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O ano de viver corajosamente
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O ano de viver corajosamente
Tudo aponta para que 2015 seja o ano em que os povos da Europa começarão finalmente a enfrentar a sério as estruturas que os têm subjugado. Será um ano que exigirá grande coragem.
É cada vez mais provável que 2015 venha a representar um ano de viragem para o futuro da Europa. Desde que a actual crise político-económica teve início, em 2007-2008, os destinos políticos europeus, tanto à escala europeia como nacional, têm sido sempre conduzidos por partidos dos dois pólos do actual centro político: conservadores ou sociais-democratas. Acontece que estes dois pólos são praticamente indistinguíveis face às questões fundamentais que determinam esta crise. No presente contexto de encruzilhada sistémica, mais importante do que o muito que os distingue (a visão da política social, a maior ou menor prontidão para privatizar serviços públicos, as posições em matéria de direitos civis) é o muito em que convergem (a aquiescência perante o capital, designadamente financeiro, materializada na aceitação do Tratado Orçamental europeu, da arquitectura do Euro ou da intocabilidade da dívida).
Esta convergência dos dois pólos do centro político tradicional em relação às questões fundamentais que determinam a crise tem produzido grande devastação económica e social, que tem sido especialmente acentuada na periferia mas que não deixou as economias do centro intocadas. Há actualmente mais de 26 milhões de desempregados no espaço da União Europeia, dos quais 18,5 milhões na zona Euro. O desemprego jovem atinge 54% em Espanha, 50% na Grécia, 34% em Portugal. A pobreza, absoluta e relativa, tem alastrado a um ponto que julgávamos já impossível na Europa. A crise eterniza-se, sem fim à vista, enquanto os direitos dos cidadãos não param de reduzir-se.
Toda esta devastação e todo este sofrimento eram e são evitáveis. Não são o resultado de um qualquer deus ex-machina, mas de escolhas políticas.
A escolha de implementar, ao longo de anos, sucessivas rondas de "reformas estruturais" destinadas a promover a "competitividade", que mais não constituem do que uma corrida para o fundo em matéria fiscal e de regulação laboral, a qual tem deixado todos atolados no pântano da desigualdade, da precariedade, da financeirização e da escassez de recursos à disposição dos Estados.
A escolha de abdicar da autonomia cambial e monetária, confiando numa mágica convergência real que faltou ao encontro e enviou em seu lugar endividamento externo galopante e divergência.
A escolha de, em face de crises de dívida pública, salvaguardar os direitos adquiridos dos credores, penalizar os cidadãos e substituir gradualmente os credores privados por empréstimos internacionais públicos de modo a que os inevitáveis defaults, quando ocorrerem, penalizem novamente cidadãos e não instituições financeiras.
A escolha de vedar institucionalmente a possibilidade do Banco Central eliminar, por via da inflação, o endividamento privado acumulado, que constitui hoje o fardo maior que pesa sobre a economia europeia.
Não são escolhas fáceis de inverter. Mas são as questões decisivas nos dias que correm e o centro político nem sequer tenta, nem sequer quer invertê-las. No caso do pólo social-democrata, porque vive ainda na ilusão da possibilidade de uma conciliação mágica entre os interesses do capital e os interesses das pessoas. Essa conciliação foi possível durante as décadas do capitalismo relativamente regulado do pós-guerra, mas constituía um equilíbrio instável. E neste contexto de encruzilhada em que essa conciliação deixou de ser possível, a social-democracia europeia, na hora da verdade, tem dado sempre prioridade aos interesses do capital - pagando por isso o merecido preço da sua redução à irrelevância política (veja-se como estão o PASOK e o PSOE, veja-se por onde vai o PSF).
Mas não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe, como diz o ditado. Seria sempre uma questão de tempo até que esta economia política da estagnação e da subjugação começasse a ser posta em causa. Ao que tudo indica, isso poderá suceder em primeiro lugar na Grécia, com a possível eleição iminente do primeiro governo que promete começar a enfrentar seriamente estas estruturas de dominação .
São ainda muitas as barreiras que o Syriza tem pela frente : terá de vencer as eleições; terá de conseguir formar governo; terá de manter-se fiel, não obstante todas as pressões nacionais e internacionais em contrário, aos compromissos que o terão feito eleger. E depois disso terá de saber enfrentar as represálias das instâncias políticas e económicas que não estarão dispostas a assistir de braços cruzados a que seja posta em causa a ordem em que assenta a sua dominação.
Um tal governo, e o povo que o eleger, precisarão sobretudo de muita coragem - como outros, nós incluídos, mais cedo ou mais tarde precisarão também. E isso faz com que não seja certo que seja para já, como não é certo que a Grécia seja bem sucedida desde já. Mas nalgum momento, nalgum local, acontecerá. Porque a roda da história não pára e, mais cedo ou mais tarde, há sempre quem decida viver corajosamente.
Alexandre Abreu |
7:30 Quarta feira, 31 de dezembro de 2014
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