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Etimologias
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Etimologias
Conhecer o mundo e os homens é, portanto, detalhar a história das palavras e a sua origem
As “Etimologias” de Santo Isidoro de Sevilha foram um best seller na sua época e ao longo de séculos, pelo menos tanto quanto o poderia ser uma obra do início do século vii. O bispo escreve, em torno de 630, um texto que pretende, prosaicamente, resumir e explicar o mundo conhecido, mas também o desconhecido, para o homem da Baixa Idade Média. O livro total, portanto.
Como o fazer? O método que escolhe é usando uma lista infinita de palavras, essas senhas de acesso ao diferente de nós, procurando estabelecer a sua origem e a sua história. Conhecer o mundo e os homens é, portanto, detalhar a história das palavras e a sua origem, verificando o seu nascimento e o seu uso. No percurso, que vai do direito à teologia, da matemática à fisiologia humana, passando pela agricultura ou pela geografia, ao longo de vinte livros, encontram-se, numa escrita escorreita, directa, vários ensinamentos que, mesmo se invalidados pela ciência dos últimos catorze séculos, continuam a ser valiosos.
Santo Isidoro, por exemplo, sobre o coração, não hesita em afirmar que, numa tradução algo livre, “no coração situa-se toda a necessidade e a origem do conhecimento. O coração está próximo dos pulmões, para que quando se inflame de ira, se tempere com o fluido dos pulmões. Tem duas artérias: a esquerda tem mais sangue, a direita mais espírito, por isso tomamos o pulso no braço direito” (livro xi, 1, 118). Parece que não é objectivamente assim, mas isso importa pouco.
Quem pode negar, olhando para dentro de si, que é no coração que vive a necessidade e a origem de tudo? Ou que, perante as inflamações da ira, bem carece aquele de ser temperado por esses fluidos amenos dos pulmões, por esse ar que se inspira e arrefece? Por outro lado, é também do conhecimento geral que a esquerda tem mais sangue e a direita mais espírito, ensinamento que, provindo das artérias no século vii, chega hoje a quase todo o lado. E sangue e espírito são ainda a base de tudo, enquanto não forem substituídos pelo empreendedorismo e pela inovação... Assim, tomar o pulso ao espírito continua a ser bastante mais útil e mais difícil que tomar o pulso ao sangue.
É por estas e por outras que, pelo menos em temas de vida e de morte, é preferível a etimologia dos clérigos medievais à Wikipédia dos homens públicos contemporâneos.
Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Escreve à terça-feira
Por Miguel Romão
publicado em 28 Out 2014 - 05:00
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