2008 e o "alívio quantitativo" nos EUA. A actual vaga de crescimento nos mercados talvez se possa explicar pelo facto de os investidores continuarem mais preocupados com a política monetária do que com as guerras em curso.
Mas face à realidade actual, seria importante que mesmo os investidores sem uma exposição directa à Rússia prestassem atenção à geopolítica. O conflito na Ucrânia pode agravar-se e alastrar com consequências imprevisíveis para a Europa. Também é possível que aquilo que está a acontecer na Rússia seja uma visão extrema de um fenómeno mais amplo: o regresso da política nacionalista. Há indícios disso em países como a China, Índia e Egipto, e inclusive França e Escócia. Normalmente, nacionalismo e investimento internacional não se dão bem. Assim sendo, é natural que, mais tarde ou mais cedo, o ressurgimento do nacionalismo venha a afectar os plutocratas nos seus jactos privados.
Gideon Rachman
00.05 h
Económico
No início do ano, fiz uma apresentação sobre "risco geopolítico" no âmbito de uma importante conferência dirigida a investidores, abordando brevemente questões como a Rússia, o Médio Oriente, o Mar do Sul da China e a zona euro. Num dos ‘coffee-breaks', em conversa com um reputado investidor de ‘private-equity', perguntei-lhe se pensava muito no risco geopolítico. "Nem por isso. Analisamos as empresas, os ‘cash-flows' e os investimentos."
Como o meu interlocutor é um multimilionário que teve a gentileza de me oferecer boleia até Madrid no seu jacto privado, seria idiota da minha parte ignorar a sua observação. Admito que a maior parte das vezes os investidores têm razão em considerar notícias de carácter político como ruído de fundo. Acontecimentos trágicos em termos humanos regra geral são irrelevantes para os investidores. A guerra na Síria, que já provocou a morte de 200 mil pessoas, decorre num contexto de crescimento nos mercados de acções.
A desconexão entre mercados e política tem sido particularmente gritante nos tempos mais recentes. Na semana passada, e apesar de a imprensa dedicar as suas páginas à guerra na Ucrânia e no Médio Oriente, e à eventual ruptura do Reino Unido, o FTSE 100 registou um máximo histórico de 14 anos e o índice americano S&P 500 fechou pela primeira vez nos 2.000 pontos. É sabido que há choques políticos que provocam quedas nas bolsas, mas a experiência mais recente também mostra que a recuperação é, muitas vezes, surpreendentemente rápida.
Há muito que a política internacional não tem um impacto que se arrasta durante anos, como aconteceu com o primeiro choque petrolífero em 1973, a guerra israelo-árabe nesse mesmo ano e a Revolução Islâmica no Irão, em 1979. Desde então, o mundo construiu-se com base na oportunidade geopolítica e não no risco geopolítico. Recordo as mudanças subsequentes ao fim do Maoismo, que conduziram a uma profunda transformação económica na China; a abertura de novos e gigantescos mercados para os investidores europeus depois da queda do Muro de Berlim; e o fim das ditaduras na América Latina na década de 1980, seguido da implementação de políticas mais favoráveis ao mercado.
Não podemos dizer que a política global não tem tido qualquer importância para os investidores nas últimas décadas. O que aconteceu foi que a mudança política, ao nível global, fez mais para criar oportunidades do que para destruí-las. As grandes mudanças globais no sentimento dos investidores nos últimos decénios decorreram da economia e não da política, designadamente o fim da bolha das ‘dotcom' em 2000, a crise financeira de 2008 e o "alívio quantitativo" nos EUA. A actual vaga de crescimento nos mercados talvez se possa explicar pelo facto de os investidores continuarem mais preocupados com a política monetária do que com as guerras em curso.
Mas face à realidade actual, seria importante que mesmo os investidores sem uma exposição directa à Rússia prestassem atenção à geopolítica. O conflito na Ucrânia pode agravar-se e alastrar com consequências imprevisíveis para a Europa. Também é possível que aquilo que está a acontecer na Rússia seja uma visão extrema de um fenómeno mais amplo: o regresso da política nacionalista. Há indícios disso em países como a China, Índia e Egipto, e inclusive França e Escócia. Normalmente, nacionalismo e investimento internacional não se dão bem. Assim sendo, é natural que, mais tarde ou mais cedo, o ressurgimento do nacionalismo venha a afectar os plutocratas nos seus jactos privados.
Gideon Rachman
00.05 h
Económico
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